A crise
financeira que assolou o país resultou em desemprego e a perda do
convênio médico foi uma das consequências
Edilson de Souza teve que cancelar
o convênio médico. Dados da ANS apontam que, entre dezembro de 2014
e junho de 2016, cerca de 2 milhões de pessoas deixaram de ser
beneficiárias de planos de saúde (LAILSON SANTOS/VEJA)
O produtor de eventos Edilson de
Souza, de 48 anos, teve plano de saúde a vida inteira. Sua renda
mensal permitia que desembolsasse 680 reais por mês para ter acesso
garantido a médicos, exames, pronto-socorros e hospitais. Para ele,
o cuidado com a saúde sempre foi uma prioridade. Edilson também não
escapou das consequências da crise. Nos últimos meses, viu o número
de trabalhos diminuir. Como é profissional autônomo, ficou sem
emprego e teve que cancelar o plano para pagar dívidas acumuladas.
Ficou doente e, sem outra alternativa, teve que recorrer
ao SUS (Sistema Único de Saúde). O atendimento, apesar de bom,
segundo ele, foi demorado. Marcou uma consulta em fevereiro e só
viu o médico em setembro. “Agora, as coisas estão se
recuperando, mas ainda não pretendo voltar a ter plano. O valor é
muito alto”, diz. A saúde pública e particular vive um momento de
turbulências.
Dados da ANS apontam que, entre
dezembro de 2014 e junho de 2016, cerca de 2 milhões de pessoas
deixaram de ser beneficiárias de planos de saúde. A crise
financeira que assolou o país resultou em desemprego e, como
consequência, a perda do convênio médico. “Nos últimos dez anos, o
setor teve grande ascensão. De repente, um declínio violento.
Estamos vivendo a maior inadimplência da história, que dobrou nos
últimos seis meses”, diz Pedro Ramos, diretor da Associação
Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
No fim de julho deste ano, o
ministro da saúde Ricardo Barros defendeu publicamente a
controversa ideia de um plano de saúde com preços populares para
equilibrar o acesso, melhorar o financiamento e diminuir a fila do
SUS. Barros criou um grupo de trabalho para discutir e elaborar a
proposta, que deverá ser apresentada no início de outubro. Na
prática, o objetivo é flexibilizar as atuais regras da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula o setor,
para que sejam oferecidos convênios que tenham cobertura menor e,
portanto, mais baratos. A crítica de alguns especialistas é que o
plano poderia dar uma falsa ideia de proteção aos usuários, uma vez
que a lista mínima obrigatória de serviços e procedimentos seria
reduzida. O projeto ainda está em discussão.
Ficar sem o plano de saúde é um dos
maiores temores da classe média atualmente. Pesquisa realizada no
ano passado mostrou que os planos de saúde foram apontados como o
terceiro maior desejo dos brasileiros, perdendo apenas para
educação e casa própria. Outro levantamento mostrou que a saúde é
considerada o principal problema da população brasileira. Tanto que
o tema é um dos mais tratados nas campanhas dos candidatos à
prefeitura ao redor do país. João Dória, candidato à prefeitura de
São Paulo, por exemplo, chegou a propor que, se eleito, a
prefeitura faria convênios com hospitais privados para utilizar sua
estrutura durante a madrugada, quando equipamentos de exames e
ambulatórios ficam ociosos. O “Corujão da Saúde” seria apenas um
projeto emergencial para reduzir filas, segundo o candidato.
Alternativas
Enquanto a saúde e a política
tentam encontrar soluções, crescem alternativas do setor privado
que oferecem serviços de atenção básica, como exames e consultas, a
preços acessíveis e com qualidade de atendimento particular. A
startup Consulta do Bem é exemplo disso. A empresa, fundada por
dois médicos e um economista, criou um sistema para cadastrar
médicos que aceitem disponibilizar seu horário ocioso a um preço
mais baixo. Alguém que liga diretamente marcar uma consulta com um
ginecologista em um bairro nobre de São Paulo, por exemplo, teria
que desembolsar 350 reais. Se fizer pelo site da empresa, a mesma
consulta, com o mesmo profissional, custa 80 reais. São mais de 1
000 clínicas e mais de 2 500 médicos cadastrados no serviço. “Nos
últimos meses, 23% dos que agendaram consulta estão usando o
serviço porque perderam o plano de saúde e esse índice vem
crescendo gradualmente”, diz Marcus Vinícius Gimenes, médico e um
dos fundadores. Veja algumas das alternativas disponíveis no
mercado abaixo.
Embora as possibilidades ofereçam
uma saída para aqueles que estão sem convênio, há ainda um gargalo
preocupante: os hospitais. Diz David Uip, secretário de Saúde do
Estado de São Paulo: “O problema é que através dos planos simples
ou de consultas populares, você aumenta o número de diagnósticos.
Quanto mais diagnósticos são feitos – o que é bom -, é
imprescindível aumentar a estrutura dos hospitais públicos para
atender essa demanda de novas pessoas que buscam tratamento”.
Ou seja, apenas parte do problema tem solução.