Em artigo, profissional do setor fala sobre a situação financeira das Santas Casas e quais seriam aspectos chaves para uma possível solução
Recentemente, o superintendente da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, José Luiz Spigolon, apresentou uma análise da situação das instituições de saúde. Em audiência pública da subcomissão especial ligada à Comissão de Seguridade Social e Família, o representante declarou que as entidades receberam R$ 9 milhões do governo em 2011, porém tiveram um total de R$ 14 bilhões com custos. Importantes prestadores de serviços para o Setor de Saúde Suplementar, os hospitais filantrópicos representando 52% dos atendimentos do Sistema Único de Saúde Suplementar. Atualmente, o segmento responde por um terço dos leitos existentes no Brasil, com uma rede capilarizada distribuída pelos estados e municípios do país.
Apesar disso, os desafios para a sua manutenção e desenvolvimento ainda estão muito latentes. O principal deles é o subfinanciamento; isso porque, para manter o status de filantropia e usufruir dos benefícios fiscais, 60% por cento da capacidade de atendimento dessas instituições deve ser destinada ao atendimento de pacientes do SUS, o que muitas vezes é sinônimo de prejuízo financeiro, por conta dos baixos valores da tabela. Com investimentos insuficientes até para a compra de materiais e manutenção da sua infraestrutura, os hospitais não conseguem suprir a alta demanda existente. Desta maneira, é gerado um descompasso entre as operadoras, seguradoras e cooperativas públicas e privadas tanto em termos de financiamento, quanto em tecnologia.
No cenário atual, enquanto alguns hospitais filantrópicos conseguem ultrapassar as dificuldades financeiras – mantendo o atendimento pelo SUS-, outros sofrem com falta de recursos, não encontrando uma maneira de se sustentar. A pergunta que surge é: se as fontes de financiamento são as mesmas, ou seja, se o aporte financeiro é equivalente, como é possível que haja uma discrepância tão considerável entre as instituições de um mesmo setor? A resposta está na forma de gerenciar o hospital.
A afirmação de Julcemar José Ragnini, Representante da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) na ANS na Câmara de Saúde Suplementar, de que ainda hoje existem entidades filantrópicas comandadas por diretores sem formação e preparo para a gestão não é recebida com surpresa por ninguém. E o primeiro passo para a sua melhoria seria a capacitação do profissional de modo que o mesmo esteja preparado para realizar um programa estratégico para a instituição. Este planejamento de curto, médio e longo prazo será determinante na busca por recursos assistenciais e até mesmo parcerias com órgãos públicos. Além disso, o apoio das entidades de classe possibilitaria às operadoras filantrópicas reduzir a sua dependência do SUS, viabilizando sua modernização e qualificação.
No entanto, para que o plano estratégico seja desenvolvido de forma eficaz e permita a instituição filantrópica superar este descompasso existente, é necessário o casamento entre os recursos humanos e tecnológicos. É nítido que, para prosperar, é preciso se superar e se modernizar, tecnologicamente e administrativamente. Ou seja, profissionais preparados e qualificados precisam estar respaldados por ferramentas que, a partir do levantamento de indicadores, auxiliem em uma gestão adequada e facilitem a tomada de decisão sem ocasionar perdas financeiras e de pessoal. No universo da saúde, isso significa a administração integrada de todos os processos hospitalares e, principalmente no caso de entidades filantrópicas e santas casas, com uma plataforma livre que se adeque a realidade financeira e organizacional da instituição.