A crise econômica afetou em cheio os
pequenos empreendedores e mais de um terço das pequenas empresas
que aderiram ao Simples tem pagamentos atrasados com a Receita
Federal. Das cerca de 5 milhões de empresas optantes desse sistema
tributário simplificado federal, 1,77 milhão (35,4%) não está com o
imposto em dia. Ao todo, esse grupo tem R$ 49 bilhões em impostos
atrasados.
Para tentar amenizar o quadro de
inadimplência, a Receita Federal tem convocado os maiores devedores
a renegociar. Essa repactuação foi aprovada em outubro do ano
passado em Lei e prevê parcelamento em até 120 meses. Ao mesmo
tempo, foram intimadas 577 mil pequenas empresas com as maiores
dívidas – que respondem por débitos de R$ 21 bilhões.
O coordenador de cobrança da Receita
Federal, o auditor Frederico Faber, explica que o calote nas
pequenas empresas cresceu em duas ondas recente de aumento da
inadimplência.
Primeiro, os indicadores pioraram após
2012. “Estudos técnicos mostram que esse fenômeno foi diretamente
influenciado pelo parcelamento oferecido naquele ano. Quando é
concedida chance de parcelar dívidas, o comportamento dos
contribuintes muda e a inadimplência parece ser incentivada nos
anos seguintes”, diz Faber.
A segunda onda de piora da
inadimplência veio com a crise .
“Entre 2014 e 2016, tivemos aumento
dos atrasos pela situação econômica. Em momentos de crise, muitos
optam por deixar de pagar impostos”, explica.
Com um comportamento muito semelhante
ao da pessoa física, muitos pequenos empresários (que faturam até
R$ 3,6 milhões por ano) em dificuldade preferem pagar dívidas com
juros mais altos e atrasar pagamentos que têm custo menores por
inadimplência. “É só comparar para ver que há operações muito mais
caras”, diz Faber.
Dados do Banco Central mostram que a
conta garantida – crédito de curto prazo com funcionamento
comparável ao cheque especial, por exemplo, chega a ter juro anual
de 240%. É muito mais que o atraso no Simples, que gera multa de
20% e juro que segue taxa Selic, atualmente em 13%.
Até meados de janeiro, a Receita
registrou 85,3 mil empresas que pediram parcelamento da dívida.
Esse grupo tem R$ 6,9 bilhões em impostos atrasados.
“Esperamos que a iniciativa atraia 150
mil contribuintes.
Agora, estamos no meio do prazo do
programa, que termina em 11 de março, e estamos com a metade da
meta”, diz.
Questionado sobre a baixa adesão ao
programa – já que é esperada a participação de menos de 10% das
empresas com tributos atrasados -, Faber minimiza o tema.
“Acreditamos que a maioria dessas empresas (inadimplentes) não está
mais operando no mercado. Então, é difícil aumentar essa adesão.” O
auditor nota ainda que o universo de empresas com dívida é
proporcionalmente maior que o montante financeiro devido por esses
contribuintes. Segundo Faber, os R$ 49 bilhões devidos pelas
pequenas equivalem a cerca de 10% do valor que deveria ter sido
recebido pelo Fisco nos últimos cinco anos no Simples. Assim, 35,4%
dos CNPJs devem 10% do valor que deveria ter sido recolhido.
Reenquadramento. O coordenador da
Receita cita ainda que a adesão ao programa tende a ganhar forçar
até o último dia do mês. Isso porque contribuintes inadimplentes
que repactuarem as dívidas até a data poderão permanecer no
Simples. Se a repactuação acontecer depois, a empresa será
tributada, neste ano, pelo sistema tradicional de lucro presumido
ou lucro real. “É um sistema mais complexo operacionalmente com
várias guias e declarações, além de a carga tributária ser
maior”.