Órgão do governo responsável por fiscalizar os planos de
saúde, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) leva até 12
anos para analisar processos em que operadoras de planos de saúde
são acusadas de irregularidades contra seus clientes.
Nas últimas três semanas, a Folha analisou 765 processos
julgados pela diretoria da ANS entre janeiro e fevereiro. Desses,
522 tramitavam havia cinco ou mais anos na agência.
Os outros 243 processos levaram de um a quatro anos para
conclusão. Operadoras condenadas ainda podem recorrer à Justiça
para escapar das multas que vão de R$ 5.000 a R$ 1 milhão.
A demora faz com que punições sejam canceladas e multas reduzidas
porque anos depois da abertura do processo regras foram extintas ou
alteradas.
A ANS não tem poder para determinar que a operadora respeite a
lei atendendo ao consumidor. A multa, porém, serve como prova para
o usuário recorrer à Justiça.
Há ainda casos em que a multa sugerida foi reduzida ou anulada
pela diretoria colegiada da agência, composta por indicações
políticas, sem que as explicações para tanto fossem registradas em
ata.
Em 2008, a primeira instância da ANS propôs multa de R$ 294 mil
contra a Unimed Pelotas por incluir aditivo nos contratos sem a
concordância dos usuários.
A diretoria de fiscalização se posicionou pela redução do valor
da multa para R$ 21 mil. Alegou que o cálculo que se baseia no
número de clientes da operadora estava errado.
Cinco anos depois, a diretoria da ANS mandou arquivar o
processo. Na ata da reunião da diretoria, não há explicações dos
motivos. A página da ANS na internet apenas detalha os processos
julgados nos anos de 2004 a 2009.
Queixas
Os planos de saúde lideram o ranking de reclamações dos
consumidores elaborado pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor) há 12 anos.
As queixas são as mesmas que levam anos aguardando julgamento da
ANS: negativa de cobertura, reajuste por faixa etária e anual e
descredenciamento de serviços.
Em 2005, a Fundação Geraldo Correia, que administra o hospital
São João de Deus (MG), foi acusada de recusar um cliente por ter
mais de 50 anos à época, o que é proibido por lei. Da queixa até a
aplicação de multa de R$ 10 mil passaram-se oito anos.
Um a Um
Os processos são analisados de forma individualizada pela ANS e
passam por várias instâncias.
Ou seja, se clientes de cinco empresas diferentes fizerem a
mesma queixa, serão abertos cinco processos. A agência só analisa
casos conjuntamente quando as ações são coletivas.
Dos processos julgados pela ANS neste ano, dois foram abertos há
12 anos. Em ambos os casos, a agência revogou as punições porque as
regras que a justificaram não estavam mais em vigor.
Num dos casos, a empresa sonegou informação sobre o responsável por
repassar dados dos clientes à ANS. A legislação obriga o repasse
porque as operadoras precisam ressarcir o governo caso seus
clientes usem o SUS (Sistema Único de Saúde) ocupando o lugar de
quem não têm condições de pagar um plano.