Maior pesquisa já feita sobre gestações e nascimentos no Brasil, a “Nascer no Brasil”, coordenada pela Fiocruz - Fundação Instituto Oswaldo Cruz, com a parceria do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e de outras instituições de pesquisa e universidades, mostrou que 52% dos nascimentos ocorrem por cesariana, quando a taxa considerada aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por evidências científicas como indicado para prevenir morbidade e mortalidade materna e neonatal é de 15%. Segundo a coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, o número excessivo de cesarianas expõe desnecessariamente as mulheres e os bebês aos riscos de efeitos adversos no parto e nascimento. “O índice elevado de cesarianas se deve a uma cultura arraigada no país de que o procedimento é a melhor maneira de se ter um filho. Em parte porque, no Brasil, o parto normal é realizado com muitas intervenções e dor”, esclarece.
O levantamento revelou que quase 70% das brasileiras deseja um parto normal no início da gravidez. Entretanto, poucas foram apoiadas em sua preferência pelo parto normal. Na rede privada, o percentual chega a 88% de cesáreas. O estudo foi realizado com 23.984 mulheres de 191 cidades do país que tiveram seus filhos em hospitais de médio e grande porte da rede pública e privada de saúde. Taxas de cesariana tão elevadas são preocupantes, pois aumentam os riscos de complicações para os recém-nascidos e para as mulheres.
Entre as gestantes que tiveram parto normal, houve predominância de um modelo de atenção extremamente medicalizado, com intervenções excessivas e uso de procedimentos não recomendados pela OMS como de rotina, que provocam dor e sofrimento desnecessários quando utilizados sem indicação clínica.
O modelo de atenção perinatal na saúde suplementar foi tema de diversos debates na ANS. Na última reunião da Câmara de Saúde Suplementar, em 29/05/2014, a especialista em regulação da ANS, Jacqueline Torres, apresentou os resultados de sua tese de doutorado com dados da pesquisa Nascer no Brasil, defendida este ano na Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, sobre como reduzir a prevalência de cesarianas no setor. O modelo de atenção ao parto estudado por Jacqueline obteve êxito na redução na taxa de cesáreas em um hospital privado do interior de São Paulo. Nesse hospital, enfermeiras obstétricas trabalham como responsáveis primárias pela realização de partos normais de baixo risco, o que, de acordo com evidências científicas, aumenta as chances de partos espontâneos e diminui as intervenções desnecessárias, sem comprometer a saúde das mulheres e dos bebês.
Para Jacqueline, as operadoras de planos de saúde, em parceria com os hospitais privados, devem investir na mudança do modelo de atenção ao parto, baseado em boas práticas e nas melhores evidências disponíveis. “Deveriam investir, por exemplo, na assistência ao parto normal por equipes compostas por enfermeiras obstétricas/obstetrizes e médicos, na auditoria das indicações de cesariana, com feedback às equipes e na oferta de ambiência adequada com suítes de pré-parto, parto e pós parto e recursos não farmacológicos para suporte ao trabalho de parto e alívio da dor. O envolvimento das lideranças locais, para a implantação das mudanças do modelo é fundamental. Estas são estratégias que têm se mostrado efetivas em experiências exitosas na saúde suplementar”, afirma.
*Texto com conteúdo de divulgação da Fiocruz.