No Dia Internacional das Doenças Raras, lembrado nesta
quinta-feira, especialistas estimam que cerca de 15 milhões de
brasileiros têm alguma das cerca de 8 mil síndromes catalogadas
como raras. Neurofibromatose, mucopolissacaridose, síndrome de
Gaucher, esclerose lateral amiotrófica e leucoencefalopatia
multifocal progressiva são exemplos dessas patologias.
Em entrevista à Agência Brasil, o professor do Departamento de
Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Natan Monsores,
criticou o tempo de espera enfrentado pela maioria desses pacientes
para serem acolhidos no sistema de saúde. "O tempo de diagnóstico
demora algo em torno de três a cinco anos. O itinerário de
diagnóstico do paciente é muito longo", contou.
Ele acredita que 70% dos problemas relacionados às doenças raras
seriam resolvidos por meio de um sistema claro de informações sobre
essas síndromes. "Boa parte dos pacientes fica perdida dentro do
SUS (Sistema Único de Saúde) por não saber ao certo que
especialista buscar, onde são os centros de referência", disse
Monsores.
Segundo ele, a falta de informação acaba resultando no que
muitos médicos chamam de paciente especialista, já que algumas
pessoas afetadas pelas síndromes passam a conhecer mais o problema
que os próprios profissionais de saúde. Ele lembrou que pacientes e
parentes se reúnem pela internet e por meio de associações para
trocar informações, por exemplo, sobre tratamentos disponíveis.
O professor destacou que há uma judicialização excessiva no
campo das doenças raras. "Pelo fato de esses pacientes terem
doenças muito peculiares, eles são alvo de incursões da indústria
farmacêutica. A gente sabe disso por relato de pacientes que são
assediados por advogados para que entrem na Justiça com processos
contra o governo para obter medicamentos", relatou.
O presidente da Associação MariaVitória, Reginaldo Lima, confirma a
ausência de informação dentro do próprio sistema de saúde. Morador
de Brasília e pai de uma menina com neurofibromatose, ele passou
quatro anos em busca do diagnóstico da filha. Diagnosticada no Rio
de Janeiro, ela chegou a ser transferida para Belo Horizonte (MG)
e, há duas semanas, está sendo tratada na capital federal.
"Falta mostrar aos médicos onde estão os centros de referência
de cada especialidade, para que eles repassem aos pacientes.
Descobri o tratamento na minha cidade por meio de outros pais.
Imagina como é para quem mora no interior", completou.
Tarde demaisRegina Próspero, presidente da Associação Paulista dos
Familiares e Amigos dos Portadores de Mucopolissacaridose, só
conseguiu o diagnóstico do filho depois de perder o mais velho para
a doença. Mesmo assim, o menino só conseguiu iniciar o tratamento
muitos anos depois, já que não havia tratamento para a
mucopolissacaridose disponível noPpaís.
"Estamos muito aquém do que deveríamos. Precisamos efetivar uma
política pública específica para as doenças raras. Hoje, os
pacientes são tratados como um qualquer, mas são características
específicas, não dá para tratar como uma doença de saúde coletiva",
explicou. "A sociedade também precisa participar. A maioria das
pessoas acredita que uma doença rara não pode ocorrer em sua casa,
mas pode. Ninguém está livre e todos devem ter direito à vida".
O Ministério da Saúde anunciou nessa quarta-feira, em seminário
na Câmara dos Deputados, que vai colocar em consulta pública nas
próximas semanas dois documentos que deverão dar origem a uma
política pública específica para pessoas portadoras de doenças
raras.