O plenário do Senado aprovou, na noite desta terça-feira (18), o
polêmico projeto de lei apelidado de Ato Médico. Após pouco mais de
dez anos de discussão, a proposta segue para sanção da presidente
Dilma Rousseff.
Ao regulamentar a profissão do médico, o texto colocou em lados
opostos o CFM (Conselho Federal de Medicina), que apoia a proposta,
e os conselhos de outras profissões da saúde, que veem no projeto
uma restrição à sua prática diária.
Ficam definidos como atos privativos do médico, por exemplo, o
diagnóstico da doença e a respectiva prescrição terapêutica e a
indicação e realização de cirurgias e procedimentos invasivos.
Esses procedimentos, segundo o texto, são a invasão da derme e
epiderme com uso de produtos químicos ou abrasivos; invasão da pele
que atinja o tecido subcutâneo para injeção, sucção, punção,
drenagem ou instilação; ou ainda invasão dos orifícios naturais do
corpo, atingindo órgãos internos.
Profissionais de outras áreas da saúde temem que, com essas
definições, possam ficar restritas ao médico ações como a
acupuntura, a realização do parto normal e a identificação de
sintomas de doenças corriqueiras.
Por outro lado, o projeto especifica que não são privativos do
médico os diagnósticos funcional, psicológico, nutricional e
avaliações comportamentais.
O único ponto ainda em aberto é a decisão sobre realização e a
emissão de laudo dos exames citopatológicos (como papanicolaou).
Segundo a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), uma das líderes do
debate, o texto aprovado diz que essas ações não são privativas dos
médicos. No entanto, a mesa do Senado entendeu que, de acordo com a
votação, ficou decidida a exclusividade do médico na realização
desses testes.
As medidas valem 60 dias após a lei entrar em vigor.
Para a senadora Lúcia Vânia, o projeto não relega outras profissões
da saúde a uma categoria de inferioridade em relação ao médico.
"É evidente que esse projeto não se superpõe à legislação de
quaisquer profissões da saúde regulamentadas."
O CFM sustenta que a intenção não é limitar as demais
profissões, mas afirmar a necessidade da presença do médico em
todos os locais.
O conselho argumentou, durante a tramitação, que não pode haver uma
divisão econômica e social, em que parte da população tem seus
procedimentos feitos por um médico, e outra parte, não.
Uma consequência desse projeto, segundo a entidade, é que todas
as equipes de saúde da família deverão ter médicos --o que ocorre
hoje em cerca de 50% dos casos, de acordo com o CFM.
Para o Conselho Federal de Enfermagem, o texto "mantém a
formulação de uma organização hierárquica entre os que pensam e os
que executam, a clara intenção de reserva de mercado e de garantia
de espaço de poder sobre a atuação dos outros profissionais de
saúde (...) reservando para a enfermagem a condição de subsidiária
em atividades manuais sob prescrição e supervisão médica".