Empresa aponta infrações da LaMia para
eximir-se de responsabilidade, mas oferece U$ 200 mil por vítima
mediante termo de quitação. Viúvas de jogadores criticam clube
Acabou em clima de insatisfação a
reunião entre a Chapecoense e familiares das vítimas do acidente de
29 de novembro, nesta quarta-feira, em hotel em Florianópolis. No
encontro, o clube repassou o posicionamento da resseguradora
contratada pelo voo da LaMia, que apresentou argumentos de que não
tem obrigação de pagar nenhuma indenização por conta de infrações
da companhia aérea. Ainda assim, foi feita uma proposta, não
negociável, de indenização individual e igualitária de U$ 200 mil
(R$ 620 mil) diante da assinatura de um termo de quitação de
dívida. Acordo, este, negado.
– Ninguém vai aceitar, teria de ser
uma decisão coletiva. Não vai acontecer – disse uma das viúvas
presentes.
Mesmo diante da orientação da
Chapecoense de que todos os estudos jurídicos serão realizados
buscando alternativas para uma renegociação, a oferta foi rechaçada
pelas famílias. Representantes das vítimas deixaram o local em
horários diferentes, mas a maioria não escondeu o descontentamento
com a proposta da seguradora e até mesmo com o posicionamento do
clube. – A Chapecoense que existia não existe mais. Éramos uma
família – disse Aline Machado, viúva do zagueiro Filipe Machado.
Outros familiares, que optaram pelo anonimato, questionaram o valor
oferecido pela resseguradora, que representa cerca de metade do
valor da apólice de seguro da LaMia (U$ 12,8 milhões dividido por
64 famílias): – Por que pagar U$ 200 mil e não exercer o seguro de
U$ 25 milhões? Eles querem pagar um valor que não condiz com a
cobertura
A maioria das dúvidas a respeito da
apólice e dos valores envolvidos ficaram sem respostas objetivas, o
que revoltou boa parte dos presentes. Os questionamentos no
encontro envolveram até mesmo doações que serão repassadas aos
familiares. Os advogados que representam a Chape expuseram as
justificativas apresentadas pela resseguradora em reunião em Buenos
Aires, no fim de fevereiro, para se eximir de responsabilidade. A
empresa, na ocasião, apontou uma série de infrações da LaMia para
descaracterizar o cumprimento do contrato, como as seguintes
cláusulas: proibição de voos para Colômbia e Peru por conta das
organizações criminosas Farc e Sendero Luminosa; atraso no
pagamento do prêmio do seguro; negligência; agravamento do risco
por transportar uma equipe de futebol; prática de atos ilegais.
Ainda assim, a resseguradora alegou “questões humanas” para
apresentar uma proposta não passível de negociação para que as
famílias não ficassem desamparadas. Há, entretanto, exigências,
como acordo igualitário para todos os envolvidos – o que foi
rechaçado – e assinatura de um termo de quitação.
Com as condições apresentadas, a
Chapecoense alertou aos familiares de que está atenta a todos os
prazos legais para que nenhum processo caduque e prometeu buscar
fundamentos para que cada familiar busque seus direitos com todo
suporte do clube. As opções enumeradas eram aceitar o acordo,
recusar ou que cada família busque individualmente sua demanda – o
que é uma tendência. A clube catarinense afirmou ainda que buscará
resolver administrativamente e extra-judicialmente todas as
questões envolvendo o caso, mas, paralelamente, mantém estudos das
legislações de Brasil, Bolívia e Colômbia caso seja necessário
entrar na Justiça. Até mesmo os ministérios da Defesa e das
Relações Exteriores foram acionados para colaboração.
Vice-presidente jurídico da Chape, Luiz Antônio Pallaoro esteve em
Florianópolis, mas não participou da reunião a pedido dos
familiares, incomodados com declarações recentes. O encontro na
capital catarinense durou pouco mais de três horas.