Em entrevista entrevista
ao UOL, o
diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior,
rebate as críticas de que os hospitais da rede aglomeram idosos e
que um plano destinado a essa faixa etária nem deveria ter sido
autorizado. Fala também sobre as atuais taxas de ocupação
hospitalar e garante que o tão propagado número de mortes em suas
unidades pode ser projetado — o que aparentemente não está sendo
feito, ao menos de forma aberta — para prever o que deverá
acontecer com 75% da população idosa de São Paulo atendida em
outros centros do município que recebem os infectados pelo
coronavírus.
Finalmente, ele comenta a
distribuição de cloroquina ou da hidroxicloroquina para pacientes
em estágios iniciais de covid-19. Segundo o diretor da Prevent, a
estratégia seria segura e já está reduzindo entre 5% e 7% a
necessidade de internações nos hospitais Sancta Maggiore. Confira
tudo. Ou veja, a seguir, os principais temas abordados no
bate-papo, se quiser ir direto a algum ponto.
Sobre as críticas do Ministro
Mandetta
O ministro da Saúde Luiz Henrique
Mandetta, em coletiva na semana passada, disparou farpas afiadas a
“um hospital na cidade de São Paulo”, ao qual logo em seguida, sem
resistir, deu nome com todas as letras: Sancta Maggiore, da rede
Prevent Senior. Segundo o ministro, ali tem tudo o que não se quer
neste momento, destacando a aglomeração de idosos doentes e,
especificamente, com o vírus. Com tranquilidade, reconhecendo o
esforço de Mandetta na batalha contra a pandemia, o cirurgião-geral
Pedro Batista Junior afirma que não vê sentido nesse tipo de
argumentação (0:49): “Todos os países que foram pioneiros no
tratamento da covid-19 e que conseguiram controlar suas populações
priorizaram padrões básicos de isolamento social e, principalmente,
centros de referências no tratamento”.
Em qualquer lugar, pacientes
isolados com covid-19 costumam ser idosos
Segundo Pedro Batista Júnior, na
prática, todos os hospitais estão isolando áreas para os pacientes
com covid-19. Logo, se examinar a população internada ali, “ela
será muito parecida” com aquela que, hoje, ocupa os leitos das três
unidades do Sancta Maggiore que, até o momento, estão destacadas
para cuidar exclusivamente dos infectados pelo novo coronavírus
(06:40). Ele menciona a título de comparação o perfil de infectados
que estariam sendo atendidos no Hospital das Clínicas, em São
Paulo.
A segurança dos usuários com outros
problemas de saúde
Para Batista Júnior, “na hora em
que você prioriza hospitais [para atender covid-19] , você permite
que “todos os outros idosos — com um infarto, um AVC, uma fratura…
— continuem a acessar o sistema de saúde, protegidos para não se
contaminarem. A gente não quer que aconteça.” (04:30). E explica
como isso está organizado dentro da rede, garantindo que todos
podem buscar tratamento para esses outros problemas urgentes sem
medo.
Profissionais de saúde
contaminados
O médico contabiliza que até hoje
já são cerca de 1.200 mil pacientes usuários da Prevent Senior
dentro do que chama protocolo covid-19, além de aproximadamente 250
funcionários afastados por suspeita da doença (9:23). Entre estes
últimos, 120 tiveram o resultado positivo no teste para flagrar a
presença do coronavírus. Mas, devidamente isolados e tratados,
exatos 50, diz Batista Júnior, já voltaram ao trabalho. “‘É
fundamental falar que não temos nenhum óbito de funcionário”,
frisa.
Ele dá outro indicador: “No
hospital do [bairro do] Paraíso, nós tivemos apenas 15
profissionais contaminados entre os mais 400 que trabalham somente
ali. Quando se pega a rede inteira, com mais de 10 mil
funcionários, sem contar 2.500 médicos, e temos a contaminação de
120 pessoas, a gente nota que todas as medidas estratégicas de
cuidados estão sendo extremamente eficientes”, opina. E conta como
é a rotina das unidades para evitar a infecção dos que transitam
por ali.
A tal sacada de um plano de saúde
para os mais velhos
“Entendo que, no momento de uma
pandemia, o mundo inteiro — e não só o ministro — esteja preocupado
com um modelo como o da Prevent Senior”, admite Pedro Batista
Júnior, ao ser indagado a respeito de mais um comentário de
Mandetta, o de que esse plano não deveria nem sequer ter sido
autorizado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). “Mas
corremos esse ‘risco’ há 23 anos e poucos conhecem o nosso modelo
de eficiência”, diz o médico, explicando na entrevista por que é
possível custar menos e oferecer um serviço de qualidade a uma
população que, antes, não conseguia ter um plano de saúde,
principalmente pelo fator idade.
O câncer de mama como parâmetro
“Temos 300 mil mulheres usuárias e,
portanto, cuidamos da saúde de 600 mil mamas”, aponta o
diretor-executivo da Prevent Senior para demonstrar o que seria, em
sua opinião, um modelo de plano de saúde capaz de baratear custos e
agilizar o atendimento.
E diante de uma pandemia?
A pandemia de covid-19, porém, é
outra história. Responsáveis pela assistência a idosos que por
natureza vivem sob a ameaça do surgimento de uma nova super-gripe —
que, atenção, seria provocada pelo vírus influenza — e por outras
infecções graves, será que eles realmente se prepararam para a
iminência de um caos desde sempre anunciado? (30:40). “Até pela
característica da população [de usuários], sempre tivemos altos
índices de internação e de atendimentos em pronto-socorros”,
responde, dando a entender que isso, por si, já seria um
aprendizado.
Ele conta que executivos da Prevent
Senior estavam em viagem aos Estados Unidos quando tiveram contato
com a empresa de tecnologia que, nove dias antes de ser declarada a
epidemia em Wuhan, na China, identificou que havia uma “anomalia de
saúde” naquela cidade. Então, solicitaram à mesma empresa uma
previsão de quando deveriam começar a se preocupar no Brasil. “A
resposta foi: ‘Pedro, agora. Vocês precisam atuar já”, relata.
Uma das primeiras providências,
conforme conta, foi colocar em esquema de home office os
funcionários do administrativo da empresa. Era ainda a semana do
Carnaval. E, no mesmo feriado, teriam começado a se planejar para
receber mais e mais pacientes. De acordo com Batista Júnior, a taxa
atual de ocupação de leitos destinados à covid-19 em seus hospitais
é de 65%.
As mortes no Sancta Maggiore
serviriam para projeções?
O médico evita comentar os casos de
pacientes que morreram em suas instalações. Mas, lógico, o tema se
torna inevitável (40:57). Então, ele deixa claro que a experiência
de seus hospitais serviria para projetar o que deve acontecer em
toda a cidade de São Paulo: “Eu tenho 25% população idosa
paulistana e o meu número, que é extremamente fiel, deveria ser
replicado para os outros 75% que não estão sob o meu controle”,
opina, com firmeza.
Para evitar o diagnóstico
tardio
Ele também diz que não é mais
possível esperar sete dias para um diagnóstico por meio de testes
(46:19) e que a tomografia deverá se transformar em principal
método para confirmar suspeitas. “Até porque temos bons indícios de
que um tratamento precoce com medicamentos é muito eficiente”,
completa. Ele se refere ao coquetel da cloroquina ou de seu análogo
com menos efeitos adversos, a hidroxicloroquina, usada para doenças
como a malária, com o antibiótico azitromicina. E isso, sem dúvida,
causa bastante controvérsia — e novas críticas.
Cloroquina nos primeiros
sintomas
Nesta semana, outra polêmica
envolveu a Prevent Senior. Um funcionário denunciou que a empresa
estaria fornecendo o coquetel de remédios aos pacientes com
sintomas suspeitos de covid-19, bem antes de sequer pisarem no
pronto-atendimento por falta de ar insuportável. Batista Júnior
confirma a informação e explica o que está sendo feito.
Ele reforça, no entanto, que é
totalmente contraindicada a automedicação e explica seus riscos.
Acrescenta que os pacientes em questão invariavelmente passaram
pela tomografia. “Eles assinam um termo, sabem que estão
participando de um estudo”, garante. “E, desde que implementamos
essa estratégia, observamos uma redução entre 5% e 7% na ocupação
dos leitos. Isso é o contrário do que está acontecendo em outros
hospitais, onde a curva se eleva”, conta.
A cloroquina foi usada no
tratamento até mesmo de dona Mariazinha, mãe dos fundadores da
empresa, que segue internada e intubada no Sancta Maggiore, mas —
de acordo com Batista Júnior —, os efeitos do coquetel não são tão
evidentes em pacientes graves, embora a senhora, de 75 anos, também
tenha melhorado.
“O interessante é que, na Amazônia,
se uma pessoa tem malária, o médico imediatamente indica essa
medicação. Por quê? Porque é de baixa toxicidade”, observa. E a
comunidade científica? “A comunidade científica também é médica. A
comunidade científica nunca passou por uma pandemia. A comunidade
científica deveria entrar dentro dos hospitais e começar a avaliar
que, dependendo da linha de tratamento que está fazendo, você tem
pacientes que vão morrer mais e que vão morrer muito menos.”
Embora o médico alegue que estão
seguindo o protocolo do Ministério da Saúde, a medida é bastante
questionável para alguns de seus pares que insistem na falta de
estudos consistentes, o que ainda renderá boas doses de
discussão.