Pesquisa buscou entender predominância do
profissional médico sobre o militar na prática da
profissão
Com o objetivo de analisar o comportamento médico
no âmbito da estrutura militar brasileira enquanto profissão, e
frente aos desafios éticos do século 21, Sandra Maria Becker, aluna
de doutorado em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva elaborou
uma tese na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Foram
discutidos aspectos sociológicos e éticos estruturantes da
profissão, identificando a relação do médico militar brasileiro com
seus pacientes e as obrigações profissionais do mesmo, abordando as
diretivas de caráter ético-profissional vigentes no país e
identificando os possíveis conflitos éticos enfrentados no
cotidiano de suas atividades.
Conforme explicou
Sandra, ethos é um termo de origem grega que se
refere a "relacionamentos, comportamentos",
e ethos profissional diz respeito ao
profissional e sua conduta com a sociedade em geral. No caso do
médico militar, segundo a aluna, existem
dois ethos diferentes na mesma
corporação.
“A forma de ingresso na profissão
(concurso público; serviço militar obrigatório; voluntariado;
contrato) ou ainda, a opção pessoal em declarar-se 'médico
estritamente militar', quando abre mão de manter-se vinculado aos
conselhos profissionais de medicina e, assim sendo, impossibilitado
de exercer qualquer outra atividade médica fora da força singular a
que pertence, caracterizam a existência de
dois ethos diferentes na mesma corporação. No
caso em questão, o médico e o militar". A partir dessa constatação,
a pesquisa buscou compreender a predominância
do ethos profissional médico sobre o
profissional militar em sua prática.
Considerando o conjunto dos aspectos
sociológicos, éticos e de suporte bibliográfico e empírico, a opção
pelo duplo vínculo empregatício e a participação em ações
cívico-sociais (de paz ou humanitárias por desastres naturais ou
antropogênicos), propiciando o contato com as necessidades médicas
da população em geral, indicaram a predominância
do ethos médico sobre
o ethos militar decorrente da ação conjunta
entre o Estado e a corporação médica.
Quanto à discussão dos aspectos
ético-legais, foram exploradas no trabalho a dupla lealdade, o fato
do médico militar não ser considerado combatente, as
responsabilidades civil e social, as teorias éticas e as diretivas
relativas à atividade que apontam o predomínio
do ethos médico sobre
o ethosmilitar. O estudo possibilitou a comprovação
de que o ethos do médico militar no país é
predominantemente clínico, sob os auspícios do Estado brasileiro.
Fato que, de acordo com Sandra, é interessante, pois reafirma sua
posição de não-combatente conforme prescrito nos consensos
internacionais (dos quais o Brasil é signatário).
Sandra Maria Becker Tavares possui
graduação e mestrado em enfermagem pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Sua tese de doutorado em Bioética, Ética
aplicada e Saúde Coletiva, intitulada O médico militar e os
desafios éticos da profissão, foi apresentada na Ensp, sob a
orientação da professora Maria Helena
Machado.