Por Antonio Penteado Mendonça, no
site do Sindseg SP
De acordo com análises
internacionais, o Brasil é o país que, no momento, apresenta o
quadro mais sério e corre os maiores riscos de uma explosão
descontrolada do coronavírus sobrecarregar exponencialmente a rede
de saúde nacional.
Que a rede brasileira é
insuficiente nunca foi segredo para ninguém, por isso os
governadores tomaram e ainda tomam uma série de medidas destinadas
a abrandar a curva da evolução do vírus para tentar reduzir a
velocidade da propagação da doença.
Mas para que isso aconteça é
indispensável a colaboração da população. Não sei até que ponto a
posição irresponsável do Presidente da República tem influência
sobre os números, mas a verdade é que menos de 50% dos brasileiros
está levando o isolamento social a sério.
Para que o isolamento surta efeito
e diminua a velocidade da curva da propagação do coronavírus é
necessária adesão de pelo menos 70% da população. Com os 48%
registrados nos últimos dias a velocidade vai explodir e as cenas
vistas em Manaus vão se espalhar pelas mais diversas cidades do
Brasil, ameaçando nos colocar em patamares semelhantes aos
norte-americanos, em número de mortos proporcionalmente ao tamanho
da população.
Para dar uma ideia da velocidade da
pandemia, em março, a Santa Casa de São Paulo atendeu 404 pessoas
com suspeita de coronavírus; em abril, o número de suspeitos
atendidos chegou a 1800 e continua subindo. Além disso, nos dois
meses analisados, faleceram 82 pessoas apenas no Hospital
Central.
Os números do coronavírus aparecem
duas semanas depois do fato. Assim, as pessoas saírem para as ruas
agora vai impactar negativamente a evolução da doença daqui a duas
semanas. Da mesma forma que o aumento do isolamento social também
terá impacto positivo depois de duas semanas.
Como as pessoas já estão nas ruas
há algum tempo, da próxima semana em diante todos os números
referentes à pandemia deverão ser piores. E a tendência é que
prossigam assim por todo o mês de maio e pelo menos por boa parte
de junho.
Nos próximos sessenta dias o Brasil
tem tudo para se transformar num campeão de mortes pela covid19,
deixando inclusive Itália e Espanha para trás. Enquanto o mundo
fala em isolamento, aqui o Presidente da República dá o exemplo
contrário e vai para as ruas sem máscara de proteção e sem tomar
qualquer cuidado com o distanciamento pessoal, para cumprimentar
meia dúzia de eleitores sem noção, que, sabe Deus porquê, acham que
o Brasil é diferente e que o vírus é nosso amigo.
Tanto faz as imagens dramáticas
mostradas pela televisão, é como se elas acontecessem em outro país
e que aqui fosse festa. Os mortos no chão dos hospitais, os
enterros coletivos e outras cenas tristes da realidade de Manaus
não comovem as pessoas. É como se com elas não pudesse acontecer
nada. Enquanto isso, as periferias bombam com bailes funks,
comércio aberto, gente nas ruas e nos botequins, batendo papo e
bebendo cerveja como se fosse dia de final de copa do mundo.
Como os hospitais públicos estão
sobrecarregados, as autoridades começam a requisitar vagas na rede
particular. Com o aumento da pandemia, os titulares de planos de
saúde privados voltarão a ser atingidos e o número de infectados
vai subir. É aí que mora o problema. Com a rede privada obrigada a
ceder leitos para os pacientes do SUS, com plano de saúde privado
ou sem plano de saúde privado, as pessoas terão dificuldades para
conseguir vagas na rede hospitalar brasileira e as mortes em casa
começarão a ser rotina.
Nesta conta perdem todos: o SUS, os
planos de saúde privados, mas principalmente a população
brasileira, que contará seus mortos aos milhares.