O mercado de crédito brasileiro
vive um momento único de restrição por conta dos altos níveis de
inadimplência e elevação de spreads, impondo inúmeros
desafios para empresas em projetos de longo prazo e prejudicando a
economia do país.
É neste momento que
o seguro se
faz ainda mais pertinente, oferecendo liquidez e melhorando a
dinâmica do mercado.
O seguro de
crédito é a forma eficaz de prevenção e proteção para
empresas contra o não pagamento das vendas a prazo. Ele indeniza o
credor, caso não haja recebimento dos créditos concedidos aos
clientes.
Segundo dados
da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg),
o seguro de crédito movimentou R$ 1,863 bilhão em prêmios no ano
passado. O valor é 21,6% superior ao registrado no mesmo período do
ano anterior, no qual totalizou R$ 1,532 bilhão. Diante do cenário
macroeconômico atual, a tendência é ele crescer ainda mais neste
ano. Somente nos dois primeiros meses, foram R$ 421 milhões em
prêmios concedidos de seguro de crédito, aponta a FenSeg.
O caso da Lojas Americanas
(AMER3)
contribuiu para jogar luz sobre a importância do seguro de crédito
para as empresas se protegerem e evitarem graves prejuízos ao
caixa. O mercado de seguros estima que as apólices dos fornecedores
das varejistas totalizam entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões em risco
segurado, trazendo sinistros de proporções recordes.
Falta de
seguros
A situação acendeu o sinal de
alerta. No entanto, apesar de estar vivendo um momento de plena
expansão, o mercado de seguro de crédito ainda enfrenta uma série
de obstáculos para crescer em percentuais ainda mais elevados e
absorver a demanda crescente. Limitações operacionais, tecnológicas
e culturais impedem o desenvolvimento de soluções mais adequadas às
necessidades das empresas.
Uma delas é a falta de
diversificação de produtos e serviços oferecidos pelas seguradoras.
Em muitas situações, as opções de seguro de crédito são
padronizadas e não levam em consideração as necessidades
específicas de cada empresa, especialmente aquelas de menor porte.
O engessamento da operação reduz a capacidade de adaptação e
personalização das soluções e acaba não atendendo plenamente às
demandas dos clientes.
Outra deficiência no seguro de
crédito é a baixa utilização de tecnologias avançadas no
desenvolvimento de produtos e serviços. A transformação digital
impulsionou a inovação em diversos setores. Contudo, neste mercado
ainda há uma lacuna na adoção de análise de dados, inteligência
artificial e automação de processos. A ausência de uma cultura de
inovação faz com que muitas empresas optem por seguir modelos
tradicionais de negócios, em vez de experimentar novas abordagens e
soluções.
Além disso, a falta de concorrência
e de apoio a novos entrantes no mercado de seguro de crédito limita
a oferta e o investimento. Isto é, a concentração em poucas
seguradoras e a escassez de incentivos governamentais para a
entrada de novos players tornam o ambiente menos competitivo e
inovador.
Há ainda elevada complexidade e
burocracia do ambiente regulatório do mercado de seguro de crédito
no país. A regulamentação excessiva e a falta de clareza em algumas
normas criam barreiras para o lançamento de novos produtos e
serviços. Diante desse contexto, as seguradoras são reticentes em
desenvolver soluções flexíveis e adaptadas às demandas dos
clientes.
Por fim, a falta de informação e de
educação sobre o mercado de seguro de crédito também impede o
avanço do setor. Muitas empresas ainda desconhecem os benefícios e
as possibilidades oferecidas pelo seguro de crédito.
Não há dúvidas que o seguro de
crédito é um dos principais instrumentos na proteção contra o risco
de inadimplência às empresas que produzem e comercializam bens a
prazo. O caso Americanas demonstrou a importância das empresas de
todos os portes terem uma segurança para imprevistos no fluxo de
caixa. O mercado é extremamente promissor e tem muito espaço para
crescer, desde que as seguradoras entendam a importância de
investir na modernização, inovação e diversificação de
produtos.
Heverton
Peixoto é graduado em Engenharia Civil com MBA em
Corporate Finance no Insead, França. Possui experiência relevante
de mais de 15 anos em diferentes indústrias e segmentos, tendo
atuado por 4 anos como Diretor Executivo da Wiz Corporate e 1 ano
como Diretor de Transformação Digital da Wiz. Foi também consultor
da Mckinsey & Company de 2008 a 2013, participando ativamente de
projetos estratégicos no mercado bancário e de seguros da América
Latina. Heverton Peixoto iniciou sua carreira na Rede Esho/Grupo
Amil, com relevante experiência na indústria de seguros e saúde
suplementar. Foi CEO da Wiz entre 2018 e o início de 2023.