As empresas de planos privados de saúde investiram pesado nas eleições de 2014 e doaram R$ 54,9 milhões para 131 candidatos. O apoio financeiro de 40 empresas do setor ajudou a reeleger Dilma Rousseff, três governadores, três senadores, 29 deputados federais e 29 deputados estaduais. No total, 60 foram eleitos e outros 71, não. O montante doado em 2014 representa 263% a mais que o financiamento dos planos feito na campanha eleitoral de 2010, que foi de R$ 15,1 milhões.
Os dados fazem parte do estudo "Representação política e interesses particulares na saúde", dos professores e pesquisadores Mário Scheffer, da USP, e Lígia Bahia, da UFRJ. Tem como base doações registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O apoio dos planos é suprapartidário e beneficia legendas de várias matizes ideológicas, do PT ao DEM. Os recursos são doados para diretórios e candidatos. A campanha de Dilma recebeu o maior valor, R$ 11 milhões. Outros dois candidatos a presidente receberam bem menos: Maria Silva (PSB), R$ 689,3 mil; e Aécio Neves (PSDB), R$ 507,3 mil.
Os pesquisadores chamam a atenção para dois aspectos do estudo. Primeiro, o aumento de dinheiro injetado pelos planos em campanhas eleitorais. Segundo, o comparecimento simultâneo de empresas distintas da assistência médica suplementar. "A cada nova eleição no Brasil, os planos de saúde aumentam as apostas em candidatos ao Legislativo e Executivo, estendendo-as para políticos das três esferas de governo, de diversos partidos e candidaturas, tanto majoritárias quanto proporcionais", afirmam os autores do estudo.
Os planos apoiaram 13 candidatos a governador, três deles eleitos: Geraldo Alckmin (PSDB-SP), cuja campanha recebeu R$ 1,6 milhão; Paulo Câmara (PSB-PE), R$ 500 mil; e José Ivo Sartori (PMDB-RS), R$ 150 mil. Dos quatro candidatos ao Senado beneficiados com doações do setor, três se elegeram: Fernando Collor (PTB-AL), R$ 300 mil; Ronaldo Caiado (DEM-GO), R$ 100 mil; e Lasier Martins (PDT-RS), R$ 1 mil.
Na disputa da Câmara, se comparado com 2010, os planos doaram volume maior de recursos a um número menor de candidatos a deputado federal. Em 2010, o setor ajudou a eleger 38 deputados; ano passado, esse número caiu para 29 eleitos. Outros 23 não conseguiram sucesso nas urnas. Entre os eleitos, os cinco parlamentares que receberam maior volume de recursos foram: Darcísio Perondi (PMDB-RS), R$ 520 mil; Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), R$ 300 mil; Eduardo Cunha (PMDB-RJ), R$ 250 mil; Osmar Serraglio (PMDB-PR), R$ 250 mil; e Saraiva Felipe PMDB-MG), R$ 180 mil. São parlamentares que integram a chamada "bancada da saúde" no Congresso.
Entre as empresas doadoras, a Amil, do setor de medicina de grupo, foi a que mais destinou recursos para candidatos. A Amil doou R$ 26,3 milhões, que representam 48% do total destinado para campanha de políticos em 2014. A principal beneficiada foi a campanha de Dilma, que recebeu dessa empresa R$ 7 milhões. Em 2010, segundo o estudo, a empresa havia doado apenas R$ 300 mil. A Amil é o maior plano privado do país, com mais de 4,5 milhões de usuários de planos de assistência médico-hospitalar.
Em outubro, quando levantamento parcial de doações para a campanha mostrava que a Amil já havia doado R$ 4 milhões para Dilma, a empresa respondeu que financia campanhas eleitorais com seus recursos e que tem como critério o programa dos candidatos.
"A Amil informa que apoia o financiamento de campanhas eleitorais, com recursos próprios, de acordo com as regras e limites estabelecidos pela legislação eleitoral vigente, contribuindo, assim, para o fortalecimento dos processos da democracia brasileira. A empresa reitera que apoia legendas ou candidatos de acordo com os programas apresentados à sociedade", informava a nota da Amil.
Mário Scheffer e Lígia Bahia entendem haver indícios que permitem associar a influência do financiamento das campanhas e a atuação do parlamentar ou do governante eleito. "A doação certamente é orientada pela predisposição e proximidade prévias dos candidatos com as empresas doadoras. Registros de compromissos e envolvimentos anteriores dos candidatos com a expansão dos mercados de empresas de planos de saúde corroboram a hipótese de articulações anteriores entre essas empresas e candidatos", dizem Scheffer e Bahia.
Para os professores, os investimento dos planos de saúde em campanhas eleitorais tem se mostrado produtivo, se considerados, entre outros indicadores, a presença constante de representantes desse setor privado em cargos de direção na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a aprovação, no Congresso Nacional, de projetos que beneficiam economicamente as empresas.