Sou de um tempo em que operadoras de planos de saúde surgiam no
mercado com muita facilidade e sem o controle de uma agência
reguladora. Com a mesma facilidade, escritórios autodenominados
“corretoras”, se proliferavam pelos grandes centros a recrutar
vendedores sem nenhuma qualificação. Era uma verdadeira “festa da
uva”.
Era também um flagrante paradoxo.
Se por um lado o caos imperava, por outro o tilintar das moedas
anunciavam o lucro e o enriquecimento daqueles que conseguiam
administrar a bagunça de um mercado que funcionava à margem da
lei.
Quem não lembra de um vendedor a preencher um contrato da Blue
Life ou da Unicor (hoje extintas), para ter direito a uma consulta
médica de urgência e a exames básicos? Uma vez atendido pelo médico
e sua patologia tratada, o vendedor cancelava o plano e as despesas
ficavam por conta da operadora. Simples assim.
Mas o mercado, como tudo na vida, é cíclico.
No ano 2000, durante o governo FHC, foram criadas várias
agências reguladoras no País, entre elas, a ANS – Agência Nacional
de Saúde Suplementar. Foi a partir do surgimento da ANS que este
caótico cenário, lentamente, começou a mudar.
Hoje, quase duas décadas depois, as empresas de corretagem, no
que pese a falta de união entre o empresariado, estão a avançar de
forma substancial os degraus da regulamentação e das boas práticas
do setor.
No último dia 25 de junho, por exemplo, o Sindiplanos –
Sindicato das Corretoras de Planos de Saúde e Odontológicos do
Estado de São Paulo, sob os auspícios do hercúleo esforço de Silvio
Toni, reuniu um grupo de empresários donos de corretoras na sede da
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
A iniciativa do Sindiplanos, que significa mais um passo em
direção à regulamentação do setor, marcou a parceria com a ABNT por
intermédio da qual as empresas de corretagem serão avaliadas pela
Associação como certificadora independente, atendendo a um programa
que avaliará conhecimentos, habilidades e competências. Das
corretoras, obviamente.
Mas isto é só o começo de um processo. Ao final, as corretoras
aprovadas receberão um Selo de Qualidade (uma espécie de ISSO
9000), o qual valerá como atestado de que estão de acordo com as
boas práticas do mercado.
Entre os presentes na sede da ABNT estavam figurões
tradicionais, neófitos, e até operadoras que estão a apoiar a
iniciativa do Sindiplanos como: SulAmérica, Amil, Biovida... Mas,
por outro lado, ausências importantes também foram registradas
como: GNDI, Unimed e as administradoras.
Mas o caminho só se faz caminhando.
E se a corretora certificada com o Selo de Qualidade cometer
algum deslize ético? – perguntei a Silvio Toni. “O Selo tem uma
manutenção periódica. Disse ele. "Se nesse período a Corretora
fizer parte da ocorrência de alguma fraude, ela não obtém a
renovação do Selo. A suspensão de cinco anos está relacionada ao
projeto do deputado Lucas Vergilio que trata da regulação dos
corretores e das corretoras”, afirmou. Ciente de que há
profissionais que criam novo CNPJ para driblar a suspensão de seu
código junto às operadoras, provoquei o presidente que de pronto
respondeu: “O código não está vinculado ao CNPJ, mas ao CPF do
corretor. Nossa expectativa é a de que esta regra irá minimizar as
fraudes. Logicamente, aquelas pessoas que têm uma natureza ruim,
vão continuar a cometer fraude, mas agora estará sujeita à
suspensão de cinco anos de seu código. Mas a maioria, sabemos,
cometem erros sem pensar e certamente essa nova situação fará com
que todos ajam de uma maneira melhor. Todo mundo ganha”, garantiu o
presidente do Sindiplanos.
Moacir Marques Pereira, diretor de Desenvolvimento
Organizacional da Viva Saúde, um dos idealizadores do programa de
certificação, também está otimista com o amadurecimento do mercado.
Em conversa com o Blog, Moacir lembrou que a obtenção do Selo não é
uma imposição, “Em princípio o Selo é democrático. Não existe
nenhuma restrição por tipo de corretora - que tenha o Selo ou não -
para operação. O que é importante destacar é que aquelas que
possuem o Selo estão, voluntariamente, buscando um processo de
excelência operacional que consequentemente vai melhorar o
atendimento e se traduzir em melhores oportunidades de negócios”,
afirmou.
No que pese a ausência de algumas operadoras, Pereira garantiu
que o apoio é irrestrito, “Nós conversamos com as principais
operadoras e todas estão interessadas em trabalhar com as
corretoras que estão buscando excelência operacional, porque elas
também têm esse compromisso”, ressaltou.
Rosa Antunes, presidente da Acoplan, entidade que se autodefine
com um “elo facilitador” no processo de implantação do Selo,
lembrou que estão avançadas as negociações com a Fundação Nacional
de Seguros – Funenseg, para substituir o Senac, atualmente,
responsável pelos cursos de profissionalização do corretor de
planos de saúde, “O Senac está com o curso desde 2003. Estava
precisando de uma atualização de conteúdo. O mercado é muito
dinâmico. A Funenseg está com um curso de comercialização de planos
de saúde totalmente atualizado. Estamos em fase de negociação com
eles e tudo indica que fecharemos com a Fundação Só depende da
negociação diferenciada que estamos pleiteando para a ACOPLAN”,
garantiu.
Além de Moacir Marques e do representante da ABNT, que
apresentaram o projeto, também dividiram o palco: Silvio Toni e
Johan (Sindiplanos); Rosa Antunes (Acoplan) e Ariovaldo Bracco
(presidente emérito da Acoplan).