Em 12 meses, braço de seguros e previdência do Banco do Brasil subiu sem dar sustos em seus acionistas e entrou no Ibovespa na virada do ano
Em abril do ano passado, o Banco do Brasil tomou uma ousada iniciativa de abrir o capital de seu braço de seguros e previdência mesmo em um período não muito favorável para o mercado acionário nacional. Os sinais de uma economia que atingia a exaustão e começava a preocupar os especialistas não abalaram os planos da estatal. O resultado deu certo e quem comprou as ações do BB Seguridade desde sua entrada na BM&FBovespa só tem a comemorar com os ganhos de mais de 50%, com poucos sustos nesta caminhada. A mudança de direção dos ventos na bolsa fazia-se mais clara a cada nova OPA (Oferta pública de aquisição) anunciada e IPO (Oferta pública inicial) postergado. Para boa parte dos investidores, a segurança do mercado passou para o lado de fora da bolsa. Então como explicar o paradoxo do sucesso da operação de uma seguradora no cenário tão turbulento na renda variável?
Desde que suas ações passaram a ser negociados na Bovespa, em 25 de abril do ano passado, nada freou o BB Seguridade (foto). A empresa de seguros driblou o ambiente árido de poucos amigos na Bovespa e já conseguiu se valorizar em 64,71%, indo de R$ 17 para R$ 28 – mais cara que as ações da de sua criadora (R$ 24,70). No mesmo período, o Ibovespa acumulou queda próxima de 1,5%. Importante destacar que, desde seu ingresso na Bolsa, as ações BBSE3 apresentavam um forte volume financeiro, superando já nos seus primeiros meses de negociação a média de R$ 150 milhões por dia. Tudo isso propiciou para que o papel entrasse no Ibovespa na carteira de janeiro. Já agora em maio, ele passou a ingressar outros dois importantes índices da Bovespa, o IBrX-50 e IBrX-100. Surpreendente? Nem tanto
Tal retrospecto fez com que, em menos de um ano de existência na bolsa, o BB Seguridade já fizesse parte do principal índice acionário do mercado nacional. Em conversa com o InfoMoney, o CFO (Chief Financial Officer) da companhia, Werner Suffert, admitiu que era difícil esperar tamanho sucesso e receptividade do mercado em tão pouco tempo. “Rapidamente tentamos nos adaptar a esse cenário e aproveitarmos melhor o momento”, conta. No entanto, o executivo lembra da longa existência da companhia, que, apesar do recente IPO já era segmento importante do Banco do Brasil. “Comparar-nos com uma start-up é inviável. Não saímos do zero, saímos de uma quantidade de prêmios emitidos e arrecadação bastante elevados. Com o IPO, o que a gente consegue ver é realmente um empenho maior para poder tratar do assunto com exclusividade, sem dividir tanta atenção com outros negócios do banco que também são importantes”, argumenta.
Apesar do momento de maior deterioração da economia brasileira, a ideia de IPO não foi considerada de grandes riscos pela companhia, assim como analistas explicam que investir na empresa no momento atual pode ser muito mais seguro que boa parte das opções atuais do mercado. A companhia apresenta maior resistência aos movimentos macroeconômicos, tem mostrado resultados animadores frente a seus pares e apresenta uma menor percepção de menor risco de interferência do governo em comparação com outras estatais. Tudo isso garante um toque a mais de confiabilidade para o papel. “O governo não vai pedir o seguro obrigatório do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro”, brinca o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, afirmando que a companhia tem menos interferências do governo que sua holding, o Banco do Brasil. Para ele, as ações do BB Seguridade estão esticadas, próximas do preço justo, que avalia em R$ 27,80. “Só novidades devem fazer o papel performar tão bem como antes”, pondera.
Em tom um pouco mais cético, o analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller, concorda que o mercado dissociou a imagem de “ingerência do governo” da companhia, mas ainda enxerga uma fragilidade na exposição às manobras econômicas públicas. “Querendo ou não, ela é uma subsidiária de uma empresa estatal. Ela não é uma empresa privada. O BB Seguridade não está nem tanto no céu, nem tanto no inferno”, comenta. Para ele, o risco governo, juntamente com uma maior deterioração da economia nacional seguem sendo os principais fatores de risco do papel, apesar de sua comprovada resiliência.
Da necessidade, nasceu a oportunidade
Suffert conta ainda que a ideia do IPO do ano passado é longa e vem de mais de um ano, ao final do plano de negócios do segmento entre 2007 e 2012. “Com o fim desse primeiro ciclo do planejamento e entrando no segundo, viu-se também a abertura de uma janela muito interessante de oportunidade que eu diria que se fechou logo depois do nosso IPO. O momento acabou sendo bastante propício”, afirma o CFO do BB Seguridade. A oferta de ações do BB Seguridade foi um sucesso: o maior do mundo em 2013 e último grande movimento nesse sentido no período, fator que vai em linha com a argumentação do executivo da empresa.
Vale lembrar que a abertura de capital da companhia também surgiu como uma alternativa ao Banco do Brasil para se capitalizar e se adequar às exigências bancárias do Acordo de Basileia 3. Caso a manobra não saísse do papel, o banco poderia começar a ter problemas em sua capacidade de crédito. Desta forma, a estatal foi capaz de enxergar uma boa oportunidade de crescer aliada às suas necessidades de mercado mesmo em um cenário que poucos ousariam se aventurar na bolsa. É irônico pensar na iniciativa tomada pelo BB se for levada em conta a série de movimentos de seus pares. O Itaú Unibanco, por exemplo, resolveu fechar o capital de uma empresa de cartões que tinha na bolsa até pouco tempo. “O Itaú, quando fez a OPA da Rede, viu assim: negócio enorme, com resultado impressionante. No entanto, eles tinham que abrir resultados para o mercado de informações não tão interessantes de se expor aos concorrentes”, explica Müller. Para ele, um dos motivos de outros bancos não seguirem a mágica do BB e ampliarem espantosamente de valor de mercado com a maior exposição das potencialidades de seus ativos internos seria a necessidade de abrir dados estratégicos indesejáveis, que poderiam ajudar a concorrência.
A mágica do BB
Ao banco, holding da empresa-prodígio, o momento é talvez de ainda mais festa. Mesmo com as ações em leve queda no período, a operação garantiu ao Banco do Brasil um crescimento de 43,23% em seu valor total de mercado – a estatal conta com participação de 66,25% sobre a novata. “Trata-se de um ativo que sempre esteve presente no BB, mas que o mercado não conseguia precificar. Ele não tinha seu valor estando fechado no banco”, explica Müller, cuja carteira recomendada de sua corretora tem os papéis BBSE3. Mesmo com afirmações como essa, a mágica dos R$ 9 bilhões parece inacreditável. De um dia para o outro, apenas fazendo o IPO de um segmento que já tinha no âmbito interno, o banco ampliou de forma bilionária sua avaliação frente os investidores.
Para os especialistas do mercado, a fórmula do sucesso do BB Seguridade não está exatamente no movimento de descolamento simbólico do Banco do Brasil. Pelo contrário: a relação direta entre as operações de ambas as companhias é vital para o crescimento da novata de seguros da bolsa, que conta ainda tem a estatal como seu controlador, mas que agora conta com um terço de seus papéis em free float. O BB Seguridade tem hoje um contrato de prestação de serviços com sua holding que garante uma economia importante em seus gastos. Mais do que isso: a empresa-prodígio da Bovespa conta com toda a estrutura do banco para vender seus produtos à ampla gama de clientes disponíveis. O céu é o limite
Carlos Müller diz que esse ainda é o mapa da mina. Apesar de a empresa ter crescido muito forte no ano passado, ainda há bastante espaço para novos ganhos. “A taxa de penetração de seguros na base de clientes do BB ainda é pequena, o que oferece um potencial de crescimento enorme”, justifica. O analista enxerga um grande diferencial na companhia em comparação com pares como BR Insurance, levando em consideração os recentes resultados entregues pela companhia. Completando o otimismo do novo xodó da bolsa, Werner Suffert explica que, no sentido oposto da deterioração econômica nacional, o segmento de seguros e previdências vive um momento de ouro no Brasil. Na visão dele, o cenário é promissor, tendo em vista a emergência de preocupações em proteção de bens para o longo prazo na mentalidade das famílias do país, hoje com um potencial bem maior de consumo do que em períodos anteriores. Com isso, a ordem da empresa agora é investir em linhas de produto já existentes para que seja possível extrair cada vez mais valor, eficiência e controle administrativo.
Seria difícil imaginar uma cria do setor financeiro superando seu criador em tamanho. Quando questionado sobre a possibilidade, Suffert diz que essa não é uma preocupação ou meta da companhia. No entanto, com tantas mágicas em tão pouco tempo aplicadas pela empresa, pode ser que o momento não aspire novo ceticismo. Quem sabe, em um futuro próximo, o improvável volte a marcar presença na Bovespa e prove mais uma vez nossa incapacidade de antever os movimentos do mercado.
Resultados surpreendem novamente
Na última terça-feira (6), o BB Seguridade voltou a orgulhar investidores que apostam em suas ações ao apresentar lucro líquido de R$ 648,7 milhões no primeiro trimestre de 2014, alta de 42,6% em relação ao resultado líquido ajustado do mesmo período de 2013. A cifra ficou acima de previsão média de quatro analistas consultados pela Reuters, que apontava para um lucro ajustado de R$ 633 milhões no trimestre. O retorno sobre seu patrimônio líquido médio chegou a 46,7% no período, durante o qual não houve o impacto de itens considerados extraordinários. No total, as receitas da companhia somaram R$ 922,4 milhões no primeiro trimestre, variação anual positiva de 36,3%. “O desempenho neste trimestre, em relação ao mesmo período de 2013, foi impulsionado pelo crescimento do resultado operacional e pela forte recuperação do resultado financeiro”, disse a companhia em release de resultados. Todas as suas linhas de negócio mostraram crescimento no lucro, com destaque para a BB Mapfre SH2, responsável pelo segmento de patrimônio, cujo lucro líquido ajustado avançou 250,7% na comparação anual, chegando a R$ 86,2 milhões. Já a Brasilcap, do segmento de capitalização, viu alta de 147,6% na mesma linha, a R$ 63 milhões.
A evolução do BB Seguridade no seu primeiro aniversário:
Data Valor de mercado Banco do Brasil Valor de mercado BB Seguridade Valor total** 25/04/2013* R$ 22,39 bilhões - R$ 22,39 bilhões 25/04/2014 R$ 20,29 bilhões R$ 17,79 bilhões R$ 32,07 bilhões Diferença -R$ 2,10 bilhões R$ 17,79 bilhões R$ 9,68 bilhões Variação -9,38% - 43,23% * Um dia antes do IPO do BB Seguridade ** O total equivale à soma de BBAS com 66,25% de BBSE3