Tudo pronto
para que o 1° jogo da Copa, entre Brasil e Croácia, fique na
história da Ciência mundial
Está
chegando o esperado dia em que o mundo verá um paraplégico
brasileiro dar o primeiro pontapé do jogo de abertura da Copa do
Mundo. Os passos acontecerão por meio de envio de sinais cerebrais
do jovem para um exoesqueleto, uma espécie de roupa robótica,
desenvolvida pelo cientista Miguel Nicolelis.
O
exoesqueleto é alimentado por uma bateria, que dura em torno de
duas horas. De acordo com Nicolelis, os movimentos são suaves. “São
movimentos humanos, não os movimentos robóticos”, disse ementrevista
ao The Guardian.
Os
pés de quem usa entram em contato com placas com sensores que
detectam quando os pés tocam o solo. Com cada pisada, um sinal
dispara até um dispositivo vibratório costurado no antebraço da
camisa. O dispositivo parece enganar o cérebro em pensar que a
sensação veio de seu pé. Em simulações de realidade virtual, os
pacientes sentiram que suas pernas estavam se movendo e tocando
coisas.
Para
Nicolelis, a tecnologia vai poder finalmente substituir cadeiras de
rodas e transformar-se em dispositivos diários para ajudar
paraplégicos.
O
sistema passou por inúmeros testes de segurança e está equipado com
vários giroscópios para impedir uma possível queda. Como medida de
segurança extra, ele foi equipado com vários airbags.
Visita ao Brasil
O
trabalho impressionou o americano Francis Collins, um dos
responsáveis pelo projeto genoma humano, e diretor dos Institutos
Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), cujo orçamento é de
US$ 32 bilhões por ano, para financiar pesquisas globais
relacionadas à ciência e saúde.
O
projeto inédito do neurocientista brasileiro Nicolelis pode
contribuir para o que ele encara como o atual grande desafio da
ciência: “entender como o cérebro humano funciona”, disse Collins
durante sua primeira visita ao Brasil, agora, em maio.
Collins está à frente da chamada Brain Initiative
(Iniciativa do Cérebro), anunciada pelo presidente Barack Obama no
ano passado. Em entrevista após o encontro com Nicolelis — que
aconteceu no laboratório do neurocientista em São Paulo onde o
exoesqueleto está sendo testado —, Collins adiantou que a verba
anual da Brain Initiative vai aumentar de US$ 40 milhões para US$
100 milhões a partir de junho.
Para
Collins, a ciência sabe muito pouco sobre como milhões de neurônios
iniciam coisas complicadas como um movimento involuntário do braço;
ou processam a informação visual para que uma pessoa saiba quem
está na sala, ou mesmo recuperar esta imagem um ano
depois.
O que está na mira da
ciência?
O
estágio inicial da pesquisa do cérebro possibilitará a construção
de ferramentas como, por exemplos, eletrodos em escala nano capazes
de medir, em tempo real, a ação de vários neurônios ao mesmo tempo.
Outro investimento grande é tirar imagens do cérebro em resolução
cada vez mais alta.
Tais
pesquisas serão fundamentais para pesquisar como controlar doenças
como autismo, esquizofrenia, Alzheimer, epilepsia, depressão ou
mesmo uma lesão traumática do cérebro ou da medula.
O NIH
financia há 25 anos a pesquisa básica de Nicolelis em seu centro de
pesquisa na Universidade de Duke, nos EUA, que deu origem ao
exoesqueleto. O robô, no entanto, foi completamente financiado pelo
governo brasileiro por meio da Finep, tendo recebido R$ 33 milhões.
Oito jovens com lesão medular estão testando as máquinas, mas o
nome de quem vai dar o
chute só será conhecido no jogo de
estreia – Brasil e Croácia, nesta próxima quinta-feira (12/06), no
Itaquerão.
De
acordo com informações de O Globo, as pesquisas com neurociência
consomem cerca de US$ 5,5 bilhões por ano do orçamento do NIH.
Outros projetos, inclusive com parcerias no Brasil, envolvem
doenças infecciosas e câncer. A instituição americana trabalha
financiando pesquisas em centros como a USP e o Instituto Butatã,
em São Paulo, além do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e a
Fiocruz, no Rio de Janeiro. O Brasil está entre os 10 principais
receptores de verba do NIH; entre os principais projetos, está o de
uma vacina contra a dengue.
Falando em vacina, Collins disse que espera, nos
próximos oito anos, obter uma vacina “única e universal” contra o
vírus da gripe, “que nos atormenta há séculos”.
Com uma vacina única ninguém
precisaria tomar todo o ano uma injeção e o risco de qualquer
pandemia seria reduzido.
Deus x Ciência
Além
de pioneiro com o Projeto Genoma Humano, concluído em 2003, Collins
escreveu o best-seller “A linguagem de Deus” em que garante: Deus e
Ciência convivem muito bem.
Alvo
de críticas de seus colegas, cuja maioria nega a existência de
Deus, Collins conta em sua obra como deixou de ser ateu para se
tornar cristão aos 27 anos. “As sociedades precisam tanto da
ciência como da religião. Elas não são incompatíveis, mas
complementares”, explicou o cientista em entrevista à revista Veja,
em 2007.
“Os
cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e
negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança. Na visão desses
cientistas, hoje adquirimos tanta sabedoria a respeito da evolução
e de como a vida se formou que simplesmente não precisamos mais de
Deus. O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto
da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim
complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence
a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as
ferramentas da ciência para discutir religião é uma atitude
imprópria e equivocada. No ano passado foram lançados vários livros
de cientistas renomados, como Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris,
que atacam a religião sem nenhum propósito. É uma ofensa àqueles
que têm fé e respeitam a ciência. Em vez de blasfemarem, esses
cientistas deveriam trabalhar para elucidar os mistérios que ainda
existem. É o que nos cabe”.