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Sistema de educação deve ter maior vínculo com o de Saúde

Fonte: Saúde Business Web Data: 09 junho 2011 Nenhum comentário
Devido a seus mais de 25 anos de experiência em sistemas de saúde, o pediatra brasileiro Mário Dal Poz foi convidado para assumir a vaga de Coordenador de Recursos Humanos da Organização Mundial de Saúde, em Genebra. Mestre em Medicina Social, com foco em modelos de desenvolvimento de saúde no contexto de urbanização no Brasil, e PhD em Saúde Pública, com a elaboração de novas metodologias para análise política de recursos humanos para desenvolvimento da saúde, Dal Poz fará a conferência O Papel da Liderança na Promoção da Acreditação para Melhorar a Qualidade do Cuidado ao Paciente, no Congresso Internacional de Acreditação.

Com mais de 60 artigos publicados em peer-review e periódicos especializados, seis livros e contribuição em mais de dez capítulos de livros na área de recursos humanos para saúde, o médico falou ao Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) sobre as carências em Recursos Humanos em Saúde.

CBA - Estudo da OMS já detectou que há carência de profissionais de saúde no mundo. Como reverter esse problema?

Mario Dal Poz – O Relatório Mundial da Saúde produzido pela OMS, em 2006, registrou que 57 países tinham uma escassez crítica de pessoal de saúde, com maior concentração nos países de África. Hoje, com base no sistema de vigilância global da força de trabalho em saúde montado pela OMS, pode-se dizer que esses países estão apresentando progresso, embora a um ritmo muito lento e variado. Os dados do Atlas Global da Força de Trabalho em Saúde mostram que os números estão melhorando.

Alguns países, como Butão, RCA, Serra Leoa estão muito lentos nesse progresso enquanto outros, como Indonésia, Índia, El Salvador, estão fazendo um progresso constante, o que pode ser visto também no progresso nos indicadores que integram as metas do milênio. Esta é a conclusão positiva. No entanto, maiores esforços em investimentos nacionais, regionais e globais são necessários para superar essa crise. Então é provável que veremos alguns países sair da crise e em seguida, a grande questão será como mantê-los fora da crise.

A grande dificuldade ainda é o baixo nível do investimento na área de recursos humanos em saúde, seja na expansão ou melhoria das instituições de ensino, como as escolas médicas e de enfermagem, seja na expansão ou melhoria das condições de trabalho para o conjunto dos trabalhadores de saúde, especialmente naqueles países que apresentam os piores indicadores de cobertura por serviços de saúde.

CBA – Qual o novo papel do médico frente às novas necessidades da saúde?

M.D.P. – Num sistema de saúde, onde o objetivo principal deve ser a melhoria da saúde da população, os médicos devem desempenhar o importante papel de mediador da aplicação do conhecimento para melhorar a saúde.

Como muitos autores sugerem, se a cobertura e a densidade de profissionais de saúde têm um efeito direto sobre a saúde das populações, os médicos, como prestadores de serviços, podem ter o papel de interconectar pessoas, tecnologia, informações e conhecimento. Eles também têm responsabilidade, como comunicadores e educadores, gestores e decisores políticos.

CBA – Qual a importância da acreditação na formação dos profissionais da saúde e também para a melhoria da qualidade e da efetividade na prestação de serviços de saúde?

M.D.P. – A formação médica está fazendo ou precisa fazer uma transição de um foco no ensino para um foco na aprendizagem. Ao fazer isso, estudantes e instituições podem ser consideradas responsáveis por aumentar os seus resultados.

Para os alunos, isso significa que demonstrem competências específicas, a fim de graduação das escolas médicas e programas de residência médica. Para as instituições, isso significa identificar maneiras de demonstrar que seus produtos (a presença de estudantes) têm essas competências.

Processos de acreditação podem ajudar que as escolas, e não apenas os estudantes, sejam responsabilizados pelos seus resultados. Resultados escolares de melhor nível podem contribuir para reformar os sistemas educacionais, fornecendo evidências para a eficácia dos investimentos educacionais e demonstrar que a graduação de uma escola ciências da saúde certificada ou acreditada é uma garantia de qualidade da força de trabalho em saúde.

CBA – Alguns estudos mostram que muitos programas de formação e educação profissional em saúde são bastante limitados na sua concepção e mesmo desatualizados. Que comentários pode fazer a respeito?

M.D.P. – Passados cem anos das reformas de base científica na educação médica provocadas pelo Relatório Flexner e algumas décadas depois dos avanços com base no programa aprendizagem baseado em problemas (PBL, em inglês), o maior desafio, segundo análise de vários pesquisadores, é a dissociação entre as habilidades e competências dos médicos com as habilidades requeridas (necessárias) pelos usuários de serviços de saúde.

Esse descompasso gera distorções no mercado de trabalho em saúde que aflige todos os países. A solução proposta é vincular o sistema de educação mais estreitamente com o sistema de saúde através de uma estreita coordenação e colaboração entre as áreas de saúde e educação, bem como trazer o envolvimento dos diferentes atores interessados, como os grupos profissionais articulados nos conselhos e associações.

No campo específico da educação, parece importante desenvolver de forma sistemática a formação e o trabalho em equipe, atualmente essencial para a eficácia do sistema de saúde.

Na área de recursos humanos em saúde não há soluções mágicas, rápidas ou que possam ser generalizadas para qualquer contexto. A OMS procura contribuir através do desenvolvimento e avaliação de boas práticas, em parceria com outras agências e instituições de cooperação regionais e nacionais. Nesse conjunto de intervenções se destacam os esforços para a melhoria da base de dados sobre informação do pessoal de saúde (força de trabalho em saúde) nos níveis nacional, regional e internacional: Os países com crise severa nos recursos humanos em saúde têm grandes desafios para tomar decisões de política de saúde, dada a fragmentação de seus dados e fontes sobre os recursos humanos. Assim, um papel importante da OMS no campo dos recursos humanos em saúde é o de facilitar a transferência de conhecimentos, de melhorar a capacidade técnica para a estruturação de sistemas de saúde.
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