O mundo está mudando
rapidamente, processo acelerado pela pandemia do coronavírus, e a
carteira de seguros de automóveis também sofre mudanças profundas
que se estenderão pelos próximos anos. O corretor de seguros
obviamente também será atingido por essas transformações e
precisará estar devidamente preparado para atender às novas
demandas do consumidor. Essa avaliação foi manifestada nesta
quarta-feira (30/09), por grandes especialistas reunidos na quarta
parada do “CQCS Innovation Latam” que teve mais de 2.500 inscritos
e trouxe o tema “O Seguro Auto para as Próximas Gerações”. Um deles
foi o diretor Geral da Bradesco Auto/Re, Ney Ferraz Dias, segundo o
qual, para não perder clientes, o corretor terá que trabalhar como
um consultor de risco, aconselhando novas coberturas para o
cliente, seja para a vida, a saúde ou a residência. “O corretor
deve ter papel mais abrangente. Há muito espaço para encontrar
novos clientes como consultor de riscos também no ramo auto. Mas,
as seguradoras precisam ajudá-lo a ajudar o cliente, a melhorar as
apólices que podem oferecer, porque o segurado pode precisar
especificamente de pequenas manutenções e reparos ou de algumas
assistências. Além disso, há a questão da responsabilização de
terceiros. No Brasil, o valor média da cobertura de RCF é de R$ 60
mil, claramente insuficiente para a maioria dos clientes.”,
exemplificou o executivo
Ele acrescentou que nos
próximos 10 anos, o ramo auto enfrentará muitos desafios e mudanças
tecnológicas. Mas, assegurou que o novo contexto permitirá às
seguradoras oferecer ao cliente e corretores melhores experiências
e operação aprimorada.
Dias observou que, com a
pandemia, consumidores mudaram seus hábitos, pois, agora, se sentem
mais seguras nos seus veículos. “Esse quadro não deve permanecer
por muito tempo. Mas, pode voltar no futuro. E a preocupação com a
possibilidade de essa situação ocorrer novamente é fator novo para
o setor”, salientou.
O diretor da Bradesco Auto/Re
frisou ainda que as novas gerações não querem ter o próprio
veiculo. Os mais jovens esperam formar famílias e estarem
estabelecidos para somente então pensar no carro.
Em contrapartida, muitas
pessoas já estão pensando em não trabalhar mais em escritórios ou
mesmo em morar em cidades menores, optando pelo home office. Com
isso, fica mais difícil compartilhar o uso de veículos e cresce a
utilização do próprio veículo. Outra mudança que se refletirá no
comportamento da carteira.
Para ele, a utilização em
massa de veículos autônomos ainda vai demorar, se consolidando
apenas em 2034. “Há, então, um longo caminho para pensarmos com
base nos tipos atuais de seguros”, observou.
Com relação aos seguros sob
demanda, ele comentou que boa parte dos clientes não percebe o
benefício e acha “muito invasivo”.
Quanto aos reflexos da Lei
Geral de Proteção de Dados (LGPD), Dias disse que haverá
sofisticação em como são mantidos os dados dos segurados, mas
também haverá limitação das informações disponíveis, o que deverá
ter impacto sobre como as apólices serão oferecidas no
futuro.
Por sua vez, Carlos Ricci,
Head Motor Solutions & Transactions da Swiss Re, abordou estudos
realizados pela resseguradora, incluindo o que aponta que apenas
20% da frota de veículos dos cinco maiores mercados da América
Latina têm seguro. “Essa é uma excelente oportunidade para o
mercado”, destacou.
Para ele, antes da pandemia,
ainda em 2019, o mercado “funcionava normalmente”, enfrentando
desafios de competitividade, oscilação de preços de acordo com os
lucros apurados no exercício anterior e tentativas de melhorar a
experiência do cliente. Depois, já em 2020, tudo mudou, com queda
acentuada na venda de novos carros e, portanto, menos unidades para
segurar, e aumento da frequência e da gravidade de sinistros, por
conta da não realização de manutenção correta durante a
quarentenas. “Outro impacto é econômico. Muitas empresas fecharam
as portas e demitiram e isso reduz a compra de seguros
tradicionais”, acrescentou.
Diante desse quadro ele
enxerga uma tendência de aumento do custo dos sinistros em 2021 e a
consolidação de três conceitos que não apareciam antes e afetam o
mercado de seguros: o teletrabalho, com várias pesquisas mostrando
que 50% das empresas avaliam manter mesmo após o fim da pandemia, o
que também muda a forma de dirigir. a economia compartilhada; e a
micro mobilidade, conceito que engloba bicicletas e patinetes
elétricas. “Haverá a reação intensa das seguradoras para se
adaptarem de acordo com as necessidades e a focarem no que é mais
importante. São três vetores que guiam isso: o mercado agora está
olhando segmentos que não olhava; novos produtos para segmentos que
não eram pensados; e soluções para segmentos não explorados “,
listou.
Nesse cenário de fortes
mudanças, ele crê ainda que as seguradoras vão agir para reter os
clientes, com produtos que satisfazem e olhando “além do
tradicional”.
Ele afirmou também que, com a
pandemia, as receitas das seguradoras no ramo de ramo de veículo
chegaram a cair de 30% a 50% em alguns casos. E ninguém sabe ainda
o que virá agora. “É ponto de interrogação. Temos que descobrir
juntos. Em vez de produtos mirabolantes, temos que pensar em
jornada interessante para o cliente. E aproveitar a experiência de
que já trabalhou naquele projeto que você quer desenvolver”,
aconselhou.
Já Bill Powers, fundador e
CEO da Cambridge, empresa de telemetria que domina 63% do mercado
mundial, revelou que o futuro da carteira de automóveis será
fortemente influenciado por fatores como a telemetria, a
inteligência artificial e a questão da mobilidade. “Nossa missão é
tornar estradas e motoristas mais seguros. Temos mais de 50
programas em 30 países, com diferentes produtos como o driveWell
para que pessoa seja recompensada por comportamento mais seguro.
Isso ajuda as seguradoras a reter clientes”, comentou.
Segundo ele, o cliente será
favorecido por esse futuro em que a análise comportamental poderá
definir o valor pago pelo seguro.
Outro programa citado por ele
é o Claims, que permite o alerta de colisão em tempo
real.
Powers salientou também que
as empresas que só têm soluções para smartphone terão limitação
sobre o que podem oferecer para seguradoras e segurados,
especialmente porque há pessoas que não dirigem muito e a quem será
preciso ensinar sobre o comportamento ao volante. “É necessário ter
soluções disponíveis”, afirmou.
Na visão dele, o seguro sob
demanda “veio para ficar”, pois as pessoas buscam economizar em
tudo o que puderem com ou sem isolamento social. Aliás, esse
comportamento deve se acentuar nos próximos meses em razão dos
impactos na economia. “É preciso compreender também que o futuro da
mobilidade está mudando”, alertou.
A “insurtech do mês” nessa
etapa do evento foi a Cilia, que está “fazendo mágica” na gestão de
sinistros e que foi representada por seu CIO, Leonardo Lobo.
Segundo ele, desde que foi criada, em 2012, a insurtech rem atuação
focada no setor de seguros de automóveis, já tendo realizado mais
de 2 milhões de orçamentos de sinistros, que podem demorar mais de
48 horas. “Reduzimos drasticamente esse tempo, permitindo que o
segurado seja reembolsado mais rapidamente”, frisou.
Ele acrescentou que todo o
processo é feito pelo aplicativo em tempo real e em menos de 5
minutos, sem interferência humana, com aprimoramento
enorme.
Com isso, é possível reduzir
os custos com equipes e prestadores de serviços. além de reduzir
fraudes e erros humanos.
Para os segurados, há mais
agilidade no atendimento e a possibilidade de reembolso em poucos
minutos para que possam levar carro até a oficina que
preferirem.
A quarta etapa do “CQCS
Innovation Latam” teve como moderador dos debates o fundador do
CQCS, Gustavo Doria Filho.