Antonio Cássio lidera, em toda a América Latina, uma das maiores seguradoras do mundo, a italiana Generali. Ele vê o setor como resiliente à crise, mas está preocupado com a pressão inflacionária.
1. Como anda o setor de seguros no Brasil? Até agora, o setor mostra um nível de resistência bastante alto. As regulações que foram criadas ao longo da década passada e estimularam o surgimento de todo um novo portfólio de produtos, o que contribui para a sustentação do mercado mesmo nesses tempos difíceis que atravessamos.
2. Com a crise econômica, o setor consegue se manter saudável por quanto tempo? Bem, se a queda de renda da população começar a se mostrar acentuada demais, aí até mesmo nossa indústria começará a sofrer. Ainda assim, a maior preocupação que tenho no momento, como executivo do ramo, não é o crescimento do setor, mas sim a inflação específica dos seguros que nos atinge.
3. Como assim? Uma coisa é a inflação oficial, outra coisa é a inflação específica do setor de seguros. Reparo de veículos, por exemplo, é algo que tem ficado cada vez mais caro, e isso afeta diretamente nosso setor. Hoje, se você tiver seu carro quebrado, o preço do conserto certamente será bem superior ao que era há dois anos atrás, para o cliente e para nós, seguradoras.
4. E quanto aos outros produtos oferecidos pelas seguradoras? Os dois pilares do setor no Brasil são Vida e Previdência, por um lado, e Automóveis, por outro. Em Vida e Previdência nós temos um volume de reservas bastante grande, e este volume não tende a diminuir. Por isso, este nicho específico dos seguros não se abate, até porque a regulação do setor foi feita de forma a facilitar para as empresas terem uma política anticíclica em momentos como este. Previdência e Vida têm um excelente perfil porque a taxação é muito menor também. 5. Então, é a inflação específica do ramo que pode abalar as seguradoras?
Minha visão é que nós temos uma inflação de custos que fatalmente vai afetar a rentabilidade do setor de seguros. Isso eu não tenho dúvida. E, quando você afeta a rentabilidade, não tem outra saída que não a de fazer o ajuste via aumento de preços.