A sibutramina deve continuar no mercado. Relatório da equipe
técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
concluído nesta semana mostra que o número de efeitos adversos está
dentro do limite considerado adequado e não houve abuso da
prescrição - resultados que não justificariam a suspensão da
comercialização do produto. O documento deverá ser votado pela
diretoria colegiada da Anvisa na próxima semana.
"É pouco provável que as regras de controle sejam alteradas.
Devemos seguir o relatório", afirmou ontem o presidente da agência,
Dirceu Barbano.
Desde dezembro de 2011, a sibutramina, indicada para tratamento
de obesidade, tem regras mais rígidas para prescrição. Os efeitos
colaterais também passaram a ser acompanhados.
A mudança é reflexo de uma longa discussão, iniciada no começo
de 2011. No período, a Anvisa determinou a proibição do uso de
emagrecedores derivados de anfetamina e iniciou a análise da
sibutramina, cujo cancelamento do registro também foi cogitado.
Defensores da proibição usavam como argumento resultados de um
estudo, encomendado pela agência europeia de vigilância, que
indicava aumento de 16% no risco de enfarte entre pessoas que
tomaram o medicamento.
A Anvisa decidiu manter o produto no mercado, mas sob controle
mais rígido. Ficou determinado que a sibutramina poderia ser
vendida apenas se o paciente fosse informado pelos médicos sobre
riscos e contraindicações. Um termo de esclarecimento, assinado
pelo paciente e pelo médico, passou a ser exigido. Uma das vias tem
de ser entregue com receita médica. A validade da receita, antes
era de 60 dias, foi reduzida para um mês. Também foi determinado
que a sibutramina ficaria sob monitoramento por um ano. É esse
resultado que a Anvisa agora vai avaliar.
Barbano afirma que, entre dezembro de 2011 e dezembro de 2012, o
número de notificações de efeitos colaterais passou de 2 para 5 ao
mês. Apesar do aumento de 150%, técnicos da Anvisa avaliam ter
havido uma queda proporcional. Os números, afirma, não podem ser
considerados sem uma contextualização.
"A vigilância aumentou. Casos que antes passariam sem ser
notados agora são registrados", diz. O número de prescrições também
cresceu no período - elas passaram de 150 mil mensais para cerca de
180 mil. "Um aumento de 15%, mas que também tem de ser avaliado de
forma relativa, uma vez que as receitas agora têm validade de um
mês."
Consumo
Segundo Barbano, embora o número de prescrições tenha aumentado,
o consumo do produto teve variação pouco significativa. Algo que,
em sua avaliação, demonstra que médicos que receitavam anfetamina
não passaram automaticamente a indicar a sibutramina. "Ao que tudo
indica, essas limitações estão sendo respeitadas." Outro fator que
deve contribuir para a manutenção do remédio no mercado é que
nenhum dos efeitos adversos relatados foi considerado grave.
O monitoramento do remédio deverá ser mantido indefinidamente.
"Nada impede, no entanto, que no futuro as regras sejam mudadas",
diz Barbano.
O diretor da Anvisa afirmou que a decisão de manter a
sibutramina no mercado provocou questionamentos de agências no
exterior. "Sempre de forma respeitosa, queriam saber porque
decidimos manter o remédio."
Os dados sobre o monitoramento foram apresentados ontem, durante
audiência pública na Câmara dos Deputados. Está em análise no
Congresso um projeto para retornar a venda de emagrecedores
derivados de anfetamina no País. "Esta é uma decisão autônoma do
Congresso."
Rosana Radominski, diretora do departamento de obesidade da
Sociedade Brasileira de Endocrinologia, considerou importante "a
manutenção da sibutramina no mercado".