Especialistas de saúde e das áreas jurídica e social pedem maior
participação da União como o principal recurso para diminuir os
problemas da saúde pública brasileira. “Há pouco investimento no
setor. O aumento da participação do PIB no Sistema Único de Saúde
(SUS) pode melhorar pelo menos um pouco a situação da saúde no
País. Hoje, ela responde por 3,8%, quando 4,5% resolveriam alguns
problemas. Isso ainda não é o ideal, mas nos aproximaria de países
como Costa Rica e Argentina”, disse o presidente do sindicato e
diretor da Federação Nacional dos Médicos, José Erivaldo de
Oliveira, durante o evento sobre direito à saúde realizado na sede
da FecomercioSP, nesta última segunda-feira (14).
O aumento dos investimentos no SUS também está presente no projeto
de iniciativa popular Saúde + 10, em tramitação na Câmara dos
Deputados, que prevê destinação de 10% da receita bruta da União na
área da saúde. Isso injetaria R$ 40 bilhões por ano a mais no
setor. Atualmente, a União investe R$ 90 bilhões/ano em saúde. A
proposta do aumento no repasse de verba não está prevista no plano
Mais Médicos, implantado pelo governo para melhor distribuições de
médicos no país. O projeto Saúde +10 deve ser votado na câmara até
o fim de outubro, em medida de urgência.
“Hoje, o Brasil possui metas mínimas de investimentos (municipais e
estaduais) destinadas à saúde. Cabe aos municípios investir pelo
menos 15% de suas receitas e os Estados, ao menos 12%. Mas a União
não segue essa regra. Contribui com o total investido no ano
anterior acrescido da variação do PIB”, disse, em comunicado, o
vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems), José Fernando Casquel Monti. Dados da entidade
revelam que entre os anos de 1992 e 2005 houve aumento na
participação dos municípios no investimento no SUS e nos sistemas
estaduais, mas isso surtiu pouco efeito porque a participação
federal diminuiu nesse período.
Para o presidente do Hospital Albert Eintein, Claudio Luiz
Lottenberg, o problema de saúde pública no Brasil não está ligado
apenas no valor investido, mas também no direcionamento desse
investimento. “Gastamos cerca de US$ 1.043 per capta no setor. Esse
valor não é muito inferior ao que investem os países europeus, hoje
na casa de US$ 3 mil. Mas aqui, em sua maior parte, o valor é
destinado ao tratamento de doenças e não na prevenção”,
afirmou.
O presidente da Academia Internacional de Direito e Economia
(AIDE), Paulo Rabello de Castro, salientou que por volta de 25% do
valor investido é encaminhado para tratamentos terminais. “Estamos
gastando na hora errada, quando a prevenção já não é mais
possível”, salientou. “O brasileiro ainda tem um visão de saúde por
caridade. A população não tem noção que já pagou o atendimento, por
meio de impostos. Precisamos de um sistema único de fiscalização do
sistema público de saúde, para que o direito a ela não só seja
realizado, mas com a qualidade necessária”, afirmou Rabello.
Seminário “Saúde: direito do cidadão ou doença do Estado?” é
realizado ,entre os dias 14 e 15 de outubro, pela AIDE e o Comitê
da Saúde do Conselho Superior de Direito da Federação do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo
(FecomercioSP).