Gastos triplicam com internações de obesos
Ajuda no tratamento da diabetes, doença que atinge 12 milhões
brasileiros
O Brasil nos últimos anos vem avançando muito no respeito aos
direitos adquiridos por aqueles que contratam planos e seguros de
saúde. Segundo o médico Fábio Viegas, presidente do Instituto Fábio
Viegas - Cirurgia do Aparelho Digestivo e Obesidade, "desde que
começamos a fazer cirurgia bariátrica, nos idos dos anos 90,
assistimos progressivamente, um entendimento, por parte das fontes
pagadoras, da necessidade de fazer o tratamento cirúrgico para
pacientes com reconhecida obesidade mórbida e ou obesidade grave
com associação de doenças."
O cirurgião bariátrico lembra que as fontes pagadoras gastam
três vezes mais em internações com pacientes obesos quando
comparados a pacientes com peso dentro da normalidade. "Isso,
obviamente, foi um fator importante na trajetória desta conquista
por parte da população. Infelizmente nem sempre foi assim, os
planos e seguros de saúde, as secretarias de saúde dos três níveis
hierárquicos e a própria sociedade não estavam preparadas para a
epidemia que estamos assistindo", acrescenta.
Critérios mínimos
Viegas ressalta que no inicio, os pacientes e profissionais
encontraram muita dificuldade neste convencimento e isso só foi de
fato viabilizado a partir do momento em que o Ministério da Saúde
criou e estabeleceu os critérios mínimos para a realização deste
procedimento. "Infelizmente esses critérios já se encontram
defasados.", reclama.
Após lembrar que muito se evoluiu nos 15 anos, reconhece que "sem
parâmetros estabelecidos na época, seguimos a única diretriz
existente e que estabelecia os critérios de indicação de cirurgia
bariátrica. Esses critérios, no caso em questão, seguiam os
parâmetros raciais norte-americanos, muito diferentes dos
parâmetros brasileiros."
Peso, altura e massa
Essa relação de peso, altura e índice de massa, se seguido ao pé
da letra, não encontraria candidatos à cirurgia no Japão ou na
Índia. "E o que falar do Brasil?", indaga, por entender que "a
incidência de doenças associadas em pacientes obesos moderados é
tão grande ou maior quando comparados a obesos mórbidos norte
americanos.".
Para Viegas não houve, portanto, uma evolução da legislação a
ser seguida nas indicações da cirurgia em nosso país. "Sendo assim,
as fontes pagadoras resguardam-se a seguir e a pagar o tratamento
de uma pequena parcela da população que entram nas especificações
preconizadas pela agencia nacional de saúde. O problema é que
estamos apenas arranhando a parcela da população que teria
indicação de tratamento cirúrgico. Na carona da obesidade,
assistimos novamente o nascimento de um novo jogador neste
campeonato", ressalta.
Redução de até 80% em remédios para diabetes
Os médicos não costumam usar a palavra cura, mas pesquisas
nacionais e internacionais mostram que a cirurgia bariátrica,
também conhecida como cirurgia de redução do estômago, elimina a
necessidade de medicação para o controle do diabetes em mais de 80%
dos casos. Com o "desaparecimento" da doença, o paciente tem menos
chances de apresentar problemas cardiovasculares e outras
comorbidades associadas, como hipertensão e apnéia do sono.
O cirurgião bariátrico Fábio Viegas lembra que o diabetes - doença
que atinge 12 milhões da população brasileira - é a causa mais
comum de cegueira, amputação de membros inferiores, doença renal
com necessidade de hemodiálise e impotência sexual, por isso
precisa ser tratado de forma efetiva. "A cirurgia surge como mais
uma alternativa terapêutica e pode ser indicada quando o tratamento
convencional não surte efeito", ressalta.
Atualmente, o diabetes tipo 2 - que representa 90% de todos os
casos da doença no país - é tratado com alimentação balanceada,
prática regular de atividade física e administração de medicamentos
orais ou insulina. Segundo Fabio Viegas, o problema é que mudar o
hábito é uma tarefa muito difícil e como a doença não causa dor,
não incomoda, com isso paciente costuma negligenciar o tratamento,
causando prejuízos graves para a saúde e para o bolso.
Sobrepeso ou obesidade leve
No Brasil, a cirurgia bariátrica é aprovada para pacientes com
IMC (Índice de Massa Corporal) a partir de 35 kg/m² com doenças
associadas ou acima de 40 kg/m² sem a presença de outras
patologias. Para Fábio Viegas o IMC deve ser mais um parâmetro de
indicação para a cirurgia, mas não o único.
O critério mais importante deve ser a avaliação clínica. Segundo
Dr. Viegas, que tem mais de 20 anos de experiência em cirurgia
geral e bariátrica e que foi um dos percursores da técnica no
Brasil e no Rio de Janeiro, a cirurgia de metabólica vem para
ocupar uma lacuna que a endocrinologia não possui.
Fabio Viegas é membro titular da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica, faz parte da Comissão de Centros
de Excelência da Sociedade e vem observando os resultados da maior
pesquisa de longo prazo já realizada no mundo sobre os efeitos da
cirurgia bariátrica em diabéticos com IMC entre 30 e 35 kg/m²e.
"A pesquisa da SBCBM constatou que dos 66 pacientes submetidos à
operação, 88% se "curou" do diabetes. No restante, houve redução
gradativa das dosagens dos medicamentos. O estudo também confirmou
que tratar o diabetes é prevenir morte por doenças
cardiovasculares", afirma o médico. A pesquisa brasileira foi
publicada em 2012 na revista Diabetes Care, renomada publicação da
Associação Americana de Diabetes (ADA).
Tipo 2
Estudos recentes mostram que 98% dos pacientes obesos operados
curaram seu diabetes mellitus em até três meses. Para estar
diabético não e necessário estar obeso, portanto estima-se que
existam muito mais diabéticos do que obesos. Os trabalhos
científicos vem mostrando a cada dia os resultados benéficos da
cirurgia em diabéticos tipo 2 , magros e ou com obesidade leve. "É
inevitável à curto prazo que esses pacientes passem a reivindicar
os direitos de serem tratados com essa nova tecnologia e
conhecimento", comenta o presidente do Instituto Fábio Viegas -
Cirurgia do Aparelho Digestivo e Obesidade,
"Propositadamente ou não assistimos a uma tentativa de
desconsiderar toda e qualquer evidência científica das vantagens da
cirurgia no tratamento do diabético. O atraso em liberar para a
prática clinica e portanto tornar acessível ao paciente diabético a
cirurgia, parecem fazer parte de um grande lobby, tentativa
desesperada de diminuir o impacto desta conta nas empresas",
complementa.
"Aguardamos ansiosamente por parte do Ministério da Saúde o
estabelecimento de novos paradigmas nas indicações da cirurgia
bariátrica e a permissão para pratica clinica nos seus
estabelecimentos da cirurgia do diabetes, fato cientifico
irreversível e que vai beneficiar milhões de brasileiros. Afinal de
contas, perdoem- me o trocadilho, o diabetes não tratado fica mais
caro", conclui.