Depois de oito anos com plano de saúde, o casal de empresários Augusto e Rafaela Munchen, de Balneário Camboriú, resolveu conter gastos e cancelou o serviço. Eles perceberam que pagar uma consulta particular de vez em quando sairia mais em conta do que a mensalidade. Os empresários não são os únicos que, diante da crise econômica, estão abandonando os planos.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam que houve uma queda de 4% no número de beneficiários no Estado entre março de 2015 e deste ano, quando mais de 61 mil pessoas deixaram as operadoras. No país, no mesmo período, a queda foi de 2,6%. A última retração expressiva no número de beneficiários catarinenses havia sido registrada em 2012 (9,3%).
Para o superintendente executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, Luiz Augusto Carneiro, os planos de saúde sofrem as consequências do aumento do desemprego no Brasil, que elevou os cancelamentos dos contratos coletivos empresariais (planos disponibilizados pelas empresas para os funcionários):
– Santa Catarina registrou, em dezembro de 2015, um saldo acumulado de 35,3 mil demissões de empregos diretos, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Até março deste ano, o saldo adicionado era de mais 3,8 mil demitidos no Estado. Obviamente, há uma clara correlação entre índice de desemprego e número de beneficiários – reforça Carneiro.
Maior queda é de serviços contratados pelas empresas
Os planos empresariais apresentaram a maior queda (5,8% de decréscimo) em Santa Catarina, o que resultou em menos 58,8 mil pessoas com contratos nesta modalidade entre março de 2015 e de 2016.
Por meio de nota, o presidente da Unimed Grande Florianópolis, operadora com maior número de beneficiários em Santa Catarina, Theo Fernando Bub, acrescenta que mesmo com a saúde sendo considerada uma prioridade, a recessão econômica provoca necessidade de ajustes nos orçamentos dos usuários, o que pode levar ao corte do plano de saúde.
E a tendência é que a queda continue até o fim do ano, aponta Pedro Ramos, diretor da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge):
– Se o quadro de crise econômica se mantiver, com alta nos índices de inflação e desemprego, a tendência é que em 2016 haja uma perda ainda maior.
Os empresários que cancelaram o plano em Balneário Camboriú até cogitam voltar ao benefício, pois têm dois filhos pequenos e se preocupam caso aconteça uma emergência. Mas, por enquanto, a adesão do casal está prevista só para o ano que vem.
Reclamações crescem em SC
A empresária Rafaela Munchen afirma que um dos maiores entraves quando tinha plano de saúde era marcar consulta com ginecologista, que tinha fila de espera e demorava quase um ano até conseguir o atendimento. Hoje no atendimento particular consegue para a mesma semana. A demora para marcar consultas é apenas uma das reclamações dos usuários, que aumentaram 22% no Estado entre janeiro e março de 2016 em comparação com o mesmo período do ano passado. Só em março deste ano, foram 90 queixas junto à ANS, principalmente em relação à cobertura (64,4%).
O diretor da Abramge, Pedro Ramos, reconhece que é necessário melhorar, mas ressalta que as reclamações representam uma ocorrência para cada 25 mil atendimentos no ano. Já a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci, acredita que as pessoas estão reclamando cada vez mais, principalmente devido aos ajustes de preços, além da falta de atendimento, de autorização para procedimentos e demora para consultas.
Ela reforça que é fundamental registrar a reclamação na ANS, que fiscaliza e pode até multar as operadoras, e também nos órgãos de defesa do consumidor. No Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, por exemplo, os planos aparecem como serviço pior avaliado pelo quarto ano consecutivo.
Novos públicos para driblar os efeitos da crise
Mesmo em meio à crise e à queda de beneficiários, algumas operadoras conseguem apresentar crescimento na contratação de planos. Um dos casos é o da Agemed, com sede em Joinville, que entre março de 2015 e de 2016, segundo dados da ANS, cresceu 13% – a operadora afirma que os dados não são totalmente atualizados e que cresceu 35% – e assumiu a segunda colocação em número de beneficiários em Santa Catarina.
O diretor nacional de vendas da Agemed, Mário Silva, explica que o resultado se deve ao foco em planos voltados a micro e pequenas empresas, com flexibilidade de ofertas.
– Cerca de 70% dessas organizações não ofereciam o benefício aos colaboradores. Crescemos levando a oferta da saúde suplementar a um público que estava desatendido.
Mudanças na Unimed Florianópolis a partir de terça-feira
Nesta semana os clientes da Unimed Grande Florianópolis começam a sentir asmudanças que já foram anunciadas no início do ano. As atividades de ambulatório da unidade Trindade se encerram nesta terça-feira e o pronto-socorro funciona até sexta.
Após essa data, clientes das regiões leste, norte e sul da Ilha de Santa Catarina precisarão se deslocar ao pronto-atendimento adulto na unidade Kobrasol. Essa unidade continuará em funcionamento até que sejam instaladas as unidades de pronto atendimento adulto e infantil no Hospital Unimed em São José, ainda sem data prevista.
Unimed esclarece como fica o atendimento com fechamento de unidades na Grande Florianópolis
O pronto atendimento infantil continuará na Unidade Centro durante essa etapa do cronograma.Para amenizar os impactos, a Unimed Grande Florianópolis firmou parcerias. Uma delas é com o Hospital Baía Sul, que passou a oferecer também o serviço de atendimento de urgências e emergências aos clientes da Unimed.