Passando por casos pontuais como a obesidade nos EUA até
assuntos comuns ao Brasil como a dificuldade da troca de
informações frente a grande extensão territorial do País, Frederic
Goldstein falou por cerca de uma hora em São Paulo como principal
atração de um fórum internacional promovido pela Asap, Aliança para
a Saúde Populacional. A entidade, que atua com soluções para a
gestão da saúde de empresas, foi inspirada na própria Care
Continuum Alliance.
Goldstein é CEO da Care Continuum Alliance, principal entidade
mundial em gestão de saúde populacional (GSP) e que inspirou a
criação da Asap em setembro passado, a partir da preocupação de
grandes empregadores brasileiros com os índices alarmantes de
doenças crônicas no mundo corporativo.
É um dos mais reconhecidos conferencistas do segmento e já
participou de debates em câmaras legislativas de estados
norte-americanos, para mudanças na legislação sobre saúde e
assistência médica.
Mestre em Administração de Saúde pela Trinity University (San
Antonio, Texas), presidiu duas grandes provedoras de soluções de
GSP. Possui mais de 25 anos de experiência em gestão de cuidados de
saúde, exercendo papel fundamental no engajamento de stakeholders
em prol da saúde populacional.
Veja os principais trechos da palestra:
Gestão do indivíduo nas empresas
Você altera a população com uma pessoa de cada vez. Se esquecer
disso, o trabalho não vai ser feito. Sabemos que somos ocupados,
temos outras coisas a fazer na vida, então mudar esse comportamento
é a chave. Será que podemos mudar um grupo grande? Será que
conseguimos mostrar a mudança para esse grupo? Quando começamos a
etapa inicial do mecanismo de gestão, avaliamos o que acontece em
casa, que comida comem, se fazem exercícios e criamos um modelo
para integrar tudo isso. Mas conseguimos mudar? A mudança pode ser
psicológica, social, clínica, de qualidade de vida. E a partir daí
temos de ser capazes de criar uma força de trabalho mais produtiva.
Há estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) que dizem que a
saúde do funcionário deva estar no ativo, porque uma empresa mais
saudável deve ter um valor mais alto no mercado financeiro. O
debate é esse nos EUA.
A importância da gestão de saúde populacional
O custo médico representa 30% do que uma empresa gasta com
saúde, enquanto os outros 70% estão na perda de produtividade, já
que os empregados trabalham pior, faltam no serviço, vão trabalhar
e não aguentam o dia completo. Uma empresa fez um estudo que viu
que perdeu oito dias por ano por conta de problemas de saúde e que
isso representou uma perda de US$ 18 milhões no período, então ela
quer implementar programas para ter uma empresa mais lucrativa. Nos
EUA, cada vez mais as empresas aceitam isso, de que o bem estar
funciona e precisa estar colocado na rotina dos funcionários. Nas
empresas pequenas você tende a ter programas menos desenvolvidos,
enquanto as maiores têm gestão populacional completa.
O custo individual
Nosso problema é o ônus das doenças, que é o que leva a gestão a
custos cada vez mais altos. Temos 133 milhões de americanos com
doenças crônicas e gastamos 75% do nosso orçamento de saúde com
eles. A obesidade, por exemplo, é responsável por 27% do aumento de
custo; outros 79 milhões de americanos têm um estado de
pré-diabetes, sendo que menos de 10% sabem. Pegando esse exemplo,
eu lembro que meu avô tinha diabete tipo 2 e agora temos crianças
de 10 anos com isso, imagine o custo da vida desse indivíduo? E vai
sobrar para o empregador, já que quando essa criança chegar aos 21
anos e for trabalhar, vai ser problemático para o contratador. E
não podemos culpar os nossos pais, não é genético, isso é estilo de
vida. Olha, 51% do fator de mortalidade é estilo de vida, e temos
de ajudar essas pessoas a ter uma vida mais saudável. Sabemos que
80% das doenças cardíacas assim como 40% dos cânceres são
preveníveis se pararmos de fumar, se passarmos a comer direito e se
fizermos exercício físico. Se é difícil mudar o comportamento e o
que as pessoas estão fazendo, pelo menos é uma boa notícia sabermos
que, com mudanças de rotina, podemos alterar o cenário.
Recompensas
Se queremos recompensar as pessoas devemos recompensar os
saudáveis por permanecerem saudáveis também. Porque assim terá de
ser uma avaliação constante, já que no começo de um programa todo
mundo entra na academia em janeiro e quando chega março está apenas
pagando, sem frequentar.
Resultados
A questão que deve ser reconhecida é que para ver os resultados
você precisa focar não só nos resultados sobre os doentes, mas sim
os que engajam os indivíduos. Temos uma pesquisa nos EUA que mostra
que o programa pode ser fantástico, mas só 15% das pessoas o
atendem; então às vezes você tem um programa mais amplo que atende
60% das pessoas e pode te dar resultados também.
Tecnologias
As crianças hoje não respondem mais ao telefone, mas mandam
torpedo, e isso está mudando o comportamento das pessoas. Elas
olham para o celular 50 vezes por dia, então isso muda o
comportamento no consumo. É preciso entender como aplicar a mudança
para outras indústrias. Portanto, precisamos de sistemas novos,
olhar fora do sistema. Estamos atrasados em ver como compartilhamos
os cadastros clínicos, por exemplo, e precisamos ser mais atentos
às tecnologias inovadoras. Temos também de usar melhor nosso tempo.
O que eu vejo de bom são os pequenos tempos livres que temos
durante o dia. Se você receber no celular a notícia que a glicose
do seu sangue está alta e o que você pode ou não comer, de repente
você vê a mensagem na fila do supermercado e já toma uma
atitude.
Rotatividade
A empresa poderia pensar: por que vou investir nesse empregado
se mais tarde ele vai sair daqui? Temos de ter uma mudança na
sociedade de dar valor à saúde de todos porque estamos no mesmo
barco. Não importa no final do dia se ele sai da empresa ou não.
Mas a empresa tem de fazer isso apostando que o empregado é um
ativo importante e que companhias como essas atraem novos
funcionários porque eles querem estar em lugares como esse. Eu
escutei isso de uma montadora de carros: colocaram uma planta num
lugar e depois de dois anos falaram que se soubessem dos problemas
de saúde naquele lugar, não teriam colocado a fábrica lá. Então, se
você pode criar um lugar legal para trabalhar, mais fábricas vão
chegar ali.
Obesidade
É incrível, mas não há nenhum estado que tenha menos de 20% de
obesos, com alguns batendo 35% até. [Mostra uma foto de um homem
dentro de um carro e um cachorro acompanhando o veículo] Essa
pessoa está levando o cachorro para passear de carro, aí você já
pensa que ela é preguiçosa, que ela não tem ideia do que é saúde,
mas você vê calçadas nesta via? Não tem calçada! Será que há um
local para caminhar adequadamente com segurança? Então há outras
coisas que temos de considerar e isso vai além da abordagem médica.
Ainda sobre a obesidade eu escutei falar de empresas que estão
dizendo que vão ficar de olho nas condições de quem vão contratar.
Não sei direito o que pode ser feito porque é contra lei [não
contratar alguém por estar fora do peso]. Em relação aos programas
temos grupos de caminhada e cantinas que estão mudando a
alimentação. Há também empresas que estão evitando que os
funcionários fiquem sentados. Há estudos que dizem que passar o dia
todo sentado é pior que fumar, então estão fazendo com que você
saia do escritório.
Fumantes
Temos tido uma mudança cultural na sociedade em relação a isso.
Já é proibido nos locais de trabalho e às vezes até fora dos
prédios também. Já estamos tendo hospitais nos EUA que não
contratam mais fumantes.
Exemplo dos EUA
A pessoa paga US$ 100 por mês para o provedor e ele tem de
gerenciar isso. O que nós queremos garantir é que as rodagens de
pagamento sejam estabelecidas e incluam a saúde populacional.
Também estamos interessados no papel e no valor para tecnologia
para a saúde: quando a nova tecnologia de informação chega, quando
o telefone móvel domina o mundo, quando mais pessoas no mundo têm
acesso ao telefone celular que à água corrente ou à escova de
dentes. Vamos então nos comunicar com essa tecnologia ligados à
nuvem. Queremos agregar o valor do bem estar para a gestão de saúde
populacional.
Pefil das populações nos EUA
Um balanço de 2012 da Employer Health Benefits Survey mostrou
que 77% das empresas nos EUA oferecem gestão do estilo de vida aos
funcionários, 76% oferecem vacinas, 55% promovem programas com
exercícios físicos, 44% têm serviços de enfermagem e 21% estão
trabalhando em cima de uma alimentação saudável. Existem um grande
movimento nos EUA para que as empresas tirem aquelas máquinas de
fast food das companhias. Temos um exemplo de uma empresa que
colocou um prato com hambúrguer e batata frita por US$ 10 enquanto
as saladas custam apenas US$ 1. Já é um incentivo.
Dimensões do País
Assim como no Brasil, os Estados Unidos têm de apresentar
exemplos de como resolver os problemas de tamanho geográfico. Na
cidade você tem vários hospitais que atraem pessoas, mas tem gente
em comunidades muito distantes que não chegam aos hospitais. Nos
EUA já temos uma telemedicina avançada com a capacidade de ter o
resultado no laboratório sobre exames feitos à distância. Acredito
que vamos ter essas respostas com a base sólida de um sistema
telemédico. Se você tenta alavancar isso para melhorar a saúde do
indivíduo não precisa que os médicos estejam necessariamente
presentes. Os smartphones são fantásticos e você pode fazer muita
coisa com eles, como os programas na Ásia e na África que já
funcionam com torpedos e você pode resolve as coisas à
distância.
Inclusão
Com a reforma da saúde veremos 30 milhões de pessoas de baixa
renda que não tinham seguro médico entrar nesta gestão pelo
governo. Nós então ajudamos as empresas a gerar pesquisa e dar
valor aos programas, ver se funcionou, provar que você pode ver
mudanças, e reunir grupos para discutir a gestão como hoje.
A Care Continuum Alliance
É a única organização do setor de saúde populacional dos Estados
Unidos, e nosso principal enfoque é na pesquisa, defendendo a
disseminação de informação. Queremos garantir que vamos explicar às
empresas e aos governos o valor da saúde populacional. Todo mundo
está falando disso nos Estados Unidos, nem sempre da mesma maneira,
claro, mas muita gente vê isso como a solução para a crise que
enfrentamos. Avaliamos desde indivíduos saudáveis até complexos, e
isso não pode ser apenas uma gestão de doenças crônicas. Nossos
membros são de várias áreas: planos de saúde, gestão, tecnologia,
consultores, intermediários e até grupos internacionais como a
Asap.