O mercado de seguros projeta um
2016 mais desafiador do lado operacional, com aumento da
sinistralidade como reflexo da crise no país, mas ainda assim
espera sustentar expansão de prêmios de dois dígitos no próximo
ano.
Haverá, de qualquer forma, uma
desaceleração desses prêmios e o resultado financeiro crescerá de
modo mais contido, obrigando as companhias do setor a serem mais
competitivas em preço, mesmo que essa postura signifique sacrificar
um pouco as margens do segmento.
Depois de sentir a crise de modo
mais forte no terceiro trimestre, o mercado de seguros revisou suas
expectativas para 2015 e também prevê menor avanço neste 2016.
Espera alta de 11% nos prêmios
emitidos em 2015, contra cerca de 12% estimados no final de 2014
pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). No próximo
exercício, o crescimento deve ficar em 10,3%, segundo a
entidade.
“Teremos um crescimento um pouco
mais modesto, mas o Brasil ainda tem espaço para crescer em
seguros”, avalia o superintendente da Superintendência de Seguros
Privados (Susep), Roberto Westenberger, em entrevista ao Broadcast,
serviço em tempo real da Agência Estado.
Um dos responsáveis pela
desaceleração mais rápida do setor, conforme demonstram as
projeções da CNseg, é o ramo de saúde complementar.
O setor deve crescer 11,4% em 2016,
contra projeção de avanço de 13,2% para este ano. Marcio Coriolano,
presidente da Bradesco Saúde e da Federação Nacional de Saúde
Suplementar (FenaSaúde), explica que a crise econômica e também a
Lava Jato, que resultou em várias demissões nas empresas
envolvidas, afetam diretamente o setor, que ainda assim mostra
“resiliência” pelo fato de o plano de saúde ser um dos últimos
itens a entrar na lista de ajuste das famílias.
O segmento também será afetado,
conforme Coriolano, em termos de sinistralidade, uma vez que as
pessoas que engordam a lista do desemprego tendem a utilizar mais o
plano.
Gabriel Portella, presidente da
SulAmérica, observa, porém, que o mercado está mais bem preparado
sob o ponto de vista de gestão de sinistros.
“Em 2009, não estávamos preparados
e o mercado também não. Agora, as empresas estão mais conscientes,
o desenho dos planos mudou, os funcionários participam mais com
co-participação”, admite o executivo.
Já na área de seguro de automóvel,
o mercado prevê leve aceleração. A CNseg espera expansão de 3,9% no
próximo ano, contra expectativa de alta de 3,5% em 2015.
Como estímulo para o segmento, a
despeito da queda nas vendas de automóveis, o presidente do
conselho de administração da Porto Seguro e também interino da
CNseg, Jayme Garfinkel, cita o seguro popular, que permite a
utilização de peças usadas no conserto de carros segurados,
atualmente em consulta pública.
“51,9 milhões de veículos com mais
de cinco anos de uso não têm seguro. É um mercado que pode passar a
ser explorado a partir do seguro popular, que deve ser realidade no
ano que vem”, avalia ele.
Garfinkel admite, entretanto, que a
sinistralidade tende a piorar no segmento, assim como as fraudes,
por conta do ambiente atual, mas não projeta um “aumento
dramático”.
Uma alternativa, segundo ele, são
produtos securitários mais simples. Ao longo de 2015, a demanda por
soluções mais econômicas já aumentou. A Ituran, que vende
rastreadores acompanhados de coberturas securitárias mais simples,
espera crescimento de cerca de 30% neste ano, enquanto o mercado
tradicional de seguro de automóvel cresce menos de 5%.
Aquisições
O próximo ano também deve ser
movimentado para o mercado de seguros sob o ponto de vista de
aquisições e vendas de carteiras. Há muitas conversas em andamento
que podem, já no primeiro trimestre, render negócios. Um deles é a
busca da Bradesco Seguros por um parceiro internacional para formar
uma joint venture na área de grandes riscos.
A alemã HDI, que vai perder o
balcão do HSBC para a seguradora por conta da venda do banco inglês
ao Bradesco, e a suíça Swiss Re, conforme fontes, estão entre as
apostas do mercado.
Também ficou para 2016 a venda da
carteira de seguro de vida em grupo do Itaú Unibanco e o que sobrou
da Garantec, empresa com foco em garantia estendida.
Na área de resseguros, a gestora
Vinci Partners colocou à venda o Grupo Austral, que contempla uma
seguradora e uma resseguradora.
Dentre os players que negociam o
ativo, conforme fontes, está a XL Group. A lista de interessados,
segundo as mesmas fontes, pode incluir ainda a Swiss Re, a Ace e a
Axa.
Entre as corretoras, novos negócios
também podem ocorrer. Recentemente, a americana Lockton, maior
corretora de capital fechado do mundo, adquiriu a brasileira
VIS.
Além de aquisições, são esperados
desfechos quanto ao futuro do IRB Brasil Re e da Caixa Seguridade.
Ambos planejaram abrir capital na bolsa brasileira, mas tiveram
seus planos interrompidos diante da deterioração da economia e
consequente perda de grau de investimento por parte das agências de
rating.
No caso da Caixa Seguridade, ainda
é preciso negociar com os controladores franceses, a CNP
Assurances. Já o IRB tem até 2018 para listar ações no âmbito do
processo de desestatização que o transformou em uma empresa
privada, mas antecipou os planos em meio à necessidade do governo
de ajustar suas contas.
Resultado
financeiro
O reforço que as seguradoras
tiveram ao longo de 2015 do ponto de vista financeiro, de acordo
com executivos, será mais brando no próximo ano.
Isso porque, embora as expectativas
indiquem novos aumentos de juros, a intensidade menor deve limitar
os ganhos. De janeiro a outubro, o resultado financeiro das
seguradoras cresceu 39,5%, para cerca de R$ 56 bilhões, segundo
dados da Susep.
As seguradoras são consideradas
grandes investidoras por aplicarem boa parte das chamadas reservas
técnicas, recursos acumulados para fazer frente às indenizações
futuras, em títulos públicos.