O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta segunda-feira (26) que o governo não vai tolerar qualquer incitação ao preconceito e à xenofobia contra os estrangeiros que estão no Brasil para trabalhar no Programa Mais Médicos. Padilha participou do início das atividades de acolhimento e avaliação de médicos estrangeiros, em Brasília.
“Não admitimos qualquer incitação ao preconceito e à xenofobia. Temos que receber de braços abertos médicos e médicas que aceitaram esse chamamento para vir atender à população brasileira que não tem médicos”, disse Padilha a jornalistas após a cerimônia.
Padilha reiterou as críticas ao presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, João Batista Gomes, que disse que orientaria os médicos brasileiros a não socorrerem erros dos colegas cubanos. “Essa recomendação é omissão de socorro e é uma afronta ao Código de Ética Médica. Nenhum médico pode se negar a atender ou a socorrer qualquer brasileiro ou brasileira”, afirmou.
De acordo com o ministro, o governo tem segurança jurídica sobre a determinação para que os conselhos regionais de Medicina concedam registro provisório aos os estrangeiros que participam do programa. A determinação está na medida provisória (MP) que cria o Programa Mais Médicos. “Temos segurança jurídica, o próprio procurador-geral do Trabalho disse claramente que a MP estabelece o processo de registro desses profissionais. Os conselhos têm que seguir a lei. Temos segurança jurídica disso.”
Ao discursar na cerimônia de acolhimento a cerca de 200 médicos estrangeiros, Padilha pediu desculpas por problemas no alojamento em Brasília, onde profissionais reclamaram do número excessivo de pessoas. Segundo o ministro, serão feitos ajustes em Brasília e em outros locais, caso seja necessário. “Aqui em Brasília estamos programando o deslocamento desses profissionais para outras estruturas para ficarem mais bem acomodados”. Os estrangeiros recebem treinamento em oito capitais com duração de três semanas.
Opinião cubana
Após críticas de associações médicas à vinda de cubanos para atuar no Brasil pelo Programa Mais Médicos, a vice-ministra da Saúde de Cuba, Márcia Cobas, disse que os médicos do país querem trabalhar em cooperação com os profissionais brasileiros e não ocupar o lugar deles. Márcia participou da cerimônia de início do treinamento dos médicos estrangeiros.
“Queremos ir aos locais onde a população mais precisa, onde não tem médicos”, disse a dirigente. A vice-ministra acrescentou que os médicos que vieram trabalhar no Brasil não são desempregados e têm garantia de seus serviços quando retornarem a Cuba. “Nossos médicos não são desempregados, recebem 100% de seus salários e têm a proteção de suas famílias, na educação, na saúde, para dar tranquilidade e segurança enquanto estão trabalhando em outros países”, disse.
A vice-ministra defendeu a qualificação dos médicos cubanos. Ela destacou a experiência dos profissionais na atuação em diversos países e disse que os cubanos já atuaram em regiões com condições de trabalho difíceis. “Não exportamos médicos, exportamos serviços de saúde”, disse Márcia Cobas.
A médica cubana Mayra Perez Sierra declarou que não teme as reações contrárias à atuação no Brasil. Segundo ela, é normal que mudanças gerem preocupação. “Toda mudança, em qualquer país, em qualquer momento da vida, gera temor. Mas estamos preparados, estamos seguros, estamos acostumados a enfrentar outros costumes. Eu mesma já estive na Venezuela e no Zimbábue, país com outra língua, com dialetos. Enfrentamos e estamos preparados”, disse.
Sobre a diferença de idioma, Mayra Perez Sierra avalia que não será um empecilho para que os médicos prestem um bom atendimento à população brasileira. “Nestas três semanas vamos reforçar o conhecimento. Quanto ao idioma, aprendemos muito, ainda temos que melhorar, mas creio que isso ocorrerá durante o trabalho com a comunidade. Será onde vamos aprender a nos comunicar melhor. Creio que tudo irá bem em nosso favor e em favor do povo brasileiro”.