Pesquisa recente da universidade norte-americana de Georgetown
mostrou que um programa brasileiro voltado para famílias carentes
com filhos com doenças crônicas contribuiu para a redução em mais
de 90% do tempo de internação dessas crianças em hospitais públicos
no Rio.
Durante três anos, os pesquisadores acompanharam 299 famílias
carentes do Estado com crianças nessa situação, sendo que 127
haviam tido acesso ao programa desenvolvido pela ONG Associação
Saúde Criança. Foi constatado que o tempo de internação caiu de 62
para nove dias para aquelas que fizeram parte do programa. Além
disso, as crianças ficaram 11% menos propensas a cirurgias ou a
tratamentos clínicos do que as que não tiveram acesso ao programa.
Entre os casos crônicos registrados havia doenças infecciosas,
câncer, cardiopatia e anemia falciforme.
A metodologia do programa, utilizado há mais dez anos pela ONG,
inclui um plano de ação familiar de corresponsabilidade que atende
às áreas de saúde, geração de renda, moradia, educação e cidadania.
A fundadora da associação, a médica Vera Cordeiro, explicou que o
programa abrange toda a família e além de amparar a criança, ajuda
os parentes a superarem a pobreza extrema.
"Grande parte das doenças é consequência das más condições em que
vivem essas famílias. Então, como a pobreza é multidimensional, se
não atacarmos o problema de maneira multidisciplinar não diminuímos
as reinternações", comentou Vera.
A equipe do programa inclui advogados, psicólogos,
assistentes sociais, arquitetos, nutricionistas, pedagogos,
médicos, entre outros. "Muitas vezes, reformamos a casa da criança,
que era o motivo da asma, providenciamos educação para os irmãos",
exemplificou.
O parente compromete-se a comparecer mensalmente ao local de
atendimento para acompanhar o plano de ação. "Há uma série de
contrapartidas. Se a mãe parar de fazer sua parte, ela é desligada
do projeto", disse a médica, ao lembrar a geração de renda,
matrícula e frequência dos filhos na escola como contrapartidas.
"Medicina e direitos humanos devem caminhar juntos",
argumentou.
O estudo mostrou ainda que a renda das famílias atendidas pelo
programa quase dobrou e houve um aumento substancial no percentual
de adultos empregados, de 54% para 70%. O percentual de frequência
na escola passou de 10% para 92%. Os adultos das famílias que
sofreram impacto da metodologia tinham 12% mais chance de estar
empregados do que outras pessoas na mesma área geográfica, após
três anos no programa. O índice de famílias com casa própria também
aumentou, passando de 25% para 50%, além daquelas com acesso a
programas de transferência de renda.
"A pesquisa mostrou que o programa é efetivo na quebra do ciclo
vicioso de miséria, reinternação e morte", disse Vera. Segundo ela,
o objetivo da ONG, criada há 22 anos e que atua em seis Estados, é
que o programa auxilie todos os hospitais públicos do Brasil por
meio de parcerias.
Os recursos vêm da iniciativa privada e patrocinam atendimentos em
11 unidades nos estados do Rio, Rio Grande do Sul, de Pernambuco,
Goiás, São Paulo e Santa Catarina. A metodologia também é replicada
por franquias sociais em mais seis estados e foi adotada como
política pública em Belo Horizonte.