A IstoÉ
Dinheiro relata que a Prevent Senior, maior plano de saúde
especializado em pacientes da terceira idade, se viu envolvida numa
polêmica com o Departamento de Vigilância Epidemiológica da capital
paulista, após a primeira morte por Covid-19 ocorrida no País, no
dia 16 de março, numa das unidades do hospital Sancta Maggiore,
pertencente à rede.
O órgão público afirma que o
hospital não notificou corretamente a presença de casos confirmados
de coronavírus. “O protocolo inclui notificar os pacientes
diagnosticados para podermos monitorar aqueles que tiveram contato
com eles. Mas só ficamos sabendo do caso após a morte”, disse o
secretário de Saúde, Edson Aparecido.
Fundada em 1997, a Prevent Senior
cresceu atendendo, com mensalidades acessíveis, a pessoas das quais
a maioria dos planos de saúde querem distância: gente com mais de
50 anos. E os bons resultados só foram possíveis porque a empresa
desenvolveu um método de gestão diferenciado, com foco na
prevenção.
“A medicina não deve ser ferramenta
só de cura, mas também de prevenção. Controlar o colesterol é
barato. Colocar um stent (prótese para evitar a obstrução dos vasos
sanguíneos) é caro. Por isso, prevenir é o melhor a fazer”, afirmou
o sócio e CEO da Prevent Senior, Fernando Parrillo, em entrevista
concedida à DINHEIRO em outubro. Segundo ele, com esse método, a
empresa tem conseguido reduzir de 30% a 40% as despesas com a
cobertura de procedimentos de alta complexidade. O resultado de
tudo isso é um faturamento em torno de R$ 3,5 bilhões, quase 500
mil clientes e um plano de investimentos de R$ 500 milhões com a
finalidade de ampliar a capacidade de atendimento para 750 mil
pessoas.
O que não se sabe é por quanto
tempo esse modelo de gestão é capaz de suportar situações como a
que se vive com a pandemia. Para a professora de administração da
Universidade Mackenzie, Liliane Cristina Segura, a polêmica sobre
as subnotificações de casos de coronavírus pode arranhar a imagem
da Prevent Senior. “Essa questão preocupa porque demonstra falta de
transparência. O cliente que escolheu esse plano de saúde porque
acreditava que o tratamento aos idosos era melhor, agora fica
desconfiado. Eles vão ter de trabalhar para recuperar a imagem”,
afirma.
Liliane também teme que o caso
contamine o mercado, pois na cabeça das pessoas, se uma empresa do
setor esconde informações, outras podem fazer o mesmo. “Além disso,
a partir de agora o poder público vai ficar mais em cima deles e
isso pode gerar problemas de governança. A operadora de planos de
saúde que passar insegurança neste momento terá problemas no
mercado.”
O presidente da Associação
Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Reinaldo Scheibe,
minimiza. “O problema foi de ordem burocrática, não de
atendimento”, afirma. Scheib não acredita que a credibilidade da
operadora e do hospital tenha sido arranhada porque em seu ponto de
vista a rede agiu rapidamente e tomou a decisão de destacar duas
unidades hospitalares para atender especificamente pacientes com
coronavírus. “Até a mãe de um dos sócios está internada lá. Quem
faria isso se o lugar não estivesse preparado?”
Para Scheib, ainda não é possível
mensurar o quanto a Covid-19 impactará nos custos das empresas do
setor, mas afirmou que a entidade já conversa com o Ministério da
Saúde e com a Agência Nacional de Saúde (ANS) sobre os mecanismos
existentes para reduzir a fadiga do sistema. “Entre as propostas,
estão postergar o recolhimento de impostos e liberar parte dos
recursos de provisionamento que as operadoras são obrigadas a
depositar. Mais de 93% dos hospitais e mais de 80% dos laboratórios
dependem dos planos de saúde”.
MORTES O primeiro a morrer de
Covid-19 no País foi um paciente de 62 anos, com diabetes e
hipertensão. Depois, o hospital Sancta Maggiore computou mais
quatro mortes, sendo três no dia 18 de março e um no dia 19. Até a
data em que foi registrada a quinta vítima fatal, havia 123
pacientes em protocolo de Covid-19 na rede. Procurada, a Prevent
Senior não quis comentar. Quanto à atualização dos números, a
empresa garantiu que estavam sendo repassados apenas para os órgãos
oficiais de saúde. Por meio de nota à imprensa, a Secretaria
Municipal de Saúde informou que “constatou no hospital Sancta
Maggiore irregularidades, como isolamento inadequado de pacientes
de Covid-19, descumprimento da notificação obrigatória de casos
suspeitos aos órgãos de vigilância, não notificação de agravamento
de condições de saúde e óbitos de pacientes e irregularidades nas
práticas de isolamento de pacientes suspeitos de contaminação.” Por
essas irregularidades, a Prevent Senior será notificada e
responderá a processo administrativo de vigilância em saúde”.