Aumento de furtos e roubos de
veículos, de um lado, e do uso do seguro saúde em meio ao aumento
do desemprego enfraqueceram resultados Por Aline Bronzati
As seguradoras entregaram mais um
trimestre de resultados fracos em relação ao exercício anterior,
como reflexo do aumento de sinistros e também de impostos. Com
isso, a Porto Seguro viu seu lucro encolher e a BB Seguridade reviu
para baixo sua projeção para 2016. O crescimento dos prêmios e
receitas permaneceu em um dígito na maioria das companhias, mas a
expectativa de melhora do ambiente econômico nos próximos meses deu
um tom mais otimista em relação à segunda metade do ano.
No segundo trimestre, período do
ano sazonalmente mais fraco para o setor, BB Seguridade e
SulAmérica, controlada pela família Larragoiti, ainda conseguiram
apresentar números em linha com as projeções de analistas. Na
contramão, a Porto Seguro foi afetada por fatores climáticos, além
de roubos e furtos que elevaram as ocorrências no seguro de
automóvel, sua principal área de atuação.
A BB Seguridade conseguiu acelerar
o crescimento do seu lucro no segundo trimestre em relação ao
primeiro. Pesou, contudo, na análise do mercado, a revisão para
baixo de suas projeções de crescimento. A companhia espera que seu
lucro líquido ajustado cresça de 4% a 8% neste ano, e não mais de
8% a 12%. Como justificativa, além do desempenho de algumas linhas
abaixo do esperado, mencionou ainda o aumento da contribuição sobre
o lucro líquido (CSLL) e a majoração de PIS/Cofins a partir de
março no seu braço de corretagem.
Agora, a BB Seguridade mira o
centro da projeção para 2016, mas vê seu faturamento retomando a
patamares históricos no próximo ano, em meio à melhora do ambiente
para fazer negócios no Brasil. Werner Süffert, diretor de Gestão
Corporativa e de Relações com Investidores da companhia, lembrou
ainda que o resultado da holding teria sido bem maior não fosse o
aumento dos impostos, na medida em que a companhia conseguiu ter
boa performance em alguns segmentos, como em previdência, por
exemplo, apesar de 2016 ser um ano ‘difícil’ e ‘atípico’.
‘Para o segundo semestre, esperamos
impacto positivo do novo portfólio de seguro de vida e
capitalização. Seguimos com foco em produtos de maior margem’,
avaliou o diretor da BB Seguridade, em entrevista ao Broadcast,
notícias em tempo real do Grupo Estado.
A Porto Seguro também prevê melhor
desempenho na segunda metade do ano, quando a companhia deve buscar
recomposição de resultado no seguro de automóvel, além do
realinhamento de preços que já fez. Impactada pelo aumento de
sinistros, tanto no seu principal ramo de atuação como no seguro
saúde, a seguradora viu seu lucro diminuir quase 37% no segundo
trimestre ante um ano, para cerca de R$ 173 milhões.
‘Já esperávamos algum aumento de
sinistros por conta do reposicionamento de preço da marca Azul,
para ser mais competitiva em algumas regiões, mas o segundo
trimestre veio fora do nosso alvo em função de chuvas, granizo e
incidência de roubo’, explicou o presidente da Porto Seguro, Fábio
Luchetti, em teleconferência com analistas e investidores.
Operacional. A expectativa, segundo
ele, é de que a sinistralidade no automóvel piore 3 pontos
porcentuais neste ano em relação a 2015. Quanto ao seguro saúde,
Luchetti disse que o indicador deve voltar ao patamar normal no
segundo semestre, após um aumento ‘bem acima’ do esperado na
primeira metade de 2016, quando o número de ocorrências cresceu
como reflexo da crise, com beneficiários antecipando procedimentos
em meio ao aumento do desemprego. A sinistralidade da Porto
aumentou 5,3 p.p. no segundo trimestre ante o mesmo período de 2015
e fez com que o índice combinado, que mede a eficiência
operacional, ultrapassasse os 100%, o que sinaliza prejuízo da
operação.
No caso da Bradesco Seguros, também
pesou a sinistralidade em saúde, impactada por um aumento de
frequência como visto na Porto Seguro. A dinâmica do segmento,
conforme o diretor-presidente da seguradora, Randal Zanetti, está
‘totalmente inserida no ambiente macroeconômico’ e que também é
impactado pela inflação médica. Apesar disso, a Bradesco Seguros
reiterou sua projeção de crescimento de 8% a 12% nos prêmios
emitidos neste ano.
‘O guidance será alcançado com
saúde e temos uma expectativa de um desempenho melhor nos próximos
meses também de previdência privada. Tivemos mudança de
sazonalidade na captação deste ano. Não esperamos nada excepcional,
mas entendemos que ainda existe espaço para reconquistar receitas,
pelo menos para voltarmos para dentro da faixa estimada para 2016’,
explicou Zanetti.
O resultado operacional da
SulAmérica também piorou no segundo trimestre em relação ao período
de abril a junho de 2015, apesar de ter apresentado leve melhora no
comparativo trimestral. Mesmo com sua maior exposição em saúde,
pesou o aumento de sinistros no segmento de automóvel, assim como
no caso da Porto Seguro. O indicador piorou 7,9 p.p. ao final de
junho ante março.
Apesar disso, o lucro líquido da
SulAmérica teve leve alta de 0,5%, para R$ 126,4 milhões. O
desempenho, contudo, poderia ter sido ainda melhor, não fosse o
impacto da majoração da CSLL e ainda a ausência da contribuição das
carteiras de grandes riscos, vendida para a francesa Axa, e de
seguro habitacional, que passou para as mãos da Pan Seguros
(seguradora do ex-Panamericano).
Financeiro positivo. O resultado
financeiro contribuiu com o resultado da SulAmérica no segundo
trimestre, assim como ocorreu com Porto e BB Seguridade, uma vez
que a Selic ainda segue intacta em patamares elevados. Para os
próximos trimestres, contudo, as seguradoras já preveem uma menor
contribuição dessa linha e garantem que têm se preparado via adoção
de uma política de preços conservadora.
‘Estamos preparados e se tivermos
um vento a favor da economia, o segundo semestre pode ser muito
melhor. Mas não temos nada concreto hoje na política ou na economia
que nos possa assegurar disso’, avaliou Gabriel Portela, presidente
da SulAmérica.