É na hora de um acidente que
podemos entregar o nosso produto. Essa é uma frase clássica dos
executivos do mercado segurador em todo mundo. Muitos reclamam que
pagam o seguro e nunca usam. E digo. Melhor não usar mesmo. Mas é
um alívio ter um seguro num momento de crise. Os acionistas da
Ultracargo entendem bem isso. Cliente das seguradoras há 40 anos
com apólices de riscos patrimoniais e de responsabilidade civil, o
grupo praticamente não usou o seguro para um evento de grande
porte.
Agora chegou a hora de usar a
expertise das seguradoras bem como o valor financeiro contratado,
que tem limite máximo indenizável de R$ 550 milhões, segundo notas
explicativas das demonstrações financeiras de 2014. Os
profissionais de seguros acompanham de perto a equipe de bombeiros
e de profissionais do segurado que lutam para apagar um incêndio em
tanques de combustível desde o dia 2 de abril. No dia 10, a
informação era de que o fogo tinha sido controlado e o desafio
estava em afastar a ameaça de possível ressurgimento das labaredas
em função do derramamento de combustíveis próximo ao solo.
MarioDiCroceSegundo informou Mário
Di Croce, vice-presidente do IRB Brasil RE ao blog Sonho Seguro,
estão envolvidas no contrato entre 10 e 15 seguradoras e
resseguradoras no Brasil e no exterior. Sem revelar qualquer
detalhe financeiro ou de cláusulas do contrato, Croce afirmou que
esse é o momento em que o setor de seguros pode mostrar o seu papel
social. “O objetivo do nosso negócio é vender proteção para perdas
improváveis”, disse. Segundo ele, uma equipe das seguradoras e
resseguradora está no local desde o início do incêndio, buscando
ajudar o segurado no que for preciso.
Até mesmo a presidenta Dilma
Rousseff colocou o governo federal à disposição do estado de São
Paulo e da prefeitura de Santos para auxiliar no combate ao
incêndio. De acordo com informações da holding Ultrapar, a
Ultracargo faz o armazenamento e a movimentação de produtos
químicos e petroquímicos na área industrial da Alemoa. Dos 175
tanques no terminal portuário em Santos, os seis que foram
atingidos pelo incêndio têm capacidade de 5 mil a 6 mil metros
cúbicos. “Ainda é muito preliminar para falar das perdas. Esses
tanques queimados provavelmente terão perda total”, acredita o
executivo. Como esses tanques representam menos de 5% da capacidade
instalada da Ultracargo, a expectativa é de que a importância
segurada é mais do que suficiente para cobrir os estragos
materiais.
Além dos danos materiais, os
investigadores das seguradoras vão levantar danos financeiros, como
lucro cessantes, aquele que se deixa de ter por ter a operação
interrompida por um dos eventos do seguro, neste caso incêndio, e
também danos materiais e financeiros causados a terceiros. A
imprensa noticia carros danificados com fumaça e materiais usados
no combate ao incêndio, como transportadoras que reivindicam
indenizações porque não conseguiram levar a mercadoria até o porto
de Santos em razão do caminho estar bloqueado. Segundo o Sindicato
das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo
(Sindamar), os prejuízos do setor de navegação devido aos atrasos
na atracação de navios chegaram a US$ 6 milhões.
“Os danos ao meio ambiente também
são questionados por moradores e farão parte do levantamento de
informações das seguradoras”, explicou Di Croce. A prefeitura de
Cubatão já se manifestou solidária aos pescadores prejudicados pela
morte de toneladas de peixes em razão da alta temperatura da água e
possivelmente pela contaminados pelos produtos químicos vazados dos
tanques.
O papel dos investigadores das
seguradoras é levantar as causas e danos. É preciso averiguar as
causas do acidente. Há informações de que o fogo teve início em
tanques novos, recém instalados. “Será preciso apurar se todas as
normas de instalação foram seguidas, se os tanques foram
vistoriados e se houve algum erro de projeto. São informações
rotineiras de uma regulação de acidente”, comenta o ressegurador.
“Será um longo processo de regulação e que com certeza trará
ensinamento a todos”, afirma Di Croce.
IMG_7985O principal aprendizado
está no conjunto gestão de risco. Uma das lições já pode ser
tirada. Por se demora tanto para debelar esse incêndio? Mais de um
bilhão de litros de água do mar já foram bombeados. E se um
incêndio desse acontecesse em um local longe do mar, como seria
controlado com a crise de falta de água que o país vive?”. Croce
diz que essa é um dos itens que passará a ser priorizado no
levantamento de risco de outros programas de seguro. “Qual o
contingenciamento adotado para uma situação similar a essa diante
deste cenário de falta de água?”, comenta.
Mesmo que se esgote o valor da
importância segurada, algo que não deve ocorrer, as perdas causadas
por esse evento serão absorvidas com tranquilidade pelo setor
diante da pulverização do risco e da política de precificação
adotada pelas companhias. Isso significa dizer que o preço do
seguro é calculado de acordo com o risco que ele representa. Croce
afirma que a Ultracargo é cliente do setor há mais de 40 anos e
sempre se mostrou uma boa gestora de riscos, com um histórico
estável de acidentes. “A empresa está tomando todas as medidas para
mitigar o risco e certamente continuará a ser considerada pelo
mercado como um cliente importante”, finalizou Di Croce.