Pressionado pelo PT para criar uma marca forte no Ministério da
Saúde que lhe dê uma vitrine na disputa pelo governo paulista em
2014, o ministro Alexandre Padilha autorizou o gasto de R$ 10
milhões com uma campanha publicitária que apresenta a pasta como
fiscal dos planos de saúde, atribuição que é de uma agência
reguladora.
A peça publicitária, que estreou no último dia 5 de maio, pede
ao cidadão que ligue para o Disque 136 para denunciar
descumprimentos de prazos dos planos de saúde. A competência para
fiscalização dos planos é da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), que é o órgão com autonomia administrativa para exercer a
função e que já possuía um canal próprio para isso - um telefone
0800.
O Disque 136 informado na campanha do ministério, estrelada pelo
ator global Milton Gonçalves, é da Ouvidoria do SUS, "que ajuda a
melhorar a qualidade dos serviços públicos de saúde" - portanto,
sem relação direta com planos privados. A campanha também não
menciona a ANS, cuja razão de existir é a regulação dos planos.
A campanha sobre os planos de saúde entrou no ar antes que o
Disque 136 estivesse adequado para receber as reclamações. Segundo
relatos recebidos pelo Estado, os atendentes chegavam a orientar o
cidadão a procurar a prefeitura de sua cidade, porque o telefone
era destinado apenas a assuntos relacionados ao SUS. Somente após
três dias no ar, foi feito um redirecionamento para a central 0800
da ANS.
A entrada do ministério em um serviço de competência da ANS
levou a Assetans, associação dos servidores da agência, a organizar
um abaixo-assinado no qual pede explicações sobre o assunto à
direção do órgão. "É inadmissível que seja desconsiderado todo o
investimento realizado recentemente para qualificar o Disque ANS",
afirma o texto da associação, que considera "preocupante a forma
como o Ministério da Saúde vem interferindo na atuação da ANS".
Com o redirecionamento, o Disque 136 passou a ser um
intermediário dispensável entre a ANS e o cidadão. "Você será
redirecionado para a ANS, órgão responsável por regular e
fiscalizar os planos de saúde", diz a gravação do SUS. A mensagem
do 136 revela que o serviço do SUS não serve para atender os
planos. "Para contatos futuros sobre planos de saúde, entre em
contato diretamente com a ANS."
Bandeira.
A direção do PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
avaliam que a falta de uma bandeira seria um obstáculo para Padilha
se tornar um candidato viável. Líderes petistas alertaram o
ministro sobre a necessidade de criar uma marca. Ele, então, deu
aval para uma robusta campanha publicitária e passou também a se
expor mais, inclusive com participação em programas populares na
TV.
A campanha nacional do ministério sobre os planos de saúde faz
parte de um pacote publicitário maior, chamado É Tempo de Saúde,
que custará R$ 67 milhões aos cofres públicos e que abordará ainda
as próteses dentárias, o Farmácia Popular e a distribuição de
remédios oncológicos.
"Quem paga por um plano de saúde espera um serviço de qualidade.
Por isso, o governo federal vem implementando medidas para melhorar
o atendimento e diminuir o tempo de espera dos usuários de planos
de saúde", afirma Milton Gonçalves, no vídeo. "As operadoras devem
respeitar os novos prazos, e você pode nos ajudar a fiscalizar.
Para mais informações e denúncias, ligue 136", diz, informando o
número do SUS.
Os R$ 67 milhões que o ministério pretende gastar com as
campanhas, que estão no ar desde março, equivalem a mais de um
terço do orçamento de publicidade da pasta em 2013. As peças, entre
elas as que informam sobre o disque-denúncia contra os planos de
saúde, foram veiculadas em TV e rádio no País.
A pasta prevê gastar com publicidade neste ano os mesmos R$ 186
milhões que gastou em 2012. O valor representa aumento de 24% em
relação aos R$ 150 milhões gastos em 2011, primeiro ano da gestão
Padilha.