A anticoncepção de emergência, mais comumente chamada de "pílula
do dia seguinte", é bastante conhecida e usada por adolescentes do
ensino médio. Uma pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP
realizada em escolas públicas e particulares na cidade de Arujá
(Grande São Paulo) com 705 jovens, entre 15 e 19 anos, aponta que
94,2% deles já ouviram falar da pílula e 57,7% já fizeram uso deste
método contraceptivo. O estudo também constatou que a maioria das
vezes em que a pílula do dia seguinte foi usada (59,3%) foi
associada a outro método.
Formada em obstetrícia, Christiane Borges do Nascimento, autora
da pesquisa, se interessou pelo estudo dos métodos contraceptivos
na adolescência ainda em sua graduação. Segundo ela, a escolha por
esse grupo foi porque "Os adolescentes têm uma característica muito
particular. Eles têm muitas alternâncias na estabilidade
relacional", relata.
A pesquisa foi constituída de um teste sobre o conhecimento da
pílula do dia seguinte e de questões sobre seu uso entre os
entrevistados, além de um questionário socioeconômico. Sobre a
utilização, 57,7% do total de adolescentes responderam já ter
tomado o fármaco. Essa porcentagem não variou significativamente
entre os alunos de escola particular e pública, sendo a diferença
entre esses grupos menor que 1%. Este resultado, segundo
Christiane, tem duas vertentes: "tem um lado bom, porque significa
que os adolescentes estão se prevenindo de uma gravidez não
planejada mas, ao mesmo tempo, pode indicar algumas
descontinuidades contraceptivas."
De acordo com a obstetriz, os jovens não fizeram uso abusivo da
anticoncepção de emergência, já que metade deles usou o método
apenas uma vez no último ano. Na lista dos fatores que motivaram o
uso está a insegurança, em primeiro lugar, com 31,6%. O
esquecimento em relação ao uso de outro método contraceptivo ocupa
o segundo lugar, correspondendo a 27,1% das citações, enquanto
20,3% responderam que o outro recurso usado para prevenir gravidez
falhou.
Compreensão
O questionário a respeito do conhecimento da contracepção de
emergência era uma espécie de prova composta de dez afirmativas com
as alternativas "Verdadeiro", "Falso" e "Não sei". A quase
totalidade dos alunos entrevistados (94,2%) já havia ouvido falar
do fármaco. No entanto, a maioria não soube responder adequadamente
às afirmativas. Os pontos em que houve menor compreensão foi o
tempo de eficácia da pílula após a ingestão e o período após a
relação sexual até o qual ela pode ser usada.
"O nome da pílula do dia seguinte é um pouco ingrato", considera
a pesquisadora. "Às vezes a pessoa acha que só pode ser usada no
dia seguinte à relação sexual, mas não. Antes o Ministério da Saúde
preconizava que ela só poderia ser usada até 72 horas, ou seja, até
três dias após a relação sexual desprotegida", descreve Christiane,
ressaltando que "hoje já se sabe que ela pode ser utilizada até
cinco dias após a relação". Os alunos de escolas particulares
apresentaram maior número de acerto do questionário.
Durante a coleta de dados, a obstetriz aplicou oficinas nas
escolas sobre os métodos contraceptivos, dando enfoque à pílula do
dia seguinte, tanto para os alunos, quanto para os professores, que
sentiram a necessidade de conhecer mais sobre o tema para responder
aos questionamentos dos adolescentes. Na pesquisa, constatou-se que
72,6% dos jovens nunca participou de palestra na escola que
tratasse sobre a pílula.
A escola foi o segundo espaço de maior esclarecimento sobre o
assunto, mas "não porque a escola dava instruções para os
adolescentes, mas porque era um ambiente em que eles se encontravam
e trocavam informações", explica Christiane. A maior fonte de
conhecimento a respeito dela foram os amigos, totalizando
48,5%.
Em relação ao modo de obtenção da pílula do dia seguinte, 74,6%
daqueles que já haviam utilizado compraram o medicamento em
farmácias, contra apenas 6,8% que adquiriram nos postos de saúde.
Christiane comenta que muitos serviços de saúde ainda não
disponibilizam, principalmente para o adolescente. Para ela, "ainda
existe um conceito errado de que a pílula do dia seguinte é
abortiva". Além disso, a sua distribuição ainda é escassa no estado
de São Paulo, local em que foi feito o estudo.
O estudo da EE também aponta que as meninas apresentaram um
conhecimento maior sobre o fármaco, pois, segundo Christiane,
"ainda existe uma carga que a contracepção é ainda obrigação da
mulher e também pelo fato de a pílula do dia seguinte ser de uso
feminino".