Há tempos, os cientistas procuram desenvolver um coração
artificial durável, que possa funcionar de maneira tão eficaz
quanto o oferecido pela natureza. Tentando cumprir esse objetivo,
uma empresa francesa produziu um coração artificial que utiliza
tecidos bovinos e que, em breve, será testado em pacientes
humanos.
As superfícies que entram em contato com o sangue humano nesse
coração são feitas de tecido bovino, em vez de materiais
artificiais como o plástico, que pode causar problemas como
coágulos.
"O modo como eles incorporaram superfícies biológicas nos pontos
que entram em contato com o sangue é realmente uma grande
vantagem", disse o doutor Joseph Rogers, professor-associado na
Universidade Duke em Durham, na Carolina do Norte, e diretor-médico
de seu programa de transplante cardíaco e apoio circulatório
mecânico. "Se eles acertarem esse desenho, poderão mudar o jogo,
reduzindo a necessidade de remédios anticoagulantes."
Em desenvolvimento há 15 anos pela empresa Carmat, sediada em
Paris, o coração foi aprovado para testes clínicos em centros de
cirurgia cardíaca na Bélgica, na Polônia, na Arábia Saudita e na
Eslovênia.
Na França, onde o dispositivo ainda não foi liberado para
implantação em humanos, os reguladores exigiram mais testes com
animais, que estão sendo feitos.
Esse é o primeiro coração artificial a usar derivados bovinos
-especificamente, o tecido do saco pericárdico que envolve o
coração dos animais. No passado, tecidos biológicos foram usados
somente em válvulas de bombas de sangue mecânicas, disse o doutor
Rogers.
O coração artificial pode ajudar pacientes que esperam na
(vagarosa) fila por um transplante de coração definitivo, que deve
vir de outro ser humano.
Por isso, um coração totalmente artificial para uso prolongado
seria de grande valia, mas ainda é muito cedo para saber se o
coração da Carmat, ainda não testado em humanos, será esse
equipamento.
O custo do dispositivo da Carmat seria de aproximadamente US$
200 mil, disse o doutor Piet Jansen, diretor-médico da empresa. Ele
não espera que o produto seja posto no mercado europeu antes do
final de 2014.
O coração da Carmat tem duas câmaras, cada qual dividida por uma
membrana. Essa membrana tem tecido bovino de um lado, o que fica em
contato com o sangue, e poliuretano do outro, que toca o sistema
miniaturizado de bomba com motores e fluidos hidráulicos que
modificam a forma da membrana. (O movimento da membrana empurra o
sangue para o corpo.) A eletrônica e o software embutidos ajustam o
ritmo do fluxo sanguíneo. Os pacientes podem portar as baterias em
um coldre embaixo do braço ou em um cinto, entre outras opções.
O tecido bovino também é usado em válvulas cardíacas artificiais
que foram criadas pelo doutor Alain Carpentier, cirurgião cardíaco
e pioneiro em reparo de válvula cardíaca, que também é fundador da
Carmat e seu diretor-científico. O tecido bovino é tratado
quimicamente para que seja estéril e biologicamente inerte.
O equipamento é regulado por sensores, software e
microeletrônica. Sua energia vem de duas baterias de íons de lítio
externas.
O projeto e o desenvolvimento do coração também contaram com
estratégias de testes aeroespaciais da Companhia Europeia de Defesa
Aeronáutica e Espacial (EADS, na sigla em inglês), uma das
apoiadoras da Carmat, disse o doutor Jansen.
Segundo o médico, uma das exigências do projeto do coração era que
ele durasse cinco anos. A empresa vem fazendo testes de bancada
para ver ele se consegue durar tanto.
A doutora Lynne Warner Stevenson, diretora do programa de
cardiomiopatia e falência cardíaca no Hospital Brigham e Feminino
em Boston, está otimista como o novo equipamento. "Eu aplaudo os
pioneiros que o desenvolveram", disse.