Se a crise não permitiu ao setor de seguros manter o crescimento apresentado nas últimas duas décadas, também não impediu que ele seguisse em frente, com mudanças importantes no funcionamento das seguradoras e das corretoras de seguros. A abertura do resseguro abriu um filão para as resseguradoras, tanto que mais de cem estão no país. A maioria é de resseguradoras eventuais, mas isso não tira a importância do mercado brasileiro no cenário internacional.
Os mercados norte-americano, europeu e japonês estão saturados, sem margem para crescimentos ou movimentos expressivos, sem grandes riscos novos e sem espaço para o desenvolvimento em patamares interessantes, tanto das seguradoras, como das resseguradoras. O caminho para elas passa pelos países do BRIC e outras nações em desenvolvimento. Mas nem todos os mercados estão maduros e aí o Brasil, ainda que potencialmente menor do que China e Índia, oferece condições de negócios imediatos, ainda que comprimidos pela crise.
Muitas das cem resseguradoras que estão aqui devem sair do país. Não tem espaço para todos, as condições de negócios são difíceis, a concorrência está deprimindo os preços, há capacidade em excesso e boa parte dos riscos nacionais não necessita resseguros, especialmente porque as grandes seguradoras brasileiras têm limites técnicos suficientes para fazer frente a eles.
Com dez anos de fim de monopólio nas costas, o resseguro brasileiro já é pujante o suficiente para os executivos do setor pensarem na possibilidade do país se tornar um polo regional de resseguros, com foco na América Latina, não para ceder nossos riscos, mas para ceder capacidade para as seguradoras da região. Quanto às seguradoras, não apenas a crise, mas as grandes transformações por que passa o mundo terão impacto direto no seu futuro. O desenho atual não deve sofrer grandes alterações, mas, com certeza, haverá uma mudança significativa no perfil do mercado.
As novas formas de vida em sociedade, as ideias de compartilhamento, reordenamento urbano, transporte público, transporte alternativo, trabalho, somados às novas tecnologias, impactarão a indústria automobilística e consequentemente as seguradoras com forte atuação no setor.
Mas se, por um lado, o seguro de veículos pode ter que ser reinventado, de outro, os seguros de pessoas oferecem um campo vasto e promissor para as seguradoras focadas na área. É só questão de tempo para o seguro de vida em grupo, que durante décadas foi o carro chefe, abrir espaço para produtos mais inteligentes, com poupança acoplada, parecidos com o VGBL, mas mais eficientes, como é o caso do “Universal Life”, atualmente em discussão no país, que turbinou o mercado norte-americano.
Não tem como não acontecer a retomada das obras públicas indispensáveis para criar a infraestrutura necessária ao desenvolvimento. Também não tem como não acontecer a atualização do parque industrial brasileiro, profundamente defasado em função da recessão severa que atinge a nação há alguns anos.
Isso significa que as seguradoras especializadas em grandes riscos têm um futuro promissor. É só questão de tempo. E a mesma verdade se aplica aos seguros de garantia, crédito e responsabilidade civil.
Como existem mais de 18 milhões de residências sem qualquer tipo de seguro; apenas 25% da frota de veículos é segurada; a maioria das pequenas empresas ou não tem seguro ou é mal segurada; e o seguro de transporte praticamente não existe em grande parte do território nacional é possível dizer que o setor, superada a crise, terá que trabalhar acelerado para atender a demanda.
A maioria das seguradoras já definiu como, onde e com quem pretende trabalhar. As grandes corretoras de seguros também já estão mais ou menos posicionadas para o futuro. É hora de os corretores médios e pequenos analisarem suas forças e fraquezas para tomarem as medidas necessárias para se posicionarem. Porque uma coisa é certa: quem tiver competência tem tudo para dar certo.