Dificuldade de financiamento da saúde suplementar, somado ao aumento dos custos com o envelhecimento da população e o aparecimento de doenças crônicas devem exigir dos laboratórios um investimento maior em exames de diagnóstico precoce e de alta complexidade, no médio prazo, evidenciando assim o seu papel no planejamento do mercado de medicina privada.
“Quando olhamos para os próximos anos, entendemos que os exames sofisticados e com maior tecnologia devem continuar ganhando espaço mais rápido que os testes convencionais”, explica o diretor de relação com investidores do Grupo Hermes Pardini , Fernando Ramos.
Estes investimentos não se resume ao Pardini, a especialista em saúde da Frost & Sullivan, Rita Ragazzi, explica que o uso da tecnologia vive dois momentos importantes na área. O primeiro é para a eficiência operacional e o menor uso de recurso físico, agora a segunda etapa é o uso de inteligência artificial para a melhoria dos resultados tanto nos laboratoriais – onde deve ocorrer primeiro – quanto nos exames de imagem.
Ambas as ações são cruciais para a sustentabilidade do setor de saúde, já que ajudarão na redução de desperdícios – como a duplicação de exames – e até no planejamento do setor uma vez que conseguirão antecipar, com a medicina preventiva, a incidência de uma condição clínica específica da população. “Sendo um gatekeeper [porteiro, em inglês], eles terão um papel muito mais decisivo e participativo sem ser um peso ao plano de saúde. Isso deve acontecer nos próximos três anos”, comenta Rita.
Não é á toa que grandes laboratórios têm desenvolvido soluções em genética. De acordo com Ramos do Pardini, hoje a empresa tem relevância médica em exames de oncogenética, após a evolução da tecnologia adquirida com a compra da Progenética, em 2012.
A diretora executiva de negócios para a marca Fleury, Jeane Tsutsui, também demonstra foco na área. Entre as últimas novidades apontadas pela executiva está o teste para identificar tumor metastático de origem desconhecida em parceria com Onkos e Hospital de Câncer de Barretos. Além da plataforma digital Fleury Genômica, que possibilita compras online de exames genéticos.
Por mais que a sinistralidade aumente no curto prazo, Rita da Frost & Sullivan acredita que será um caminho importante para evitar um exacerbado aumento de custos no setor no longo prazo, com a diminuição de internações e procedimentos mais complexos, que têm um forte peso nas despesas da saúde.
Oportunidades
Tendo em vista que as empresas são os principais pagadores de planos de saúde no País, Rita destaca que também serão um potencial mercado para os laboratórios. “Eles poderão oferecer serviços de diagnóstico precoce, onde identificarão a incidência de doenças”, diz a consultora da Frost & Sullivan.
De acordo com a especialista, os exames de maior complexidade não serão apenas uma forma de crescer, mas também de competir. Segundo ela, no caso das exames de baixa complexidade, como os testes rápidos, a grande tendência é que a própria indústria crie soluções mais “simples” que possam checar direto nas clínicas. “São mercados diferentes, os laboratórios vão investir na qualidade, conectar os serviços e dar inteligência”, diz.
Crescimento
Enquanto isso, as redes mantêm paralelamente a corrida pela expansão nacional. “Serão três lojas de grande porte inauguradas no ano, sendo duas no Rio de Janeiro e uma em São Paulo, número que tende a se repetir nos próximos anos”, disse Ramos do Pardini. Em Belo Horizonte e Goiânia, a perspectiva de aumento do número de unidades é menor, dado a expansão feita entre 2013 e 2015.
O Sabin Medicina Diagnóstica, que hoje tem mais de 225 unidades, espera ao longo do ano cerca de 20 novas aberturas em todo o Brasil, de acordo com a presidente executiva do Sabin, Lídia Abdalla. “Em 2025 estaremos em 70% dos estados”, diz.
Só em janeiro, o laboratório comprou uma empresa de Florianópolis que possuia oito unidades no estado de Santa Catarina. “Devemos continuar as aquisições”, confirma. Entre as áreas que devem receber um grande investimento entre 2018 e 2019 estão genética, biologia molecular e toxicologia.
O faturamento da rede em 2017 foi de R$ 830 milhões e a projeção é de manter para 2018 e os próximos anos um crescimento médio entre 10% e 15%.
Planos de saúde
A presidente do Conselho Administrativo da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Cláudia Cohn, explica que o ano de 2017 não foi dos melhores para o setor, devido ao downgrade das carteiras e a perda de beneficiários de planos de saúde durante a crise. Mesmo assim, o setor conseguiu manter uma resiliência maior que outros segmentos. A Abramed hoje possui cerca de 20 associados, entre eles os maiores do setor.
Entre os fatores que ajudaram na demanda estão os exames advindos de quem temia perder o emprego e portanto o benefício, as novas tecnologias que surgiram no período e a demanda das consultas de clínicas populares, que ganharam espaço na crise. “O número de exames foi similar aos anos anteriores”, destaca.
De acordo com ela, o ano de 2018 ainda é de cautela, já que os planos de saúde são majoritariamente empresariais e dependem de uma retomada do emprego para voltar a crescer. Contudo a projeção de aumento de demanda de forma orgânica para o setor é alta. Entre os motivos estão o envelhecimento da população e a melhora da expectativa de vida. “Vemos também regiões do País que antes não tinham acesso, recebendo o serviço”, explica.