Contratações individuais mantêm ritmo de expansão neste ano, mesmo
após crescer 26% em 2020. Só no primeiro bimestre de 2021, o
crescimento foi de 24,9% ante o mesmo período de 2020
A pandemia trouxe à tona a
consciência de que os riscos estão próximos e por toda a parte. E
essa percepção de vulnerabilidade tem levado uma parcela
cada vez maior de brasileiros a buscar um seguro de vida. Em 2020,
as contratações individuais do produto cresceram 26,2% em termos de
prêmios pagos, em relação ao ano anterior, segundo dados da
Federação Nacional de Previdência Privada e Vida
(FenaPrevi). No primeiro bimestre de 2021, o ritmo de
crescimento se manteve com avanço de 24,9% ante o mesmo período de
2020.
O segmento de vida em grupo,
do qual fazem parte os produtos oferecidos pelas empresas aos
funcionários, também apresentou crescimento de 3,6% em prêmios
ainda que a economia tenha retraído 4,1% no ano passado.
Como se trata de benefício corporativo, a demanda está mais ligada
ao desempenho econômico do que ao comportamento individual.
Na mesma toada, outro produto
ligado aos riscos pessoais, o auxílio funeral, registrou
alta de 26,58% nos dois primeiros meses do ano em relação ao mesmo
período de 2020. Já o seguro de doenças graves/terminais, segundo a
Fenaprevi, avançou 19,14% no período.
Em termos de alcance, o
ramo auto ainda é líder no mercado como um todo, com pouco mais de
30% da frota segurada. “Mas, diante das mudanças, o seguro
de vida tem potencial para alcançar o patamar do auto”, avalia a
superintendente da área de seguro de pessoas da Brasilseg, Karina
Massimoto. No caso do produto vida, o percentual de
produtos contratados em relação ao público total alcança
15%, segundo levantamento do Ibope em conjunto com a
seguradora Prudential. A média global, conforme o
estudo, é de 32%.
Na avaliação da presidente da
Comissão de Riscos da FenaPrevi, Ana Flavia Ribeiro Ferraz, o
próprio cenário de incertezas, que vão da saúde à economia,
“aumenta a percepção da necessidade de cobertura, principalmente de
seguro de vida”. Visão semelhante é expressada pelo CEO da Icatu,
Luciano Snel. “Agora as pessoas também já começam a
perceber o seguro de vida como um investimento para o longo
prazo”, avalia. Antes da pandemia, “a previdência tinha se
tornado um produto de primeira necessidade aos brasileiros, mas
faltava vir junto o ramo de vida”.
Conforme Snel, “as pessoas
começaram a ver como a vida é frágil e quebrou-se o tabu de se
falar sobre a morte”. O sofrimento com o isolamento e a crise
sanitária fez com que “as conexões afetivas ficassem ainda mais
fortes”.
Os mais jovens, os mais
preocupados
A dirigente da Fenaprevi explica
que esse sentimento tem se mostrado mais amplo e atinge todas as
faixas etárias. “Uma tendência interessante para a indústria
é que a busca por seguros de vida tem se mostrado mais forte numa
população mais jovem.”
De acordo com Ana
Flavia, a busca por seguro de vida entre pessoas de 18 a
34 anos saltou de 7% antes da pandemia para os atuais 31%.
“É uma tendência bem importante para o setor.”
A necessidade tem sido maior do
nunca. Sob impacto da covid-19 houve um crescimento
ainda mais forte do volume de indenizações a serem pagas pelas
seguradoras comparado ao avanço das
receitas. O seguro de vida individual acusou uma alta de
43% nos sinistros em 2020 na comparação com 2019,
conforme os números da FenaPrevi, de R$ 524 milhões para R$ 749
milhões.
Já o vida em grupo teve um
aumento de 17,10% no período, saindo de R$ 5,3 bilhões para
R$ 6,2 bilhões. No agregado, os seguros de vida acumularam um
volume de indenizações de R$ 6,94 bilhões no ano passado, uma alta
de 19,45% em relação a 2019, segundo a FenaPrevi.
O aumento da demanda pelo seguro de
vida diante de uma maior conscientização das pessoas sobre a
proteção financeira aos familiares veio para ficar, na visão da
superintendente da Brasilseg. “A questão da pandemia sensibilizou a
população”, diz. “Acredito que essa maior sensibilidade [à
necessidade de proteção] vai permanecer [mesmo após a pandemia]”,
acrescenta.
Segundo Karina, a
seguradora da BB Seguridade verificou um crescimento de 21% na
procura por seguro de vida no período da pandemia. Na visão
da superintendente da Brasilseg, “as pessoas mais jovens e os
solteiros começam a olhar mais para esse tipo de cobertura, porque
percebe que a falta delas seja pela morte ou invalidez vai deixar
um vazio aos familiares que são ajudados financeiramente, como pais
e outros entes”.
O executivo-chefe de Marketing
(CMO) da MAG, Nuno David, enxerga a expansão do mercado de vida
como estrutural. De acordo com o executivo, a pandemia acelerou
tendência que tem na base a própria ampliação da classe média
brasileira nos últimos 20 anos.
O aumento da classe
média
David afirma que, nas
últimas duas décadas, a classe média do país saltou de 16 milhões
de pessoas para mais de 100 milhões, em um movimento gradual
disseminado ao longo desses 20 anos. “Isso significa que existem
famílias que garantiram patrimônio e outras que ainda estão na fase
de construção desse suporte”, diz. “Então, conforme as
pessoas conseguem ter uma residência, guardar dinheiro e montar uma
estrutura que assegure o conforto da família passam a ter novas
demandas. Nessa fase, começam a perceber a necessidade de proteger
a família.”
Para David, “a pandemia a um custo
dramático acelerou todo esse processo”. O CMO da MAG pondera que a
demanda pode ter aumentado, mas já era algo estrutural. O executivo
lembra que, em termos absolutos, o volume de prêmios
arrecadados com os seguros de pessoas, dos quais o principal é o
vida, já ultrapassou o de automóveis desde 2017. “Essa
diferença tem crescido ano a ano”, pontua o especialista.
A pandemia também acelerou outra
tendência relacionada ao produto. Os seguros de vida
atualmente vão muito além das proteções por morte e invalidez. A
maioria das grandes companhias do setor adotou o conceito de uso em
vida, ou seja, de agregar benefícios que podem ser usufruídos pelos
usuários durante a vigência da apólice.
Os serviços vão de
teleconsultas para checkup a assistência aos animais de
estimação. O seguro de vida da MAG, por exemplo,
inclui cobertura para doenças graves. Essa proteção paga uma
indenização que pode ser usada para custear parte do tratamento,
caso o usuário seja diagnosticado com Alzheimer, AVC, câncer,
infarto, insuficiência renal crônica, Parkinson, paralisia de
membros e perda da fala, da visão e da audição.
A Brasilseg oferece
telemedicina, exames para checkup e uma assistência pet, para
consultas veterinárias e funeral do animal de estimação.
Segundo a superintendente da seguradora, o plano mais
completo traz ainda a possibilidade de o usuário fazer
um mapeamento genético que pode verificar predisposições como
intolerância a lactose a doenças autoimunes.