A Sociedade Brasileira de Diabetes informa que cerca de 13,5
milhões de brasileiros são portadores de diabetes , sendo que 10%
desse número são afetados pelo tipo 1 da doença, também conhecida
como diabetes infanto-juvenil.
Nesse tipo específico da doença, os próprios anticorpos do
organismo atacam o pâncreas, o produtor de insulina. É um ataque
silencioso, mas quando afeta cerca de 80% do órgão, surgem os
sintomas típicos do diabetes. A ausência da produção de insulina
causa um desnivelamento da taxa de glicose no sangue – o que
caracteriza a doença.
O problema maior, explicam os especialistas, está na dificuldade
de detecção para o tratamento precoce. O teste é simples, mas os
sintomas que levam a criança ao médico podem ser facilmente
confundidos aos de uma gripe .
“Às vezes até os médicos confundem. Acham que é virose, gripe ou
gastrite, porque a doença provoca dor abdominal, cansaço. Isso
acontece quando o paciente está com o metabolismo descompensado.
Muitas vezes, infelizmente, fazemos o diagnóstico quando o diabetes
já está em estágio avançado”, diz a endocrinologista pediátrica
Denise Ludovico, pesquisadora do Centro de Pesquisa Clínica
(CPClin).
“Na maioria das vezes a pessoa não sente nada e quando os
sintomas aparecem, a doença já está instalada. Isso, porém, não
significa que complicou”, explica a médica.
A causa do diabetes tipo 1 ainda é desconhecida.
“Existem várias pesquisas que relacionam a doença com vírus, com
infecção viral anterior, com o meio ambiente, mas ainda não existe
nada realmente conclusivo”, afirma Denise.
Alguns dos sintomas apresentados são sede excessiva, fome, vontade
de urinar, cansaço e perda de peso. Foi o que experimentou a
pequena Iris, quando tinha apenas 1 ano e meio de vida.
“Ela bebia dois copos grandes de água, daqueles grandes, e fazia
muito xixi. Como ela não era habituada a beber água demais, achei
estranho e vi na internet que os sintomas eram de diabetes”, conta
Shyrlene Costa, mãe da menina.
“Achei que estava equivocada, pois minha filha ainda comia
apenas coisas saudáveis, como sopinhas. Quando contei para minha
cunhada, que é enfermeira, ela apareceu no dia seguinte lá em casa
com o kit para o teste".
Shyrlene não estava em casa quando a cunhada fez o teste e teve
o resultado positivo. Foi avisada quando a menina já estava no
hospital, onde ficou internada 8 dias para controlar a
glicemia.
Tratamento
Shyrlene usou o tempo no hospital para aprender como cuidar da
filha e lidar com a doença. Em seguida teve contato com a
Associação de Diabetes Juvenil (ADJ) e fez alguns cursos. Foi lá
que aprendeu a contar a quantidade de carboidrato das refeições, já
que eles se transformam em glicose. Com isso, ela consegue mensurar
a quantidade de insulina equivalente que deve aplicar na filha,
para neutralizar o efeito do açúcar. E a garota agora aceita o
tratamento com naturalidade.
“No início eu chorava muito, passava insegurança para ela, que
também ficava com medo. Com a orientação da psicóloga da ADJ,
aprendi a ser mais segura e a Iris também passou a ficar
tranquila”, conta.
“Não a proíbo de comer nada, mas limito a quantidade das coisas
e sempre digo: ‘você não pode comer nada escondido da mamãe’. Ela
ajuda muito, é bem consciente. Se está na hora de medir a glicemia,
ela não se opõe”.
A mãe conta que Íris, hoje com três anos, até se exibe para os
colegas na escola, na hora de medir a glicemia.
“Às vezes quero ir para o canto, mas ela faz questão de mostrar
aos amiguinhos. Às vezes quer fazer sozinha – e já sabe”, explica a
mãe.
Doença na adolescência
A jornalista Vanessa Pirollo descobriu ser diabética quanto
tinha 18 anos – o diabetes também pode surgir na adolescência.
“Já estava acordando de madrugada para ir ao banheiro havia um
tempo, tinha dores nas costas de madrugada e já tinha começado a
emagrecer e a minha visão foi ficando embaçada”, explica ela, que
descobriu a doença por acaso.
“Sem querer eu fui à nutricionista e estavam fazendo testes de
detecção de diabetes por lá. Acabei fazendo por curiosidade e deu
alteração. Fiz um exame mais detalhado e constataram que eu tinha
diabetes tipo 1”, conta.
Vanessa, que tinha acabado de entrar na faculdade de jornalismo,
ficou chocada no início.“Eu mesma tinha preconceito. Queria ser
aceita pelo grupo da faculdade e não queria dizer para os outros
que tinha diabetes, apesar de ter que carregar comigo a caneta
medidora de glicose”, conta ela.
Cerca de três meses depois do diagnóstico, o bloqueio interno
que ela mesma havia criado foi se tornando mais fraco e ela acabou
contando para as pessoas mais próximas.
“Não fiz acompanhamento psicológico e passei por momentos
complicados para aceitar a doença. Cheguei na Associação de
Diabetes Juvenil três anos depois do diagnóstico, e com isso,
muitas informações acabaram vindo e acabei aceitando melhor”, conta
a jornalista.
A endocrinologista Denise Ludovico explica que, quanto menos o
paciente contesta o diagnóstico, melhor ele consegue controlar a
doença.
“Enquanto a pessoa está em fase de negação e revolta, é complicado.
Mas é algo que pode ser encarado como natural. Depende muito de
como a família lida com o paciente. Se levam numa boa, a criança
não sente insegurança. Tenho uma paciente de quatro anos que acha
que estranho é quem não tem diabetes”.
Vanessa conta que, na época, tinha o costume de comer um docinho
depois da refeição – hábito que foi proibido pela médica.
“Hoje em dia já existe uma liberdade maior em relação à comida,
por conta da contagem de carboidratos. Sabendo a quantidade correta
de insulina a ser aplicada, posso comer um pouco de açúcar”,
explica Vanessa.
Vanessa vive uma vida normal. “O diabetes não me impede de
absolutamente nada. Há reeducação alimentar e qualidade de vida. Eu
faço atividade física, porque, além de gostar, é algo que me ajuda,
porque abaixa a glicemia” conta.
Fique alerta e procure orientação médica caso a criança ou
adolescente apresente alguns dos sinais e sintomas
abaixo:
- Aumento inexplicável da sede
- Aumento da vontade de urinar
- Voltar a fazer xixi na cama (quando a criança já não tinha
mais esse hábito)
- Perda de peso sem explicação
- Fadiga
- Alterações na visão, vista embaçada
- Irritabilidade
- Aumento da fome
- Hálito cetônico (odor frutado)
- Respiração pesada ou dificuldade para respirar