Falta de especialistas, de hospitais e muitas reclamações no Procon. Esse é o perfil da empresa Greenline no Grande ABC. Apesar de ter feito oferta para adquirir as cerca de 210 mil vidas da Samcil, as duas operadoras têm exatamente os mesmos problemas, de acordo com ranking da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Na avaliação do IDSS (Índice de Desempenho da Saúde Suplementar), as duas companhias têm nota de 0,40 até 0,59 em indicador que vai de zero até um. A saúde financeira das duas também é motivo de alerta, segundo os dados disponíveis no site da entidade referentes ao ano de 2009.
"É preciso ter em mente que o estudo de 2010 ainda não está disponível e tudo pode ter mudado no período. Quando for avaliar a oferta, são os números do ano passado que serão considerados", destaca o especialista em saúde suplementar José Luiz Toro.
No entanto, a diretora do Procon de Santo André, Ana Paula Satcheki, não é tão cautelosa na hora de expressar sua opinião. Segundo ela, caso a ANS aprove a venda estará "trocando seis por meia dúzia". "Só neste ano tivemos 20 reclamações contra a Greenline feitas na entidade, número muito parecido com o que a Samcil registrou. Mas há de se justificar que a Samcil está passando por processo de falência e a Greenline está fechando uma compra", adverte.
A Greenline é o plano de saúde dos servidores de São Bernardo. Mas, segundo o presidente do SindServ/SBC (Sindicato dos Servidores Públicos de São Bernardo), Carlos Roberto da Silva, o Ketu, a utilização do convênio da Greenline entre os servidores tem sido um dos principais motivos de discussão junto à administração municipal. "Não temos especialistas disponíveis no Grande ABC. Se for preciso uma internação, o cliente tem de ir para São Paulo. Eu desejo sorte para os clientes Samcil que vão acabar nesta operadora", diz.
Em sua página na internet a Greenline declara três hospitais próprios - todos na Capital - e dois centros médicos, um no Grande ABC, além de um pronto atendimento em São Bernardo. A operadora relata ainda "possuir mais de 1.000 pontos de atendimento".
Segundo a ANS, a empresa tem 326.081 vidas e, com a aquisição da carteira da Samcil, passaria a representar 500 mil pessoas e pularia de operadora de médio para grande porte pelas regras da agência.
"É preciso investir. É preciso estar preparado para atender essa demanda e ter uma estrutura administrativa que absorva isso", diz Toro. "Mas pelas normas da ANS, o que deve ser levado em consideração é se ela tem uma rede compatível de atendimento. Não é simples, por outro lado, para o consumidor, é melhor que a ANS consiga encontrar alguém que queira o grupo porque o leilão seria muito mais complicado", conclui.
ANS dará parecer sobre operação ainda nesta semana
O fechamento das portas de boa parte dos hospitais da Samcil e as sérias dificuldades financeiras do grupo devem fazer com que a ANS acelere o parecer sobre a venda da carteira de clientes do grupo para a Greenline. O fato de nenhuma outra operadora ter se interessado sobre as vidas também deve pesar favoravelmente ao grupo paulista.
Em nota, a ANS afirma que está analisando a documentação enviada pela Greenline para se manifestar quanto à negociação, mas a expectativa é de que até amanhã a resposta oficial seja divulgada.
Apesar de já ter confirmado em nota pública o interesse pelos clientes da Samcil, a Greenline não deu qualquer informação ao público sobre investimentos a serem feitos ou valor da negociação.
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