RIO - Um mercado alternativo aos
planos de saúde começa a crescer no país oferecendo cartões
pré-pagos e de descontos para exames, consultas e compra de
remédios. O foco são 2,7 milhões de pequenas e médias empresas, que
não são obrigadas por convenção trabalhista da categoria a oferecer
planos de saúde aos funcionários. A estimativa é que estas
companhias empreguem 30 milhões de pessoas.
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e respostas sobre os novos modelos
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de plano de saúde reclamam de falta de informação sobre
coparticipação
O exemplo mais recente de investida
neste segmento é o lançamento do Ticket Saúde, cartão digital de
benefício pré-pago, que é carregado pela empresa mensalmente para
acesso de funcionários a serviços de saúde. A Ticket, que é líder
do setor de refeição-convênio — com mais de 130 mil empresas
clientes —, lançou o serviço como alternativa para redução dos
gastos com o benefício de saúde pelas companhias.
A expansão do negócio vem na esteira
do aumento dos custos no setor e da redução de mais de três milhões
de usuários dos planos de saúde desde 2014. Hoje, um em cada quatro
brasileiros tem plano, e 80% dos contratos são empresariais.
No cartão pré-pago, o usuário pode
acompanhar o saldo e o extrato por um aplicativo. Se o crédito
acabar e ele precisar passar por um exame ou consulta, o usuário
tem de recarregar o cartão. Não há cobertura hospitalar, de
internação ou de emergência.
— O benefício-saúde é uma das grandes
preocupações das empresas pelo seu alto custo. Nos últimos anos, a
inflação dos planos subiu, e o custo do benefício passou a
representar até 12% da folha de pagamento — diz Felipe Gomes,
diretor-geral da Ticket.
Foco na pequena
empresa
Outros modelos em operação no mercado
oferecem um cartão de descontos, que mediante pagamento de
mensalidade por funcionário, promete preços menores numa rede
credenciada de médicos, clínicas e laboratórios. É o caso dos
produtos oferecidos por Doutor Já e Doutor1 2 3.
— Nosso foco são as micro e pequenas
empresas que não podem pagar plano de saúde, mas querem dar um
benefício para o colaborador — diz Gustavo Valente, fundador do
Doutor Já.
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setembro
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Sandra Dias, executiva de Comunicação
da Doutor123, está de olho no mesmo segmento:
— Essas empresas são um público
bastante promissor.
O advogado Rodrigo Araújo,
especializado em Direito da Saúde do escritório Araújo Conforti
Jonhsson, alerta, no entanto, que esse tipo de produto não tem
regulamentação pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS):
— Esses serviços não têm as mesmas
garantias dos planos de saúde. De qualquer forma, têm de atender ao
Código de Defesa do Consumidor.
Reinaldo Scheibe, presidente da
Associação Brasileira de Operadoras de Planos de Saúde (Abramge),
queixa-se que, enquanto a saúde suplementar é regulada, este
segmento alternativo, que inclui cartões pré-pagos e de descontos,
cresce praticamente sem regras.
Para Solange Mendes, presidente da
FenaSaúde, que representa as seguradoras, esses serviços colocam a
medicina na prateleira, como se estivesse no mercado.
Ana Carolina Navarrete, pesquisadora
em saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec),
avalia que os serviços podem ser úteis em situações pontuais, mas
não atendem integralmente o indivíduo. Ela destaca que a
publicidade precisa deixar claro que estes produtos não são planos
de saúde.
Entenda a
regulação
Cartões pré-pago e de desconto não são
plano de saúde, na avaliação da ANS. Não têm garantias previstas na
lei e não se submetem a regras como cobertura do rol de
procedimentos e prazos de atendimento.
Se um produto com estas
características for vendido como plano de saúde, o consumidor tem
direito a rescindir o contrato.
O Banco Central também não regula
cartões pré-pagos com fins específicos, como saúde e
alimentação