Em vez de comprar um carro, que tal fazer a assinatura de um veículo para usá-lo como quiser? A locadora Unidas e a seguradora Porto Seguro lançaram serviços em que o cliente fica com o automóvel e paga mensalidades fixas a partir de R$ 1.156 por essa locação de longo prazo, por períodos que vão de 12 a 36 meses. Os pagamentos de IPVA e de outros impostos, além das despesas com documentação, seguro e manutenção, estão incluídos na conta.
Na Porto Seguro, primeira a lançar o serviço de carro por assinatura no Brasil, quem devolve o veículo em bom estado de conservação, sem sinistro ou avarias, tem benefícios como franquia do seguro reduzida e até isenção da primeira mensalidade em caso de renovação do plano.
Diretor executivo da Unidas, Levi Fonseca explica que há uma mudança de comportamento em todas as esferas de consumo: em vez de comprar filmes, as pessoas assistem aos lançamentos pela Netflix. No lugar do CD e até mesmo do download das canções, há um crescimento no uso de aplicativos como Spotify, que permitem o acesso a milhões de músicas.
— Estamos trocando o desejo de ter pela necessidade de usar apenas, principalmente se houver vantagem do ponto de vista econômico e mais comodidade. Com o carro, é a mesma mudança de cultura. O cliente percebe que o veículo perde valor todo ano. Em vez de dar entrada, ele avalia que é mais interessante ter o dinheiro em um investimento com retorno.
Foi com essa lógica que o empresário José Carlos Junior, de 39 anos, resolveu optar pelo aluguel continuado de um veículo para sua empresa e de outro para seu uso pessoal:
— Achei mais vantajoso, após fazer as contas. No carro da empresa, eu teria que dar uma entrada de R$ 15 mil e financiar o resto. Preferi investir o dinheiro na firma. Também não quis ter dor de cabeça com meu carro pessoal. Além dos gastos, há a dificuldade de vender. No último, demorei quatro meses e tive que baixar o preço.
Decisão varia segundo o perfil
Professor de Finanças do Ibmec Rio, Gilberto Braga esclarece que o aluguel continuado vale a pena somente para alguns perfis específicos de consumidores:
— Se olhar as tabelas, vai perceber que o valor pago depois de 36 meses é praticamente o preço de um carro 0km. Para adquirir um automóvel de uma montadora, por exemplo, é preciso dar uma entrada de 50 ou 60% e pagar o saldo remanescente em até 36 meses, prazo que pode variar de acordo com a marca, mas com parcelas mais suaves do que as do aluguel.
Segundo o economista, esse tipo de assinatura é interessante para quem não tem os recursos necessários para dar a entrada e precisa do veículo para uma atividade profissional, como motoristas de aplicativos ou vendedores e representantes comerciais.
— Para quem tem o dinheiro na poupança, é mais interessante fazer a compra do carro, porque terá um patrimônio. Em uma hora de sufoco, é um bem que poderá ser usado como reserva financeira, mesmo depreciado. Essa é uma decisão muito pessoal, na verdade. Pessoas que investem no mercado financeiro podem preferir o aluguel, pois usariam o valor da entrada em investimentos com taxas mais interessantes de retorno.
Cuidados evitam problemas no uso desses serviços
O contrato
Coordenadora de Atendimento do Procon Estadual, Soraia Panella explica que, além de fazer as contas, é necessário ler o contrato atentamente: “É preciso avaliar quais são os direitos e os deveres do fornecedor e do cliente”.
De olho no gasto
Soraia alerta que é preciso conferir o prazo de entrega do veículo, as características e os opcionais do automóvel, a quilometragem que poderá ser registrada por mês e os juros que serão cobrados em caso de atraso de pagamento.
Detalhes
Soraia alerta que é preciso conferir qual o prazo de entrega do veículo, quais as características e opcionais do automóvel, a quilometragem que poderá ser usada por mês e quais os juros que serão cobrados em casos de atraso.
Multas
O cliente precisa analisar o que acontecerá, caso não cumpra as regras do contrato. Em caso de atraso ou de desistência do serviço, é preciso checar qual será o valor da multa e como será cobrada.
Na prática
Também é preciso questionar quais são as obrigações da locadora. A empresa se compromete a pagar os impostos, o seguro do automóvel e a manutenção, mas o cliente precisa entender como isso funcionará na prática. Alguns exemplos de situações que precisam ser compreendidas são: como será a manutenção do veículo, quais os serviços incluídos e se haverá franquia a ser paga em caso de acidente. Soraia acrescenta que, como se trata de um contrato de longo prazo, é necessário tomar mais alguns cuidados antes da assinatura: “Todos os meses, o cliente precisará ter aquela quantia, como se fosse o aluguel de uma casa ou um apartamento. Ele tem que ver se poderá arcar com esse compromisso”.
Problemas
Segundo o Procon Estadual, em casos de dúvidas, cláusulas abusivas ou outros problemas, o cliente pode procurar os órgãos de defesa do consumidor para pedir orientação, pois tem proteção legal em qualquer relação de consumo.