A indenização às vítimas do acidente
da Chapecoense ganhou um novo capítulo. A empresa Bisa, seguradora
contratada pela LaMia, alega em processo judicial que a apólice da
companhia aérea boliviana não estava em vigor por falta de
pagamento.
Os documentos apresentados pela
seguradora e obtidos pela emissora CNN mostram que a apólice
contratada pela LaMia estava suspensa no dia do acidente, ocorrido
em 29 de novembro em Cerro Gordo, na província colombiana de
Antioquia.
O acidente vitimou a delegação da
Chapecoense e matou ao todo 71 pessoas, entre jogadores,
integrantes da comissão técnica e jornalistas que iam cobrir a
primeira partida da final da Copa Sul-Americana -o adversário era o
Atlético Nacional.
Apenas seis pessoas sobreviveram à
tragédia: os jogadores Alan Ruschel, Neto e Jackson Follman, o
jornalista Rafael Henzel e membros da tripulação (Ximena Suárez e
Erwin Tumiri).
A Bisa apresentou uma carta enviada à
companhia aérea em fevereiro avisando sobre a suspensão da
cobertura por falta de pagamento desde outubro de 2016, um mês
antes da tragédia.
Mas mesmo que a empresa tivesse pago
em dia o seguro, contratado em abril de 2016, a Colômbia, local do
acidente da Chapecoense, não consta entre os países cobertos pela
apólice. Peru, países da África, Síria, Afeganistão e Iêmen eram os
destinos com cobertura garantida.
Ainda assim, a LaMia conseguiu
autorização para viajar para a Colômbia em ao menos oito ocasiões,
de acordo com os registros de voo.
Por contrato, o não pagamento
desobriga que a seguradora efetue a indenização.
Segundo a reportagem apurou, a
seguradora informou a advogados do clube que, ainda assim, estaria
disposta a dar um auxílio às famílias.
Em 2017, familiares das vítimas
tiveram reunião com representantes da seguradora em
Florianópolis.
De acordo com os parentes das vítimas,
foi oferecido um acordo de cerca de US$ 200 mil (R$ 640 mil) para
que o processo fosse encerrado -quantia que foi rejeitada pelos
advogados das famílias.
Ao menos cinco viúvas de jogadores da
Chapecoense -Gil, Gimenez, Ananias, Canela e Bruno Rangel-
acionaram em fevereiro o clube na Justiça cobrando revisão nas
indenizações pagas.
Pediram que também fossem incluídos na
conta direito de imagem e remuneração com base na média de duração
da carreira de um atleta de futebol profissional, entre outras
reivindicações.
A primeira audiência das viúvas dos
jogadores foi realizada na última segunda-feira (22), em Chapecó, e
os processos correrão de agora em diante em segredo de Justiça.
A CBF também tinha um seguro para
jogadores de clubes de suas divisões, e indenizou as famílias dos
atletas mortos na Colômbia.
irregularidades
A reportagem apurou que a seguradora
também apontou outras questões para não distribuir a indenização,
como pane seca da aeronave e um suposto excesso de peso.
Todas essas constatações de perícia
infringem cláusulas de contrato e desobrigam o pagamento do
seguro.
“O que vejo nesta caso é uma dupla
omissão, por parte das autoridades de onde o voo saiu [Bolívia] e
por parte das autoridades onde o voo chegaria [Colômbia]. Então, se
houve um acidente, estes familiares podem pedir [indenização] aos
países”, disse à CNN Fredy Gutierrez, especialista colombiano em
litígios relacionados a seguros.
Segundo as leis vigentes na Bolívia, a
Agência Nacional de Aviação Civil é responsável por verificar a
validade dos seguros e impedir que companhias aéreas sem apólices
vigentes possam operar.
“A Agência Nacional de Aviação Civil
tem, no exercício de seus poderes como máxima autoridade
aeronáutica, a atribuição de fiscalizar estas irregularidades e
inclusive suspender as atividades da companhia que não mantém
seguro em dia segundo as regras estabelecidas”, diz a legislação do
país.
“A autoridade tem a prerrogativa de
controlar voos que chegam e partem dos aeroportos nacionais com a
documentação em dia e com a cobertura do seguro para os países
inseridos nas rotas de voo.”