Evento realizado pela
Associação Comercial do Rio de Janeiro reuniu especialistas do
setor
Afinal, qual é a saúde que podemos
ter? Foi essa questão que abriu as discussões do seminário ‘A Saúde
que podemos ter’ realizado pela Associação Comercial do Rio de
Janeiro, nesta segunda-feira (29/8). O evento reuniu dezenas de
especialistas e empresários do setor para debater o contexto da
saúde no Brasil, suas urgências e como melhorar esse cenário.
Para responder a pergunta, Solange
Beatriz Mendes, presidente da Federação Nacional de Saúde
Suplementar (FenaSaúde), se utilizou dos números do setor, destacou
que a saúde suplementar deve ter qualidade e promover segurança e
conforto, e, ainda, ressaltou que deve caber no orçamento das
empresas e dos cidadãos: “Somente no primeiro semestre de 2016, as
despesas assistenciais chegaram a R$ 50 bilhões. Pagamos 1,2 bilhão
de procedimentos ao ano. Esses gastos devem ser claros e
previsíveis. Hoje, vivemos uma total ausência dessa
previsibilidade”.
Na avaliação da presidente da
FenaSaúde, o foco precisa ser no combate aos desperdícios: “Por
exemplo, um stent coronariano pode variar de R$ 4 mil a R$ 22 mil.
São enormes desperdícios também na utilização de exames, como de
ressonância magnética. No Brasil, a taxa de utilização desse
procedimento está em 102 por 1000 pessoas, enquanto que a
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
estima esse número em 50”.
Solange Beatriz Mendes também
participou do debate sobre os dilemas e paradoxos da saúde
suplementar no Brasil, no qual defendeu que, no setor, o acesso ao
tratamento deve ser de modo a garantir presteza, segurança e
qualidade, além de evitar desperdícios. “É preciso conter o avanço
descontrolado dos custos, pois não permite que a renda dos
brasileiros arque com a saúde desejada”, explica.
De acordo com a executiva, é
necessário trazer o consumidor para a discussão: “Acredito que os
beneficiários precisam entender o valor da saúde, não só o valor
para a prevenção, mas também o custo dessa saúde”. No decorrer do
debate, a presidente da FenaSaúde foi questionada sobre a
viabilização de recursos para a saúde suplementar. Nesse momento,
Solange Beatriz afirmou que é preciso colocar em prática um plano
indutor de políticas do setor; defendeu flexibilidade na regulação;
alertou que a maioria das operadoras já registrou bem mais que 80%
de sinistralidade; e falou sobre hierarquização com direcionamento
à atenção primária.
Mesa-redonda
– Também presente no seminário, José Cechin,
diretor-executivo da FenaSaúde, participou do painel sobre
‘Fundamentos da saúde brasileira e suas consequências – com foco na
integralidade’ e abordou o ‘Financiamento da saúde brasileira e
suas consequências’. Na mesma linha de argumentação da presidente,
o diretor da Federação reforçou questões que aceleram os custos na
saúde suplementar, entre os quais, os preços dos dispositivos. “Há
itens cujos os preços aumentaram mais de dez vezes em relação ao
IPCA. Essa disparidade é um sintoma de que não há concorrência
nesse mercado distribuidor.”, afirma.
Cechin também alertou sobre a
dificuldade de a Lei Orçamentária Anual manter a dotação para a
saúde em termos reais diante do atual cenário econômico das
restrições fiscais. “Isso porque, sem reformas profundas, o número
de beneficiários da Previdência cresce a mais de 3,5% ao ano e,
portanto também a despesa.”
Os principais agentes da cadeia
produtora de saúde, seja no âmbito privado ou público, participaram
dos debates. Nomes como: José Carlos Abrahão, presidente da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Floretino Cardoso, presidente
da Associação Médica Brasileira (AMB); Paulo Chapchap,
diretor-presidente do Hospital Sírio Libanês; Fernando Boigues,
presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Casas de Saúde do
Município do Rio de Janeiro (SINDHRIO); e Luis Teixeira, secretário
estadual de Saúde (RJ), entre outros representantes de diversas
entidades.
O presidente da Associação
Comercial do Rio de Janeiro, Paulo Manoel Protasio, se comprometeu
a disseminar os temas debatidos durante o seminário, com mais de
duas mil associações comerciais espalhadas pelo país. “Os
empresários brasileiros são responsáveis pelo pagamento de 80% dos
planos de saúde, que são os planos empresariais. Informar é muito
importante para combater a elevação dos custos”, resume.