A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirma a relação entre o
consumo de açúcar e obesidade e vai divulgar, em julho, medidas que
espera que governos adotem para reduzir a incidência do problema
que já afeta 43 milhões de crianças de menos de 5 anos pelo mundo.
O que mais impressiona a entidade é que 75% dessas crianças obesas
ou fora do peso estão em países em desenvolvimento, um número que
poderá aumentar de forma exponencial até 2020. O tema promete ser
polêmico, já que nos últimos dez anos governos como o do Brasil e
outros exportadores de açúcar fizeram de tudo para frear qualquer
iniciativa da OMS em relação ao consumo de açúcar, alegando que
essa não seria a forma de lidar com a obesidade.
Em 2002, a entidade apresentou um primeiro estudo, sugerindo que
seria benéfico a redução do consumo de açúcar, principalmente para
as crianças. A recomendação era de que um limite de 10% fosse
imposto no consumo de açúcar, no total de energia consumida em
média por uma pessoa. A medida foi duramente atacada por lobbies de
empresas do setor e contou com a ajuda do governo brasileiro.
Diante da pressão, a OMS abandonou seu projeto por anos e passou a
atacar a obesidade por outras dimensões.
Agora, a OMS quer usar uma estratégia científica para fazer
avançar uma vez mais a agenda. Em dezembro de 2012, um primeiro
artigo científico foi publicado em conjunto pela OMS e pelo British
Medical Journal. A constatação foi de que existia de fato uma
correlação entre uma pessoa acima do peso, obesidade e o consumo de
açúcar daquele indivíduo. "Claro que existem outros fatores na
dieta alimentar de uma pessoa", explicou Francesco Branca, diretor
do Departamento de Nutrição da OMS. "Mas a correlação ficou clara",
disse.
Tema controvertido. O próximo passo será o de usar esse estudo
científico para justamente justificar uma série de recomendações
que serão colocadas para o debate em julho pela OMS. Segundo
Branca, as propostas vão desde retirar de escolas a venda de
refrigerantes – substituindo a bebida por água – até a elevação de
impostos sobre certos produtos considerados como tendo uma taxa de
açúcar elevada. "Isso já ocorre na Suécia e na Hungria", destacou o
especialista. Mas ele mesmo admite que o tema é "controvertido".Ele
admite que existe um "lobby" por parte de um grupo de países. Mas
insiste em apontar para a gravidade do assunto. Na quarta-feira, 5,
na apresentação de um novo informe ao lado da publicação inglesa
Lancet, a OMS deixou claro que teme que países emergentes que
estejam passando por uma fase de crescimento estão se descuidando
da questão da obesidade.
A OMS não nega a dificuldade que enfrentam países que ao mesmo
tempo contam com uma forte população de famintos e um problema cada
vez maior de obesidade. Nos países ricos, 14% da população é
considerada obesa ou fora do peso. Na América Latina e na África,
essa taxa é ainda de 7%. Mas é a expansão no número de casos que
assusta a OMS. "Em países emergentes que estão crescendo, estamos
vendo uma transformação no sistema alimentar e nos hábitos e isso
está tendo um impacto", insistiu. O que também pesa é que, entre
camadas da população com uma renda mais baixa, há uma clara opção
por alimentos com forte dose de energia, mas nem sempre adequada.
Isso também estaria criando a situação de países que ao mesmo tempo
precisam lidar com a fome e a obesidade, numa mesma sociedade.