Uma mudança silenciosa está em curso
na oferta de planos de saúde. Embora não haja uma regulamentação
específica, advogados alertam que, na prática, contratos populares
já estão sendo oferecidos no mercado, com uma cobertura mais
restrita ou somente ambulatorial (sem direito a internação). Os
preços cobrados também não acompanham a proposta original do
Ministério da Saúde de baratear significativamente os custos para
os consumidores.
As opções disponíveis hoje no Rio
custam a partir de R$ 120 (veja abaixo). As mensalidades seriam até
102% mais baratas em relação aos contratos tradicionais, mas o
desconto acabaria praticamente anulado por um aumento da
coparticipação de até 40% (parcela que é paga pelo cliente). Além
disso, não haveria atendimento de alta complexidade nem socorros de
urgência e emergência.
Vale destacar que, entre as normas
restritivas já autorizadas estão a exigência de uma segunda opinião
médica para a aprovação de um procedimento médico e a venda de
planos via canais digitais.
— Até o momento, foram aprovadas
alterações que permitem que uma operadora já ofereça produtos com
muito mais restrições ao consumidor e sem o controle dos reajustes
pela ANS (a liberdade de aumento, hoje, é só para os contratos
coletivos). A contrapartida, que seria a cobrança de preços
populares, não foi implantada — observou Rodrigo Araújo, advogado
especializado em Direito da Saúde.
O aposentado Reneé Narciso, de 65
anos, contou a vida toda com plano privado, mas ao completar 60, a
mensalidade dobrou por causa da previsão de reajuste por faixa
etária, chegando ao valor de R$ 1.100. Ele rescindiu o contrato e
ficou sem assistência, exatamente na fase da vida em que mais vai
precisar dos serviços médicos:
— Não tinha condição de pagar. Quando
preciso, vou a clínicas populares.
Economia que não
compensa
Para o Instituto Brasileiro de Defesa
do Consumidor (Idec), a economia com as mensalidades em planos
populares e ambulatoriais não compensa a perda de serviços e
cobertura básica. Essa foi uma das conclusões de uma pesquisa feita
pela entidade ao mapear os planos populares já oferecidos.
— A pesquisa mostrou ainda que o uso
da coparticipação, que na proposta dos planos de saúde mais
acessíveis ficaria na casa dos 50%, não mostrou efeito
significativo na redução das mensalidades cobradas — explicou Ana
Carolina Navarrete, pesquisadora do Idec.
A aposentada Isabel Gonçalves Rosas,
de 74 anos, perdeu a cobertura que tinha por falta de condições
financeiras de arcar com os custos da assistência médica. Para a
idosa, um plano de saúde popular não seria a melhor alternativa
para ela e o marido, de 82 anos, já que não cobrira procedimentos
de média e alta complexidades, como uma cirurgia no joelho a que
ela precisa se submeter:
— O meu plano de saúde, hoje,é o
SUS.
Discurso
desafinado
Por meio de nota, a Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS) informou que o relatório sobre o modelo
de planos de saúde “não permite concluir que os planos com
coberturas reduzidas estão autorizados pela ANS”. Ainda, segundo a
agência reguladora, o documento “permite concluir que grande parte
das características apontadas como essenciais a um plano mais
acessível ao consumidor em termos de preço já são permitidas”.
Já o Ministério da Saúde, discorda e
afirmou, também através de nota, que o “relatório da ANS demonstra
que os planos acessíveis podem ser implementados no mercado”.
Nova lei pode instituir mais
restrições
Parte da proposta dos contratos
populares, que atende ao pedido das operadoras, ainda depende de
alteração da Lei dos Planos de Saúde para ser implementada. E essa
alteração na legislação já está em trâmite na Câmara dos Deputados.
Entre os tópicos em discussão estão: restrições de cobertura de
médio e alto custos, limitação de tratamentos na região de
contratação do serviço, liberação dos reajustes para os planos
individuais (nestes casos, os aumentos hoje dependem de autorização
prévia da Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Para a Federação Nacional de Saúde
Suplementar (FenaSaúde), a normatização pela ANS daria legitimidade
ao produto. Segundo especialistas, no entanto, um dos principais
gargalos do mercado hoje é exatamente a recusa das operadoras de
vender planos individuais.
— Os contratos coletivos não têm
reajustes de preços regulados pela ANS, há seleção de risco do
paciente e até cancelamento unilateral, por parte da operadora, sem
que haja inadimplência do consumidor. Ninguém mais quer vender
planos individuais, o que é prejudicial ao cliente e cria o mercado
paralelo de abertura de pequenas empresas ou MEIs. Assim, se pode
fazer contratos empresariais — disse a advogadaGabriela de Carvalho
Simões.
Opções
disponíveis
Memorial Saúde
A empresa oferece planos individuais
ambulatoriais (sem internação). A opção mais barata é o Franquia I.
O preço da primeira mensalidade é de R$ 135,23 (mais R$ 15 de termo
de adesão). As demais prestações são no valor de R$ 120,23, até o
reajuste anual. Neste modelo, há cobertura de exames e consultas
pelo sistema de franquia, no qual o cliente coparticipa, e ainda
atendimento para urgência e emergência só por 12 horas. Além disso,
há a opção do plano Light I, com a primeira mensalidade ao custo de
R$ 147,19 (mais R$ 15 de termo de adesão). As demais parcelas são
de R$ 132,19.
Assim Saúde
O plano individual Clássico da
operadora não exige coparticipação do cliente, mas oferece quarto
coletivo, com o valor da primeira mensalidade de R$ 335,47.
Unimed-Rio
O plano individual Unipart Básico QC
tem preços a partir de R$ 243,04, com direito a quarto coletivo e
rede credenciada com 61 hospitais.
Amil
A operadora não oferta planos
individuais, mas tem opções de contratos coletivos para pequenas
empresas (cobertura de duas a 99 vidas). O NEXT Plus RJ tem preços
a partir de R$ 98, dependendo do número de beneficiários.
Salutar Saúde
A operadora não oferta planos
individuais, mas oferece contratos coletivos por adesão de
categorias de profissionais. A mensalidade do plano Clássico, com
cobertura de enfermaria e rede credenciada, custa R$ 212,91 por
mês.