Há pouco tempo, ter um plano de saúde era o terceiro maior desejo dos  brasileiros, ficando atrás somente de educação e casa própria. Agora já  é considerado o item de maior aspiração, prioridade de quem pode  contratar um serviço de atendimento ao maior bem, que é a saúde. O setor  privado de saúde no Brasil movimenta aproximadamente R$ 161 bilhões ao  ano, atendendo 47 milhões de pessoas com planos de saúde. Porém o acesso  tem se tornado cada vez mais restritivo: hoje, 70% da população  brasileira não consegue pagar plano de saúde.
As  operadoras de saúde, até mesmo as maiores, foram deixando a oferta do  plano individual porque não existia um regramento que as protegesse em  caso de uma carteira de clientes em que o volume de sinistros  (arrecadação pela utilização) pudesse ter uma alta – pelo contrário,  elas não poderiam praticar os reajustes necessários e teriam que manter a  correção da inflação, sob supervisão da ANS (Agência Nacional de  Saúde). No entanto, os planos por adesão sempre funcionaram desta  maneira, pois eles não são regidos nem sofrem interferência da ANS.  Assim, acabou-se fazendo um mercado muito maior de adesão e o plano  individual entrou em extinção.
Recentemente, o Tribunal  de Contas da União (TCU) concluiu que a ANS não tem mecanismos  eficientes para evitar aumentos abusivos nas mensalidades dos planos de  saúde e determinou que realize, em um prazo de 180 dias, um plano para  implementar mudanças que inibam reajustes abusivos.
Para  tentar resolver esta equação, e com o entendimento de que precisa atuar  para ampliar a oferta de produtos, inclusive individuais, a ANS convocou  o setor para, juntos, estudar novo modelo de reajustes anuais para os  planos de saúde individuais e familiares, em audiência pública que  acontece nesta terça-feira, 13 de novembro.
Em nota, a  agência esclarece que regula o setor de planos privados de assistência à  saúde, tanto os planos individuais quantos os coletivos, conforme  determina a Lei nº 9.656/1998. Ressalta que monitora regularmente os  percentuais aplicados aos contratos coletivos e todas as reclamações  registradas sobre reajuste são apuradas e que, além disso, obriga as  operadoras a disponibilizarem a memória do cálculo do reajuste de planos  coletivos para o contratante, explicando, dessa forma, como chegaram ao  percentual aplicado.
Na audiência pública a ANS irá  apresentar a proposta de mudança da forma de reajustes anuais, passando a  incorporar à regra a inflação oficial da economia, por meio do Índice  de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Atualmente, o aumento é calculado  levando em conta apenas a variação das despesas médicas. O cálculo  proposto é que 80% do reajuste seja composto pelos gastos assistenciais e  20% pelos não assistenciais. Em nota, a agência explica que o objetivo  principal da implementação dessa nova metodologia é refletir mais  diretamente a variação das despesas das operadoras nos planos  individuais. As principais entidades do setor ainda estão estudando esta  e outras fórmulas de cálculo.
Sabemos que a ANS quer  desenvolver um mercado saudável para os envolvidos, pois as operadoras  somente irão fazer a oferta do plano de saúde individual se tiverem  segurança de que é possível equilibrar as contas. É muito importante  acompanhar este assunto e contribuir com conhecimento técnico para que  se alcance o objetivo de encontrar o melhor equilíbrio, de forma que  possamos tornar viável que os usuários continuem com seus planos de  saúde e até ampliar o mercado com novos entrantes de todas as classes  sociais. O mercado de saúde suplementar não vai ficar restrito aos mais  ricos, sua função social é muito importante para todos, inclusive para a  sustentabilidade do sistema público.