O profissional é vital para manter
esse ramo aquecido nos próximos anos
“É preciso pensarmos juntos sobre o
mercado de automóvel”. Assim o presidente da HDI, Murilo Riedel,
começou sua palestra no almoço do Clube dos Corretores de Seguros
de São Paulo (CCS-SP), nesta terça 1º de agosto, no centro de São
Paulo.
Para ele, alguns fatores começam a
impactar o ramo de automóvel. “Desaceleração econômica, redução do
emprego formal, aumento de criminalidade, redução das taxas de
juro, maior sensibilidade ao preço pela facilidade/transparência do
social media, preferência crescente por Car sharing e plataformas
de transporte e canais de venda digitais”.
Por isso, Riedel enfatiza que “é
importante que estejamos atentos a essas tendências, porque o que
víamos como um futuro distante está chegando mais perto de nós, são
variáveis que os corretores devem entender que farão parte do seu
dia a dia”.
Para os próximos cinco anos, por
exemplo, a frota passará de 48 para 56 milhões de veículos. “Mas o
grande impacto é que esse aumento não é necessariamente o mercado
que operamos hoje. Atualmente, 59% da frota são veículos de até 10
anos de idade, e passa a ser 42%, e essa redução significativa é o
grande problema. Temos que encontrar uma viabilidade econômica para
esse novo perfil de frota brasileira”.
O executivo completa: “Antes
conseguíamos trazer novos segurados para o mercado, oriundos da
venda de carros mais novos, e agora passamos a não ter mais esses
novos segurados. Não existe nenhum cenário, nenhum indicador de que
conseguiremos trazer o consumidor para o patamar de vendas
domésticas de veículos de quatro milhões de veículos zero
quilômetros”.
Ele reforça que os desafios estão na
diminuição da vontade de comprar carro, na taxa de penetração do
seguro, que continua caindo e envelhecimento da frota. “O problema
não está na falta de desejo de comprar um seguro ou o
desconhecimento do produto, porque temos isso nos veículos de até
cinco anos”.
Outro fator desafiador para o mercado
é o encarecimento do seguro. “De 2016 para 2022 temos que repassar
praticamente 20% de aumento de preço para o mercado, é o que os
acionistas esperam que as seguradoras façam e é o que os corretores
devem nos ajudar a passar para o mercado. Prevê-se que a penetração
de seguros atinja de 27% a 29% da frota de veículos em 2022, com
frota segurada de 16 milhões”.
Riedel lembra que o segurado não
absorverá de forma simples esses aumentos necessários e que, por
isso, os corretores de seguros são parceiros essenciais nesse
desafio. “A HDI não fará nenhuma forma significativa na
comercialização do seguro. Como vemos em todos os mercados o
processo de digitalização, no mercado de seguros é difícil ter uma
ferramenta que o segurado ou o consumidor consiga ter uma navegação
perfeita quando o produto é complexo, como é o seguro”.
Para o presidente da companhia, as
seguradoras, de um modo geral, estão fazendo a lição de casa, que é
a racionalização desse custo. “Na HDI temos feito um trabalho
grande de digitalização de processos, com isso, nós não falamos na
mudança da forma de venda, mas sim da digitalização de processos
internos das seguradoras, pois isso é uma mudança irreversível,
principalmente em serviços e em processos de entrega, com vistorias
prévias, de sinistros, movimentação de endossos, que no mercado
ainda é feito de forma tradicional”.
Segundo ele, o corretor de seguros não
pode deixar de pensar em diversificação. “O mercado de automóvel
representa agora uma pequena fatia e por isso o nosso desafio de
diversificação, que pode estar dentro da carteira de automóvel. É
claro, vemos outras carteiras andando bem, com oportunidades de
negócios, mas o nosso desafio é fazer do automóvel uma plataforma
de venda diversificada”.
O passado e o presente do ramo de
automóvel
Murilo Riedel discorreu também sobre o
mercado de seguros de automóvel, sua crescente e como está o ramo
atualmente. “Encerramos um ciclo muito bom do mercado de automóvel
brasileiro. Se pensarmos em crescimento, nos acostumamos mal,
porque tivemos um desenvolvimento de dois dígitos desde 2008,
apresentando número expressivo, onde a principal variável, que foi
a venda de automóvel, ajudou a alcançar esse patamar”.
Porém, ele ressalta que “a redução do
consumo de automóveis é um fenômeno mundial. No Brasil, nos
considerávamos blindados, pois a demanda reprimida nos fez pensar
que esse momento de estabilização de venda aconteceria em um futuro
distante. Mas a crise acabou acelerando esse processo e trouxe para
o país uma nova realidade de patamar de vendas de automóvel que
refletiu rapidamente no mercado de seguros de automóvel”.
Por esse motivo, segundo ele, “em 2013
o mercado de seguros aumentou quase 18%; em 2014, 9%; em 2015, 3%;
e em 2016 decresceu 2%. Isso não acontecia há mais de 20 anos, nós
nos desacostumamos em ver o mercado reduzindo”.
Para Riedel, o mercado do sudeste está
sofrendo com essa redução, mais precisamente São Paulo. “Que
representa 68% das vendas de seguros no sudeste, o que chega a
quase 40% do mercado total de automóvel. Quando falamos de retração
do ramo de auto, o estado que mais sofre é o de São Paulo”,
frisa.
Ele explica que há dois fatos
principais que impactam os negócios e o seguro de automóvel. “A
desaceleração da economia, que traz impacto na questão de venda de
veículo no mercado doméstico, e também estamos experimentando
momentos de criminalidade importantes, mesmo em São Paulo, que tem
aumentado a taxa de roubo”.
Mesmo que haja recuperação na venda
doméstica, o que acontecerá daqui para frente já pode ser
vislumbrado. “O que vemos na questão das vendas é que estavam em
3,8 milhões de veículos, mas caiu a patamares de mais 10 anos
atrás, ou seja, estamos vendendo dois milhões de veículos no
mercado doméstico. Isso reflete no tamanho da frota e esse é o novo
desafio, como vender seguro para uma frota mais envelhecidas”.
Riedel explica que, a criminalidade é
resultado de fatores econômicos, mas também a nova característica
de frota é mais roubada, por ser de veículos que alimentam o
mercado de desmanche, “o que gera um novo patamar de
sinistralidade”.
Tendências e perspectivas
O ramo de automóvel começa a seguir
tendência de outros mercados e isso vem com a melhoria de alguns
indicadores sociais. “Nós imaginávamos que o Brasil teria essa
estabilidade de venda de seguros para daqui a alguns anos, mas a
crise acelerou algumas tendências, principalmente nas grandes
capitais”, reforça o presidente da HDI Seguros.
Um dos fatores que também influenciam,
de acordo com ele, é a melhoria do transporte público. “Em São
Paulo, por exemplo, o transporte público tem melhorado, além dos
transportes alternativos, e isso de alguma forma acaba impactando
alguns hábitos de consumo de automóvel”.
Outro fator é que os formatos não são
previstos. Mesmo com a queda da venda de veículos, ninguém vai
parar de se locomover. “As pessoas continuam saindo, elas mudaram a
forma. O seguro de automóvel será o seguro da locomoção. Teremos
que oferecer seguro para todas as locomoções. Esta relação é que
muda daqui para frente e temos que pensar em seguros de
jornada”.
Por isso, é preciso estar atento às
oportunidades. “Temos que olhar sempre com olhos inteligentes as
oportunidades que aparecem. Vamos esquecer as experiências do
passado, para ter visão do futuro e temos que estar abertos ao
novo”, finaliza o presidente da HDI.