Robert Bittar ressalta a resiliência
do setor de seguros, que manteve índices encorajadores em 2016 Nada
de pessimismo nem previsões alarmistas. O setor de seguros desafia
a maré recessiva e resiste às turbulências no cenário econômico. Em
2016, o mercado registrou crescimento nominal de 9,2% em volume de
prêmios.
O resultado foi muito além da variação
do PIB, cuja expressão real (descontada a inflação) fechará em
queda pelo segundo ano consecutivo. Esse desempenho é ainda mais
significativo em um período marcado pelo aprofundamento da crise
política e econômica, que resultou no encolhimento de importantes
áreas da economia, como comércio e indústria.
Mesmo que altamente dependente dos
níveis de emprego e renda, o setor de seguros mostrou resiliência e
manteve índices encorajadores que, somados ao crescimento de
exercícios anteriores, configuram uma década de alto desempenho.
Mas o bom é inimigo do ótimo. Por conta dos entraves à penetração
dos seguros na economia, perdeu-se a chance de uma expansão mais
robusta e a possibilidade de ofertar produtos mais em linha com as
necessidades do consumidor.
A morosidade legislativa e a
insensibilidade do Governo quanto a esses aspectos mostram que o
Poder Público ignora a contribuição socioeconômica do setor,
propiciada por reservas técnicas de quase R$ 1 trilhão em poupança
interna de longo prazo, aplicada em títulos do Tesouro. Esse quadro
é agravado pelo excesso regulatório e pela burocracia, que oneram
as operações e encarecem o produto final para o segurado.
No agregado, portanto, a indústria de
seguros vai bem. Mas como fica a intermediação com o consumidor? E
o que dizer do corretor de seguros, o principal canal de
distribuição do mercado? A luz amarela acendeu. Isso porque a
expansão setorial foi encorpada pelo desempenho dos produtos de
acumulação com distribuição bancarizada, em que os corretores pouco
atuam. É o caso dos planos de previdência, cuja arrecadação
aumentou 18,7% em 2016 na comparação com o ano anterior.
Outros segmentos não tiveram o mesmo
desempenho. Em volume de prêmios, o ramo automóvel caiu 2,4% em
termos nominais no acumulado de 2016. Descontando-se a inflação
média de 8,7% no período, isso significou perda de 10,2% em relação
a 2015. Já os produtos de risco dos seguros de pessoas cresceram
somente 4,6%, enquanto os de seguros de danos apenas 1,2%. Ou seja,
o resultado global do setor é motivo de comemoração, mas há muito o
que progredir quando se trata de seguro de riscos – e não de
acumulação.
A força de trabalho tem três motivos
de preocupação: a perda da produtividade em razão do decréscimo de
prêmios, a elevação constante dos custos operacionais e a
pulverização da massa de clientes no ambiente de maior
concorrência. Existem, hoje, cerca de 100 mil corretores no Brasil,
dos quais quase 30 mil são pessoas jurídicas que estariam com a
sobrevivência econômica ameaçada, se não fosse pela adesão ao
Supersimples.
Em meio ao cenário de incertezas, o
horizonte começa a se abrir, uma vez que o Governo parece
compromissado com a redução do déficit fiscal e a liberação dos
investimentos, essenciais para a recuperação da economia. Ao longo
das últimas décadas, o setor de seguros foi capaz de reconhecer e
remover os entraves que barravam seu desenvolvimento. A crise é o
momento certo para a reorientação do mercado, que tem muito espaço
para se desenvolver. Ou seja, há boas razões para manter o
otimismo.