Interessados podem ligar para (11) 3867-5750 para reaver seus prontuários. Empresa tem uma dÃvida de R$ 221 milhões e pediu falência.
Milhares de clientes da Imbra, uma das maiores empresas de tratamento odontológico do paÃs, que gastaram R$ 20 mil, R$ 30 mil por um tratamento, foram pegos de surpresa com a falência do grupo.
Diante da situação, o sentimento dessas pessoas vai da frustração à revolta. "Foram enrolando, enrolando, enrolando. Marcaram pra eu vir hoje. Chego aqui e está fechado", diz o aposentado Osvaldo de Moura. "Vim reclamar e a porta fechada, não tem ninguém aqui", reclama a cabeleireira Roseli Macedo.
Sônia Oliveira Barbosa não escondia a frustração. "Era a coisa que eu mais sonhava. Era um sonho que eu tive." "Eu só queria meus dentes, mais nada. Olha o que foi que eu ganhei: um par de algemas", dizia, revoltado, o comerciante Marcos Pereira Lacerda.
Na quarta-feira, dia 6 de outubro, a Imbra, cuja sede fica em São Paulo, declarou à Justiça possuir uma dÃvida que não tem como pagar, no valor de R$ 221 milhões.
No Brasil todo, 27 clÃnicas foram fechadas e 25 mil clientes ficaram sem explicação e com um enorme prejuÃzo. "Me cobraram R$ 17 mil", conta Lacerda. “R$ 12 mil. Paguei à vista, adiantado", relata Moura.
Muita gente foi à clÃnica na zona sul de São Paulo com consulta marcada sem saber que a Imbra tinha pedido autofalência e encontrou a porta fechada e o prédio vazio. Só nesta unidade, cerca de 1.500 pessoas ainda estão em tratamento. Muitas fizeram cirurgias delicadas na boca e precisam retirar os pontos. Outras, não viam a hora de colocar a prótese definitiva, mas, o tão sonhado sorriso novo, pode agora virar um pesadelo sem fim.
"A gerente me falou que realmente tinha falido e que era para todo mundo pegar suas coisas e ir embora", conta a funcionária Françoise Gomes Pereira.
"Devia ter umas 15 pessoas na sala de espera. Acredito que uns 6 pacientes sendo atendidos", enumera a dentista e gerente da Imbra Daniela Velho.
A maior procura dos pacientes era por implantes dentários - tratamentos muito caros, que utilizam peças de titânio para sustentar dentes artificiais que substituem aqueles que já foram perdidos.
Marcos Pereira Lacerda contratou um tratamento de R$ 17 mil na Imbra do Morumbi, bairro nobre de São Paulo. "Na unidade do Morumbi só vai gente rica, não vai fechar. Cheguei lá, eu vi a porta fechada, eu entrei em desespero, entrei em desespero."
Pereira, que já tinha passagem pela polÃcia por porte ilegal de arma, foi detido em flagrante quando levava da clÃnica um monitor de computador e dois microondas. "Para eles não faz diferença R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 17 mil, mas para mim faz. Eu vendo sorvete para poder pagar isso aÃ", desabafa.
A Imbra estava na mira do Conselho Regional de Odontologia desde 2008, por conta das propagandas agressivas.
"Convidando as pessoas para consultas gratuitas. Chegava nas clÃnicas, e o pessoal treinado por esses empresários e induziam os clientes a assinarem cheques pré-datados", relata o presidente do conselho em São Paulo, Emil Adib Razuk.
A propaganda atraiu a famÃlia Avelino, de Taboão da Serra, municÃpio da Grande São Paulo. "Ganhamos juntos uns R$ 3 mil. Pagamos R$ 1,2 mil de dente", conta a cuidadora de idosos Adriana de Souza Avelino.
Foram 24 cheques de R$ 1,2 mil cada para pagar um tratamento de mais de R$ 27 mil. Donizete é caminhoneiro. Extraiu cinco dentes e espera o implante de nove. Por enquanto, está com dentes provisórios.
"A clÃnica agiu de má fé, porque se ela sabia que não estava indo bem, como ela foi fazendo tratamento e pegando vários cheques, com vários clientes?", questiona Adriana.
"A maioria não entende que a gente não tem culpa. Eles acham que a gente já sabia e não avisou nada. Fomos pegos de surpresa, até mais que os clientes, porque esperávamos que tudo isso ia normalizar", desabafa a funcionária LetÃcia Contreras.
Uma semana antes de pedir falência, a diretoria da Imbra comunicou por e-mail aos dois mil funcionários que não pagaria o salário - era o terceiro mês seguido de atraso nos pagamentos. Em casos de falência, a Justiça determina o leilão dos bens da empresa para pagar primeiramente as dÃvidas trabalhistas.
"Credores trabalhistas estão na ordem de preferência em primeiro lugarâ€, avisa Luiz Antonio Miretti, advogado especialista em falências.
A dÃvida com os clientes só será saldada caso sobre dinheiro. "Existe a possibilidade de o consumidor não conseguir reaver esse valor pago a Imbra", alerta MaÃra Feltin Alves, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
O paciente que se sentir prejudicado deve recorrer à Justiça.
"De 2006 até hoje paguei de R$ 26 mil a R$ 30 mil para tentar recuperar os dentesâ€, fala a dona de casa Sumiê Suzuki. A dona de casa não aceita o prejuÃzo. Em busca de uma resposta, ela liga para o dentista que fez o tratamento na Imbra:
Sumiê: - Poxa, eu paguei valor de R$ 30 mil, doutor.
Dentista: - A senhora já tinha pago, né?
Sumiê: - Já paguei tudo!
Dentista: - Ai meu deus!
A dentista e gerente da Imbra Mariana Terreri relata que boa parte dos pacientes está com o tratamento pela metade. "Risco tem. De vida, não. Mas de perder o implante, de perder a prótese, da prótese não ficar boa", admite.
A Imbra foi comprada há apenas quatro meses pela empresa Arbeit. “A Imbra não deu um golpe nos pacientes. Quando nossos clientes tomaram posse na empresa, encontraram uma quebra de caixa de mais de R$ 100 milhões", diz o advogado Esper Chacur Filho, representante da Arbeit.
O grupo GP, antigo dono da Imbra, respondeu por meio de nota que o novo comprador teve tempo suficiente para avaliar a situação da Imbra e que durante a sua gestão atendeu os pacientes sem atraso e pagou os funcionários em dia.
A Imbra colocou o telefone (11) 3867-5750 à disposição dos pacientes que quiserem retirar seus prontuários nas clÃnicas. Segundo o advogado, a Imbra também encaminhou ao juiz mais de R$ 8 milhões em cheques pré-datados de seus clientes, que não serão descontados.
Quem quiser concluir o tratamento, terá que gastar ainda mais. "Eles vão ter que procurar outras empresas odontológicas, outros dentistas que possam vir a atendê-los", fala o advogado Chacur Filho.
"Eu deixei de fazer coisas que eu falei: não, nesse ano, prioridade é o dente", diz Adriana Avelino. "No fim, nós caÃmos num contoâ€, lamenta Sumiê Suzuki.
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