Profissionais de Michigan querem aprender com
experiência brasileira, que reduziu mortalidade infantil com custos
mais baixos
Descobrir como o Brasil tem sido bem sucedido com
bancos de leite é o objetivo da pediatra americana Lisa Hammer, que
junto com outros profissionais de saúde da Universidade de Michigan
(UM) esteve no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e
do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), entre os dias 25 e
29 de agosto. Este é um exemplo de inovação reversa, com parceiros
internacionais da universidade, fornecendo modelos de sucesso que
podem ser implantados no sistema de saúde da UM. O sistema de banco
de leite humano brasileiro é o principal responsável por um
declínio de 73% na mortalidade infantil nas últimas duas
décadas.
Nos Estados Unidos, o sistema de
banco de leite fica muito aquém da demanda e basicamente não é
regulado. "Aqui o leite materno é vendido por U$ 4 por Oz (0.118
L). É uma barreira significativa e no Brasil essa barreira foi
removida", explica Lisa Hammer, uma das profissionais que estiveram
no Instituto.
Para a coordenadora de produto e
qualidade da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano do IFF,
Danielle Aparecida da Silva, os EUA têm um modelo que não tem a
responsabilidade da amamentação, não tem a prática da amamentação,
a não ser o dia a dia, e este foi o grande diferencial. “Saber como
grande parte da população amamenta, como manter os níveis elevados
e como a amamentação ajudou a diminuir a mortalidade infantil foi o
que atraiu a atenção da UM. Consequentemente, eles se interessaram
em como trabalhamos o leite humano como um fluido funcional. Eles
vieram em busca de como manipular o alimento”, explica.
O Brasil é conhecido
internacionalmente pela sua rede bem organizada, com bom
custo-benefício, regulamentação dos bancos e ampla aceitação social
de práticas de aleitamento materno e doação de leite humano. “Os
EUA chegaram até nós por meio do Prêmio Sasakawa de Saúde. Esta
premiação veio justo pelo diferencial que temos. Não somos somente
um banco de leite, onde a mãe o deposita e nós distribuímos. Também
começamos a trabalhar a promoção e o incentivo ao aleitamento
materno. Não vemos o leite humano como um medicamento. Conseguimos
manter um padrão de qualidade de um alimento funcional e com isso
trazemos a tecnologia de alimento e a adaptamos para manter
características que não vão servir somente a um bebê, mas a
diversas necessidades de vários bebês”, comenta
Danielle.
O leite materno doado para um banco
passa por um processo de seleção, classificação e pasteurização e é
então distribuído aos bebês internados em unidades neonatais. “O
alimento vai ajudar no sistema imunológico, no crescimento e
desenvolvimento e auxilia também em aspectos probióticos. Ou seja,
temos um cuidado maior com esse leite, pegamos todas as
características dele para suprir as necessidades de cada bebê”,
esclarece a coordenadora.
A rede brasileira também fornece
educação e treinamento para os funcionários de bancos de leite,
realiza pesquisas sobre a metodologia do leite doado e o controle
de qualidade humana, divulga informações sobre bancos de leite e
colabora com o governo nacional na concepção de políticas de saúde
pública. A Universidade de Michigan foi a primeira faculdade de
medicina americana interessada na colaboração com a rede de banco
de leite brasileiro, e se uniu ao Brasil para saber mais sobre este
sistema exclusivo e quem sabe implantá-lo nos EUA.
A delegação incluiu médicos,
enfermeiros, nutricionistas, consultores de lactação e estudantes
de saúde pública da UM. Eles trabalharam diretamente com os
colaboradores para adquirir experiência prática e desenvolver
projetos internacionais com foco em aleitamento materno, leite
humano e nutrição infantil. Esta semana experimental deve começar a
definir o cenário para uma parceria internacional, que
potencialmente será que um exemplo de como a colaboração global
pode melhorar a saúde infantil em todo o
mundo.