|
A saúde privada do País está na UTI.
Atualmente cerca de 500 operadoras de planos de saúde enfrentam
direção fiscal da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar),
pente-fino sob as finanças da empresa para determinar se o grupo
está apto a atender clientes.
A andreense Samcil, que fechou as portas do Hospital e Maternidade
Mauá na semana passada, é uma das que enfrentam o desafio
atualmente, o que deixou em pânico os 61 mil usuários do convênio
no Grande ABC.
Apesar do cenário desolador, especialista pontua que a intervenção
rápida da ANS não é o fim da linha, mas um alerta para que a
empresa se recupere e sobreviva ao mercado, como aconteceu com o
grupo Unimed Paulistana no mês passado.
A Unimed passou cerca de um ano sob intervenção da entidade por
conta de dívidas tributárias, mas apresentou plano de recuperação e
conseguiu crescer 146% em 2010, deixando o fantasma de uma possível
falência para trás.
"A direção fiscal é uma necessidade. Se a operadora não está com
as obrigações em dia perante a legislação da ANS, ela precisa
entrar nesse regime. Muitas (empresas) conseguem passar por ele e
hoje estão bem. Já as que não conseguem atender às exigências
mínimas acabam mesmo expurgadas do mercado, o que também é
benéfico, pois permanecem apenas as operadoras preparadas para
atender bem aos clientes", diz José Luiz Toro, presidente do
INDSS (Instituto Brasileiro do Direito da Saúde Suplementar).
Caso a empresa não consiga demonstrar solidez ou capacidade de
superar o problema no período máximo de um ano, a ANS determina o
fechamento da rede e a venda da carteira de clientes, como
aconteceu no ano passado com o convênio Di Thiene,atendido pelo
Hospital São Caetano. Mesmo fechamento não significa que clientes
ficarão na mão.
"Após a decisão pela liquidação do plano de saúde, a ANS dá 30 dias
para que a empresa venda a carteira de clientes, período renovável
por mais 15 dias. Caso não haja interessados neste período, a
carteira vai a leilão", explica Toro.
No período de direção fiscal, os consumidores devem seguir pagando
normalmente as faturas do convênio para que, no caso de fechamento
da operadora, seja incluso na carteira de clientes e tenha sua
ficha repassada a outro grupo sem a necessidade do cumprimento de
carências.
O processo de análise do plano de recuperação do convênio pode
durar até um ano, mas não isenta a rede do fechamento imediato, em
caso de problemas maiores. "O convênio Interclínicas foi fechado em
dois meses", lembra Toro. Questionado sobre o caso específico da
Samcil, o especialista preferiu não se manifestar.
Queda de clientes e altas dívidas motivaram intervenção na
Samcil
Entre os motivos para que seja estabelecida uma intervenção pela
ANS estão o atraso no pagamento de fornecedores, a evasão de
associados e a rotatividade da rede credenciada. No caso da Samcil,
além da perda de grande parte da carteira de clientes - o grupo
reduziu de 710 mil usuários para 264 mil em cerca de dois anos -
quesitos técnicos relacionados ao caixa da empresa também foram
críticos.
"As operadoras precisam cumprir provisões técnicas e de ativos,
que significa que o dinheiro que entra tem de ser provisionado e
ser dividido em aplicações financeiras para garantir que em caso de
problemas a operadora seja salva. Muitas têm dificuldade exatamente
nisso e terminam sob investigação", pontua José Luiz Toro.
A companhia teve ainda 90% da rede de atendimento descredenciada
nos últimos meses, além de problemas no pagamento de trabalhadores
e fornecedores. Apesar de o valor oficial de dívidas divulgado pela
empresa ser de R$ 70 milhões, funcionários do grupo, que preferem
não se identificar, confirmam que o valor total dos débitos
ultrapassa os R$ 200 milhões.
Questionada sobre a situação, a ANS disse que não se pronunciará
antes do fim da intervenção, que teve início em janeiro.
|